“Não vou mais escrever”

Para nossos filhos, que adoram não ler.

Um amigo admira meus escritos. Ele também escreve, mas não quer mostrar seus textos ao grande público. Teme a crítica influentemente ao mesmo tempo destrutiva e construtiva daqueles mais exigentes que ele. Ele também sabe que têm razão os doutores da Literatura, que sabem o que até mesmo sabem crianças em fase de alfabetização: uma vírgula fora do lugar e então a musicalidade da escrita pode vir a tropeçar num contratempo, ocasionando mudança no entendimento daquilo que se quis dizer.

Por exemplo: escrever “mulher comida” expressa sentido diferente de escrever “mulher, comida”. Assim, meu amigo tem boas ideias sobre a Vida, o tempo, o amor e a morte, mas não sabe direito como expressá-las num papel. Além disso, como a maioria das pessoas, não tem humildade suficiente a aceitar o fato de que eu e outros podemos auxiliá-lo a fazer a coisa certa. Além disso, por um tanto entender o valor essencial da estética, e desprezar a formalidade dos livros, ele não escreve porque se pergunta para que escrever mais, se “tudo” já foi escrito.

Até certo ponto, ele tem razão. Além disso, a despeito da ânsia daqueles que pretendem se fazer entendidos, provado pelos grandes poetas escritores, letras, palavras e frases nada podem dizer dos aromas que eles sentem a outros que não os sentem – como não podem fazer entender o sentido daquilo que poetas poetizaram como “as dobradiças da paisagem”.

"Não vou mais escrever", me disse meu amigo, enfim.

Como ele, criacionistas sabem que “Tornar o verbo carne” é um tanto mais fácil para os criadores do que tornar a carne – ou o que sentem a partir de suas convivências com ela – em verbos.

Não mais discuto com meu amigo as razões de seu desinteresse pela produção literária. Elas logo também serão as minhas.