SÃO JOSÉ DE RIBAMAR – O PADROEIRO DO MARANHÃO

O padroeiro do Maranhão I

O Maranhão é o segundo Estado mais católico do Brasil, com uma população de 84% dos católicos, só perdendo para Estado do Piauí que conta com 87% da sua população de católicos. Assim sendo, é uma honra todos os anos festejarmos são Jose de Ribamar, o santo mais popular do Maranhão.

Em meios a repetidas histórias, lendas e segredos que contam as origens das festividades de São José de Ribamar e, sobretudo, através das experiências da fé de portugueses e índios que se solidificaram socialmente no decorrer da história do Maranhão como a maior manifestação religiosa já registrada.

O magnífico historiador César Marques narra detalhadamente o mito da origem da festa do santo padroeiro, no qual “outrora um navio português, demandava o nosso porto, desviando-se na barra, fora ter à baía de São José, que quando a tripulação assustada o viu em perigo houve uma voz, que cheia de fé invocou a proteção de são José, e imediatamente uma onda livrou o navio dos terríveis baixios, que ai se encontrava” (1970, p.583).

Impressionante que a experiência de fé ficou marcada naquela tripulação e não foi esquecida. Prova disso, foi que depois de vários anos regressou o capitão daquele navio trazendo “a mais perfeita obra estatuária religiosa já vista na época” e para a alegria daquele povoado formado de índios gamelas e pequenas humildes famílias, que o zeloso português “levantou em frente à baía, onde se deu o milagre, uma modesta ermida e nela colocou-se a imagem”.

Além disso, os habitantes daquele pequeno lugarejo, com intuito de possuírem a tão linda imagem, a removiam durante a calada da noite para o centro do povoado. Mas “o santo era teimoso e gostava do lugar onde o coloram pelas mãos crentes do capitão luso, assim antes do amanhecer o santo sempre ia se acomodar na pequena ermida construída sobre o mar”. História como essa faz parte das “veias de todos os peregrinos e romeiros” que contam e recontam ao longo das gerações a extraordinária lenda de São José, e quem é ribamarense sabe o segredo e a grandeza de serem chamados filhos de São José, pois crescem ouvindo as mais belas histórias.

Teologicamente, sabemos que toda essa cultura religiosa voltada para São José faz parte da religiosidade popular da qual nasceram vários santos vistos como “santos marginais”, pois não eram reconhecidos pela corte romana. Já que suas festas não fazem parte do calendário da liturgia oficial da Igreja. Assim sendo, que a participação dos europeus nesta evangelização era imprescindível na medida em que o processo de romanização da colônia portuguesa era um dos principais critérios para imposição da ocidentalização das colônias. É nessa perspectiva que o historiador Eduardo Hoornaert, em relação à colonização portuguesa, no século XVI sintetizava que “a história de Portugal é historia de salvação, é historia sagrada. As caravelas portuguesas são de Deus e nelas vão junto os missionários e os saldados” (1981, p.65).

Na historiografia maranhense, sabemos que o território da qual originou o povoado de São José foi uma das primeiras terras possuídas pela Companhia de Jesus.

Antes da expulsão dos jesuítas do Maranhão, em 1759, o padre José de Morais afirmava que a vila de São José de Ribamar estava acima das 27 grandes e populosas aldeias, pois devido à peregrinação dos romeiros aquela vila tinha uma característica sui generis em vista que conservavam em seu seio algumas preciosas relíquias. Além de haver uma forte catequização na qual se afirmavam os jesuítas terem ganhado 12.000 mil almas para o Senhor.

Portanto, paulatinamente o pequeno lugarejo vai se alastrando devido “as experiências de fé e devoção e milagres” dando abertura para a formação daquilo que viria a ser no futuro o Santuário de maior manifestação religiosa do Maranhão.

O padroeiro do Maranhão (II)

O documento do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes afirma (p.11) que “o santuário é, antes de tudo, lugar da memória da ação poderosa de Deus na história, que está na origem do povo da aliança e da fé de cada um dos crentes”. Nessa perspectiva, que também se deu a formação e evolução do santuário de São José de Ribamar.

Devido à nebulosidade dos tempos, não sabemos historicamente quando se deu a construção da primeira ermida de São José (ficou na memória do povo que São José queria apenas uma capela cuja frente da mesma estivesse para o mar). Sabe-se que, a partir de 1755, aquela pequena vila foi oficializada com o nome do santo conforme a álvora da força da lei do governador Gonçalo Pereira Lobato e Sousa junto às forças eclesiais do padre José Vallez Vidigal.

Até o começo do século XIX, a pequena capela passou por momentos bastante felizes, existia toda uma estrutura solidificada a partir do processo de catequização voltada para a doutrina, isto é ratio studiorum, mesmo com a expulsão dos jesuítas, as manifestações devocionais traziam fortes regalias àquela tão humilde e pequena capela da qual “vasos e adornos de ouros e prata, oferecidos pelos fiéis que aí iam em devota romaria”. Lamentavelmente, o historiador César Marques expressa que “tudo isso desapareceu por ocasião da balaiada em 1839”.

Em tempos de crise a fé supera todas as barreiras, foi assim que na segunda metade do século XIX, procurou-se buscar recursos no intuito de ampliar a pequenina capela de São José. Em vista disso, aos poucos a humilde vila ia se modernizando ao redor da ermida. Segundo o padre Dionizio Algarvio, em 1896, existiam cercas de 19 casas de telhas e muitas de palhas junto à casa dos romeiros que era chamada pelo povão de “casa grande”.

Nesse sentido, na virada do século XIX, os moradores, devido alguns problemas de infra-estrutura em relação à água e à saúde, resolveram remover o antigo cemitério, de origem indígena, que era situado ao lado direito da ermida, no coração do povoado, para edificar outro fora do povoado mais ou menos cem metros de distância do lugarejo.

Durante essa época, segundo Américo Azevedo, o Cônego Antônio Candido de Alvarenga nomeou uma comissão com o objetivo de construir uma capela maior e mais aconchegante aos romeiros e devotos do santo. Quem coordenava essa comissão era o senhor Carlos Ferreira Coelho que almejou colocar os planos de uma nova ermida da qual a planta primitiva foi desenhada pelo ilustre professor Luiz Gry. Se tal projeto viesse ser contemplado, a igreja de São José seria de estilo gótico clássico e “possivelmente seria uma das mais belas obras arquitetônicas do Brasil e do mundo”.

Infelizmente pouco tempo durou o trabalho, pois com a substituição da presidência da comissão do senhor Carlos Coelho pelo Monsenhor João Tolentino de Guedelha Mourão os projetos não foram realizados, pois o mesmo abandonou o projeto só fazendo uma reconstrução ampliada da ermida que foi iniciada, em 29 de setembro de 1897 e terminada em 25 de setembro do ano seguinte.

Sendo assim, na estimativa do padre Dionizio Algarvio, em 1903 já eram mais de 35 casas de telhas e algumas centenas de casas de palhas, esses números duplicaram em 1921. E assim, se constituiu a gênese da cidade ao redor do santuário de São José de Ribamar.

No começo da segunda metade do século XX, com a explosão do Concilio Vaticano II, exigiu-se uma nova evangelização voltada para a cultura dos povos. Isso nos remete a São Justino que afirmava no começo da era cristã que “a semente do evangelho já esta presente nas raízes de todas as culturas”.

Sendo fiel a tal perspectiva, o Sumo-pontífice Paulo VI afirmava na encíclica Evangelii Nuntiandi de 1976, que todos os povos já têm as sementes do evangelho. Em vista disso, São José de Ribamar, São Raimundo dos Moluduns e outros santos de origem popular, chamados de marginais, são considerados como as grandes sementeiras da evangelização no terceiro mundo, falta só ser cultivada e resguardada pela Igreja Católica que é a guardiã do deposito fidei.

A pretensão da construção da Basílica de São José, no final do século passado favoreceu um ambiente para uma melhor acolhida de todos os romeiros e devotos, como dizia o saudoso Papa João Paulo II: “o santuário deve ser aberto a todos e em particular à multidão de pessoas que, na solidão de um mundo secularizado e dessacralizado, percebem no mais íntimo do seu coração a nostalgia e o fascínio da santidade”.

O padroeiro do Maranhão (III)

Com o advento da modernidade, viu-se florescer a efusão acelerada dos meios de comunicação e o pacato lugarejo de São José de Ribamar se transformou numa belíssima cidade, da qual recebia gente de todos os rincões do Maranhão.

Além de ser visitada, por pessoas de todos os lugares mundo, visto que as romarias e devoções cada vez mais se estendiam levando assim os próprios devotos a reconhecerem a igreja de São José como o maior e mais popular santuário do Maranhão; sendo emancipada a cidade durante os anos 50, a categoria de Município. Nessa época, houve um grande conflito entre a Arquidiocese de São Luis e os devotos devido à reforma da imagem de São José. Mas, dom Delgado resolveu tal dilema religioso.

Nesta terceira cessão, estudaremos os valores evangélicos pela qual a religiosidade popular enfrenta em relação ao “espírito do tempo”, pois com o surgimento da modernidade “as relíquias não passam de ossos, e as hóstias nada menos que pão”. Assim, afirmava Habermas – filósofo contemporâneo em relação à crise religiosa. Apesar disso, o fenômeno das promessas ao padroeiro são consideradas hierofanias extraordinárias que surpreendem o secularismo, principalmente a tradição da anatomia da cera – das peças de ceras (simbolizam parte do corpo humano que esta enferma) dadas a São José. Através dessas tradições os fiéis reforçam sua confiança e fé no santo visto como “ grande milagreiro”.

Além do mais, estamos numa profunda mudança de épocas, devemos acreditar na persistência da cultura religiosa popular para atingir uma evangelização mais inculturada, que seja eficiente e eficaz. É compromisso de toda a Igreja nesse começo de milênio repensar a evangelização voltada para religiosidade popular, pois essa matriz é a única que sustenta o catolicismo no Brasil e, sobretudo no Maranhão, pois se colocarmos no crivo a evangelização da Igreja do Maranhão sobraria apenas uma pastoral arcaica rudimentar voltada para os sacramentos. Essa preocupação já era denunciada pela missionária leiga médica e teóloga Beatrice Bom em um artigo intitulado “A igreja do Maranhão na UTI” publicado no final dos anos 90.

Ademais, é bem explicito que em nossas paróquias que o “ponto ômega” das festas litúrgicas não é a Páscoa de nosso Senhor Jesus Cristo, mas os festejos de variados padroeiros(as) espalhados por enumeras comunidades.

Nesse sentido, está na hora de cultivamos nossas sementeiras do evangelho, pois a primeira evangelização não passou de um processo de ocidentalização que devastou diversas culturas, principalmente as indígenas. Isso é exemplificado na gênese da cultura religiosa a São José de Ribamar, na qual os índios gamelas estavam presentes, mas não lhe deram oportunidade de ficarem com suas terras, como também não se procurou inculturar de nenhuma forma o evangelho em seus costumes e em vista disso aos poucos foram se extinguido.

A V Conferência do Episcopado Latino Americano em Aparecida-SP, em maio de 2007, procurou revitalizar a evangelização voltada para a religiosidade popular, buscando um sentido voltado para a missionariedade dos santuários. O santuário que era local até então do romeiro e do devoto, com o projeto de Aparecida passou a ser em primeiro lugar o local do missionário. Sabemos que “o santuário para qual o cristão se dirige deve torna-se por excelência ‘a tenda do encontro’, como a Bíblia chama de tabernáculo da aliança”. O Código de Direito Canônico, ratifica tal perspectiva no seu cânon 1230.

A problemática está em como transformar os milhares de peregrinos em missionários da nova evangelização. Cabe à Igreja procurar critérios que possam servir de base para a missionariedade. A grande dificuldade também é planejar e executar um plano de formação permanente que vise superar os obstáculos dos novos tempos.

Em relação a São José, na teologia moderna ele é visto como o “santo do silêncio”, pois nos evangelhos o mesmo apenas realizar a vontade do Pai. O evangelista Mateus coloca José como “sendo justo” (Mt 1,19), já que era fiel às prescrições judaicas, mas mesmo assim, rompe com a justiça da época ao não denunciar Maria que deveria ser publicamente apedrejada segundo a lei, entretanto resolveu deixá-la em segredo.

Na atualidade quem faz uma significativa releitura teológica sobre São José é o teólogo brasileiro Leonardo Boff em seu livro “José a personificação do Pai”. Teologicamente falando, José se colocou como “sombra do Pai” e nos dias atuais seu silêncio tornou-se causa de incômodo tanto para a “sociedade do vazio” como para toda Igreja que cada vez mais foge do seu papel de ser sacramento dos povos.

Que São JOSÉ DE RIBAMAR interceda hoje e sempre por todos nós! Amem!

ESSES TRÊS ARTIGOS FORAM PUBLICADOS DURANTE O FESTEJO DE SAO JOSÉ DE RIBAMAR EM SETEMBRO DE 2008 PELO JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO.

DEDICO ESSES ARTIGOS AO REVERENDO PADRE BRAULIO AYRES QUE CONTRIBUI MAIS DE 12 (1998 -2009) ANOS PARA QUE A RELIGIOSIDADE DE SÃO JOSÉ DE RIBAMAR SE TORNASSE UNIVERSAL!

Marcio dos Santos Rabelo
Enviado por Marcio dos Santos Rabelo em 14/06/2011
Código do texto: T3035219
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