África além do futebol


A Copa do Mundo está aí.Torna-se quase impossível ignorá-la.Principalmente se moramos em um país onde a cultura futebolística faz parte da vida da maioria.E já que somos conhecidos como o país da bola e do carnaval, a gente acaba incorporando todo esse ritmo frenético que antecede a Copa.Durante os jogos então, o Brasil se torna a Pátria de chuteiras.

Mesmo quem nunca assistiu a um jogo acaba diante de um aparelho de televisão e se transforma em torcedor fanático.Realmente fica difícil ser do contra nessas ocasiões.A nossa brasilidade, um pouco entorpecida pelos acontecimentos políticos, a nossa autoestima ligeiramente fragilizada pelo problemas sociais, tudo passa a ser menor diante da comoção nacional numa Copa do Mundo.

Confesso que também me deixo contagiar pela onda.Mesmo sem entender de futebol, passo a acompanhar os boletins , as informações sobre os jogadores, fico quase uma expert, chegando até a escalar o meu time favorito.Mas, apesar de me deixar levar pelo ufanismo patriótico, o que mais me comove nesta edição dos jogos, passa por um outro caminho, vai muito além do que acontece nas quatro linhas.

Há muito me descobri apaixonada pela África.Há muito me vi apaixonada por um líder que não se deixou corromper pelo poder, que não vendeu a alma ao diabo, que não negou a sua história e nem fugiu à causa pela qual pautou toda a sua existência.Cheguei até a fazer uns versos em sua homenagem. Mas, mesmo se tivesse o dom pleno da poesia, nada que escrevesse estaria à altura desse nobre senhor.

E agora que novamente a África do Sul aparece para o mundo, não mais sob o nefasto e aviltante domínio do apharteid, posso entender o porquê do meu fascínio pela cultura africana.Como pode sorrir de maneira escancarada um povo que há menos de vinte anos era tratado como animais por uma minoria branca? Como ainda pode bailar, como se para isso tivesse nascido, um povo que está ainda condenado à morte pela aids e outras mazelas?E o que dizer da doçura do líder Nélson Mandela quando interpelado pelos ávidos jornalistas que , não raras vezes se emocionam diante do ícone da resistência política?

Ah, como as lideranças do mundo inteiro deveriam aprender com essa personagem ímpar da História.Quantos deveriam ao menos seguir alguns passos de quem não deixou de acreditar em seus princípios humanitários mesmo depois de quase três décadas de prisão.

O que o futebol possibilita é infinitamente maior do que a bola rolando, do que a disputa em si, do que os muitos gols que a gente almeja .É numa ocasião como essa que o país-sede se revela ao mundo.Então é possível conhecer as venturas e desventuras de um povo sofrido e leve ao mesmo tempo.É possível apreender dessa cultura o muito de nossa herança.A gente se reconhece em seu gingado, em sua calorosa recepção aos turistas.A gente se irmana em sua musicalidade, em sua alegria apesar da dor.A gente se emociona no conhecimento de nossa ancestralidade.

É. A humanidade surgiu na África.Lá teve início esse longo processo de civilização.E o bizarro é que mesmo cientificamente provado que nascemos todos de uma mesma matriz africana, o preconceito ainda existe.Faz sentido?

Então, na minha emoção, eu torço para os Bafana- bafanas.Eu torço para que essa nação se reconstrua a cada dia.Eu torço para que o seu belíssimo guru possa ainda deixar a todos mais lições (como se não bastasse todos os ensinamentos já dados) de magnanimidade.Pois o homem é lento em seu processo evolutivo.Eu torço para que a mama África se torne cada vez mais exuberante e que todos aqueles que tiveram a primazia de ter recebido sua herança ,como o Brasil, se orgulhe de sua africanidade e possa seguir dançando ao som dos atabaques e das vuvuzelas.
amarilia
Enviado por amarilia em 08/06/2010
Reeditado em 24/06/2014
Código do texto: T2306954
Classificação de conteúdo: seguro