Sobre os problemas da igualdade na diversidade

Quando na qualidade de Chefe de Divisão de Artes, Música e Educação da Secretaria de Educação e Cultura de João Pessoa, PB (SEDEC) andava quinzenalmente envolvido em extensas reuniões de trabalho onde, junto com colegas da edilidade, recebia facilitações do Professor PHD Joel Souto Maior a um melhor entendimento sobre como estrategicamente planejar as ações da Secretaria a sistematizações conjuntas mais eficientes, à promoção de um mais organizado gerenciamento de procedimentos capazes de melhor atender a expectativas, tanto dos que fazem funcionar a Secretaria quanto dos alunos da Rede Municipal de Ensino.

Entre umas orientações e outras, sempre nos sentimos motivados a debater sobre as questões transversais que, às vezes, surgiam de forma acalorada durante as discussões administrativas que desenvolvíamos nos encontros – já que nos foi pedido para procurar manifestar nossas opiniões, mesmo que nem sempre tão diretamente pertinentes aos problemas administrativos que enfrentamos a querer solucionar.

Entre as muitas opiniões que surgiram, a expressão “igualdade” suscitou um rápido e interessante debate sobre sua existência, aparentemente paradoxal, entre a diversidade (ou a multiplicidade) de condições em que a Vida, em seu turbilhão criativo, Se nos apresenta.

A expressão “igualdade” foi lembrada na ocasião porque é uma das preferidas nos discursos do ex-Prefeito Ricardo Coutinho. Com apurado senso de justiça, ele queria (e quer) que todos, “homens”, mulheres, homossexuais, ricos, pobres, pretos, brancos etc., respeitando-se as diversidades de suas existências, possam gozar da igualdade de direitos que, segundo garantias legais, deve proporcionar a todos (e a todas) oportunidades de crescimento e aproveitamento de diversos talentos.

Mas, na ocasião, a palavra “igualdade” foi utilizada para referendar nossa condição de “iguais” sem que tenha sido devidamente contextualizada, particularmente me motivando a observar a inexistência de tal condição a fazer com que colegas de trabalho percebessem que temos de considerar as desigualdades, inerentes a cada um de nós – como a cada um dos milhares de formas da Vida, geradas a promover toda diversidade que devemos aprender a respeitar (ou, por outro lado, tolerar) nas múltiplas formas de convivências a que, às vezes, parecemos estar condenados a nos inserir.

E disse “condenados” porque, de fato, os diversos níveis de personalidades e formações culturais, participantes de constantes discussões, muitas vezes mais atrapalham do que auxiliam o desenvolvimento das ações urgentes que, não fossem os constantes ataques de democratismos dos que somente enxergam exemplos de “autoritarismo” nas mais simples determinações, avançariam nas soluções dos problemas que não queremos mais ver indefinidamente se repetirem – não apenas no âmbito dos complexos problemas da SEDEC (que se tornam mais complexos precisamente graças à diversidade de propostas mutuamente inaceitáveis a procedimentos resolutos), mas até mesmo dentro de nossas próprias casas, quando em reuniões de família.

É claro que o ideal seria que todos nós pudéssemos identificar onde, entre toda diversidade, somos iguais, e que essa convicção pudesse gerar entre nós mais comportamentos tendenciosamente igualitários. E posso aqui dar uma pista simples sobre onde somos iguais (e iguais não apenas entre os de nossa espécie, mas entre milhares de outras com as quais dividimos um momento de usufruto da Existência, sem que importem suas muitas diversas aparências), embora talvez tal exemplo não seja suficiente para justificar necessários exercícios de igualdade social entre os mais e os menos economicamente abastados. E aqui não digo entre os mais “ricos” e os mais “pobres”, já que os valores que considero ao reconhecimento de verdadeiras riquezas me apontam estar entre os pobres – pra não dizer entre os miseráveis – aqueles obcecados por mais e mais ganhos financeiros, sem que me importe os níveis de depósitos em suas contas bancárias.

Assim, a despeito de certas bem intencionadas normalidades, somos naturalmente iguais tão somente na submissão às forças vitais que nos garantem (como vão suprimir-nos) o temporário usufruto da Vida sobre este planeta. Não suportamos as desigualdades porque não suportamos que possa haver alguém melhor, naturalmente mais potente do que nós a assimilações e proposições de criativos projetos de beleza e Humanidade – se é que é isto o que também queremos realizar em nossos projetos de vida.

Quem é ou poderá ser tal pessoa? De onde veio? De que família de brancos ou negros? De que lado da Terra (ou do céu) a nos dizer o que, como devemos fazer as coisas e a que exatamente, inequivocamente, necessariamente, tudo deve se destinar?

Em suas sugestões, ele (ou ela) deverá propor o melhoramento das formas de existir, particularmente aquelas que objetivam certo “Ser” cuja ética pode nos fazer transcender conflitos promovidos por questões de gênero, por exemplo. A considerar os poderes da Imaginação, talvez aquele “Deus” a que ou quem temos reconhecido “Ele”, seja apenas um signo, construído sob jurisdição patriarcal e pelo domínio de certas artes, cujos conhecimentos da "Ciência Sobre Como Fazer Certas Coisas" nos possa mesmo fazer construir o homem completo – cuja inclinação machista é conseqüência de que a idealização de uma "Deusa absoluta" talvez suscitasse apenas cômicas discussões estéreis sobre a virgindade de Maria numa aula de Ensino Religioso.

E por falar nisto, os profissionais do Ensino Religioso, em suas várias séries de atuações, devem considerar a importância das artes no processo de construção das apresentações e representações do divino, do Sagrado, ou Daquilo, Daquele ou Daquela que consideraram manifestações de “deuses” – ou de um “Deus” – nas diversas culturas espalhadas ao redor do mundo. Tal atitude, como pensam muitos, certamente não promoverá um esvaziamento do sentido do Ser no mundo, mas substancial possibilidade de demonstrar a multidão de formas com que o Tal tem Se manifestado nos mais diferentes tempos e lugares da Terra.

Depois de toda uma longa história das artes, o “neo-sacro” no abstracionismo (particularmente na Pintura e na Música, embora talvez não tenha sido assim considerado), para além de qualquer conceituação, quer nos dizer sobre as possibilidades de manifestação do Todo a partir das bases de Seu caótico potencial harmônico. Nenhum estilo pictórico foi além do abstracionismo e sua capacidade de nos mostrar as possibilidades de formatações daquilo que, exercitando nosso potencial criativo e as técnicas que então desenvolvemos, podemos tornar real.

A força da Criação explodiu e explode à plena realização da Vida em nós. Como Seus semelhantes inevitavelmente criativos, “homens” e mulheres são regidos pelo mesmo impulso primeiro às manipulações dos materiais que aspectos ainda secretos da Natureza nos legaram. Com o conhecimento ampliado por experimentações em muitos passados violentamente inevitáveis, nos convém agora ajudar à geração de um mundo onde não seja preciso incluir as resoluções de um Hitler sobre como identificar ou, por outro lado, produzir a Beleza.

Com ajuda do que nos faz enxergar as artes, convém continuar a promover o sentir a sabermos sobre como encontrar a Beleza no mundo, mesmo onde ela pareça não estar, a evitar a realização do mal, inevitavelmente uma expressão do horrível. E não devemos nos deixar enganar pelas possibilidades que determinadas más inclusões podem nos fazer considerar. É preciso identificar o mal, porque muitos são os que querem nos confundir, desde o fim de certos tempos, a nos tentar convencer como “é mentiroso o maniqueísmo em sua pré-potencia autoritária determinista”.

O fato, porém – concordarão homens e mulheres de boa vontade em todas as épocas – é que será preciso que nossa Educação (e todo nosso potencial artístico) seja capaz de nos favorecer distinções profundas entre o mal (ou o inequivocamente feio), e o Bem (ou o incontestável e diversamente Belo) em auxílios conjuntos a geração de suas melhores inclusivas oportunidades de Ser entre nós.