Coca-cola, Miojo e Bulimia

As mulheres modernas estão aí, por todos os lados. Estudando, trabalhando, expandindo suas fronteiras e conquistando cada vez mais o seu espaço. E isso é bom. Verdade! Entretanto, (agora vem...) isso tem feito com que elas, as mulheres, fiquem longe da cozinha e profundamente avessas aos trabalhos domésticos (fruto de milhares de anos em submissão serviçal). Tudo bem, não estou dizendo que uma mulher, só pelo fato de ser do sexo feminino, tenha que ser a empregada da casa. Só que a gente acaba trombando com um número crescente de mocinhas que, simplesmente, não fazem a menor ideia de como se estrela um ovo, ou se refoga um arroz, ou até mesmo desconhecem a arte de se fritar um bife. O mais irônico é que elas são consumidoras ávidas dessas iguarias. Mesmo que seja por instinto, afinal precisamos viver ou, para outros, sobreviver.

A parte terrível dessa história é que todas as garotas que lerem isso vão dizer: “mas, eu estudo e trabalho é para pagar uma alguém que faça tudo isso por mim ou, se não tiver ninguém eu peço pelo telefone”. Ok! A sua tese tem um certo teor de verdade. Mas, não se esqueça de que quando sabemos fazer, podemos exigir o melhor. Para piorar, quando fazem tudo por nós, num determinado nível, acabamos nos tornando dependentes desse sistema de conveniências. O dia em que a empregada faltar, ou a lojinha da esquina que entrega de tudo (inclusive gelo) estiver fechada, você vai ter que trocar o pijama e procurar um supermercado 24h.

Esse movimento crescente de rebeldes contra a cozinha não arrebanha apenas as meninas futuristas. Tem muito marmanjo aí que vem no vácuo delas. Um montão de sujeitos incapazes de fazer o próprio sanduíche. Desprovidos da ciência de se cozinhar um lindo pratinho de Miojo. São essas mentes brilhantes que até frequentam bancos de respeitáveis universidades espalhadas pelo país. Morrem de fome se não dermos na mãozinha deles. Matam a fome até com doses cavalares de coca-cola.

Então. Não acho que as pessoas precisam ser chefes de cozinha. Apenas defendo a utópica chance que podemos nos dar de saber, entender, dominar uma arte, coisa tranquila que é a culinária, pelo menos para auto-sustento. Saber o básico não mata ninguém. Agora, comer congelados, enlatados, lanchinhos e pacotinhos cheios de conservantes, podem até não te matar, mas que diminuem a sua vida útil, isso sim, qualquer cientista fã de MacDonald’s não me deixaria “mentir” sozinho.

Já são raras as pessoas que podemos chamar de exímias cozinheiras. Raríssimas as pessoas que convidam seus amigos para irem jantar ou almoçar em suas casas e, pessoalmente, enfrentam o fogão. No máximo, a rapaziada prefere chamar a “mina” para ir tomar um lanche na carrocinha de cachorro quente ou comer uma pizza. Sobre as garotas, serve a mesma situação. Por não serem estimuladas em casa pelas mães, que são mulheres modernas e co-fundadoras desse moderno mundo, sabem tudo sobre como fazer a refeição mais rápida do mundo. Afinal, ninguém mais tem tempo sobrando e estão todos sempre com pressa para resolver alguma coisa. O negócio é matar a fome. Não importa como. Mesmo que seja só com água ou refrigerante (Diet, por favor!), diriam as bulímicas.

A nova geração está sendo treinada num mundo no qual não valorizamos preparar alimentos frescos. Compramos tudo pronto, tudo mesmo, até o frango assado. À medida que se exige mais de nós, menos podemos fazer por nós mesmos. Comemos de qualquer jeito, por mera falta de tempo. E, esse evento, ajuda a nos tornar alienados sobre quais alimentos são ideais para a nossa saúde. Mais que isso, desaprendemos a escolher uma simples fruta na gôndola do supermercado, nem mesmo curtimos o ritual de saborear, calmamente, uma refeição, sentados à mesa, acompanhados de quem gostamos e filosofando sobre as coisas boas da vida. Essas que custam barato, mas dão um trabalho danado para serem conquistadas, pois exigem tempo e paciência, artigos raros e em vias de extinção nesse mundo.

Os exímios cozinheiros são figuras que usei para representar todos os “exímios qualquer coisa” da vida. Estamos deixando de fazer bem feito tudo o que consideramos bom, para sair correndo atrás do vento, numa insana pressa para chegar a lugar nenhum. Se o que valorizo coloca de lado as pessoas que amo, nada do que faço vale à pena. Deixamos de ser exímios para nos eximir da responsabilidade mais essencial do ser humano: ir mais devagar para que possamos ir juntos, e curtir a paisagem que passa pela janela da vida. Utópico? Sim! Mas, essencial.

William Barter
Enviado por William Barter em 17/11/2010
Código do texto: T2621383
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