Cromossomos e Como Deveríamos Ser

Disputa é a palavra que carrega no DNA, ou seja, na própria essência de seu significado a capacidade de refletir o sentido da existência humana. Lá, naquele quartinho apertado e molhado que chamamos de útero, por exemplo, onde passamos, em média, de sete a nove meses (para os mais sortudos) antes de nascer, já começam as primeiras lições de disputa. Competimos com o escasso espaço (piorando se você tiver um irmão gêmeo), com um ambiente inóspito (já que não somos animais aquáticos) e até com a nossa própria mãe na divisão de nutrientes (irônico isso). Bem, um bebê esperto certamente vai querer ver a luz e a cara do médico no dia do parto, são e salvo, até aceitando de bom grado aquela “palmadinha” boba no traseiro. Tudo pela vida!

Esse Sapato é Meu

Viver no mundo real pressupõe disputas o tempo todo. Seja por um prato de comida ou uma vaga no estacionamento; seja por um trabalho ou por mera auto-afirmação; seja por um copo d’água ou aquele sapato maravilhoso na promoção que a outra garota acabou de pegar o último. Não importa, a disputa sempre nos acompanhará bem de perto, por onde quer que os nossos passos nos levem. Mas, se a disputa está escrita entre os registros de nossos cromossomos, de alguma forma, fico pensando comigo mesmo se sempre seremos desse jeito, amantes da comparação, da incessante busca de poder, do querer estar na frente de todo mundo, porque isso faz um bem para o nosso ego. Ou seja, a disputa faz o sistema funcionar.

A Culpa é do Juiz

Religião, política e futebol, só para citar três excelentes exemplos de embates. Céu e inferno de um lado, democratas e republicanos de outro, e os famosos rivais flamenguistas e vascaínos na saída do maracanã, e salve-se quem puder. A propaganda não fica para trás. Os publicitários gastam todo o seu tempo inventando novas formas de nos motivar para o confronto. Tem aquele carrão 2.0 ultrapassando o “vacilão” que comprou o popular 1.0 na hora de subir uma ladeira, ou aquele outro que bebe a cervejinha vagabunda e é um “Mané” diante do bonitão que degusta a sua elitizada bebida ao lado da modelo “popozuda”. Então, vivemos num mundo que cultua e usa a disputa para manter a máquina social funcionando.

À Espera de Um Milagre

Gosto de pensar na possibilidade, quem sabe, um dia até pode acontecer esse milagre, surgirão pessoas com a coragem de não se contentar em apenas estar na frente. Depois de alcançar o primeiro lugar não se deterá em cima de um pódio, pois acreditam que ainda existe muito mais a ser feito. Crêem que a experiência da corrida é mais importante do que chegar na ponta. Esse tipo de consciência compreende o processo da disputa, mas o deixa fluir naturalmente como combustível que permite gastar tal energia em busca de soluções práticas para problemas reais que as pessoas enfrentam. Essa postura fará ser vergonhoso querer ser o primeiro sem que algo realmente justo e profundamente humano tenha sido feito de um ser para outro ser, com o simples objetivo de torná-lo um pouco melhor do que é, e, mais que isso, inspirá-lo a multiplicar isso adiante, conectando pessoas e movendo o mundo numa velocidade diferente, nem maior, nem menor, apenas diferente.

William Barter
Enviado por William Barter em 17/11/2010
Código do texto: T2621390
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