As florestas do Pará

Ante o infinito azul; nuvens brancas compelidas pelo vento, formando figuras efêmeras... Na hiléia. Cogumelos preso formando orelhas, plantas parasitas, vermelhas cobrindo de rubis, outras plantas preguiçosas emprestaram-se seus filamentos e brota veloz, um coelho de suas entranhas podres como uma emanação, como se o tronco morto lhe escapasse a alma... Mais adiante cada árvore se escapou de suas semelhantes... Erguem--se sobre alcatifa a selva secreta, e cada estilo diferente, como cortada com tesoura de movimentos infinitos... Um barranco á água transparente desliza sobre o granito e o áspero... Voam as mariposas e as borboletas, puras como crianças, dançando entre a água e a luz, ao meu lado as margaridas infinitas me saúdam com suas carinhas brancas... Lá das alturas como gotas arteriais da selva mágica vergam-se os ipês amarelo, roxo e o branco como a flor das nuvens... Num tremor das folhas a mansidão de uma arara atravessa o silêncio que é quebrado com o seu “craaa, craaa, craaa...”, mas o silêncio e a lei dessas árvores gigantescas... A intersecção penetrante de um pássaro escondido... O universo vegetal apenas se sussurra até que um uirapuru ponha em ação toda música terrestre.

Quem não conhece as florestas do Pará não conhece o Brasil.

Daquelas terras, daquelas montanhas com infinitos tesouros... Daquelas chuvas como fios de prata que funde ao ouro das águas barrentas daqueles rios que transbordam e invadem as florestas; levando consigo nutrientes as partes ínfimas; e, com resiliência ficam comprimidos pelas margens; completando o ciclo... Daqueles lagos com seus apé, daquele silêncio, eu sobrevoei, eu rodei, eu naveguei, eu passei, eu andei a escrever e a fotografar pelo meu imenso país.

Entre os grandes rios o flagrante, o silêncio, o emaranhado das matas e dos açaizais, das pupunheiras, dos buritis com seus frutos escamados e das bacabeiras do norte do meu Brasil. Os pés afundam na folhagem morta, um ramo quebradiço crepita, as gigantescas muiracatiárias levantam suas estaturas encrespada, um pássaro da selva quente e úmida atravessa o ar, esvoaça e se detém ás margens sombrias – e logo, do seu esconderijo soa como uma guitarra a sua ecolocalização... O aroma selvagem do cupuaçu e o aroma obscuro do cumaru me penetram pelas narinas até a alma... As castanheiras com seu tamanho descomunal intercepta meus passos... É um mundo vertical; um mundo infindável de insetos dos mais variados biota, uma nação de pássaros uma multidão de folhas... Tropeço em um toco, escarvo uma cavidade descoberta e uma aranha imensa de pêlo vermelho me fixamente imóvel grande como um caranguejo... Ao passar atravesso sobre um bosque de fetos submerso nessa terra fértil e frágil do nosso grande estado do Pará.

Dalmo Arraes
Enviado por Dalmo Arraes em 03/05/2010
Reeditado em 17/02/2014
Código do texto: T2234830
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