A Verdade na Era Digital

Vivemos a era da comunicação digital. Uma verdadeira revolução. Estamos deixando para trás o papel, o rádio e a TV como veículos soberanos na área da informação.

Não há como resistir, mas é preciso haver igual revolução na nossa adaptação aos novos recursos, principalmente quanto aos controles para que não saiam dos seus limites, em especial os éticos e morais.

Graças à quantidade de informações geradas, aliada à velocidade com que são veiculadas, sem o devido cuidado dos órgãos reguladores, a mídia digital está sujeita a uma enorme quantia de material de baixa qualidade, suspeito, perigoso ou imprestável: um verdadeiro lixo moral.

Quais os riscos que corremos?

A Igreja sempre se preocupou com as comunicações sociais, e agora muito mais, graças aos fenômenos Internet e celular. Sempre atento às realidades humanas, o papa Bento XVI, em um recente pronunciamento para o 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais manifesta sua preocupação quanto à Verdade, ao anúncio e à autenticidade de vida na era digital: “vai-se tornando cada vez mais comum a convicção de que, tal como a revolução industrial, [...] também hoje a profunda transformação operada no campo das comunicações guia o fluxo de grandes mudanças culturais e sociais. As novas tecnologias estão a mudar não só o modo de comunicar, mas a própria comunicação em si mesma, podendo-se afirmar que estamos perante uma ampla transformação cultural.” Afirma ainda: “como qualquer outro fruto do engenho humano, as novas tecnologias da comunicação pedem para ser postas ao serviço do bem integral da pessoa e da humanidade inteira. Usadas sabiamente, podem contribuir para satisfazer o desejo de sentido, verdade e unidade que permanece a aspiração mais profunda do ser humano”.

Nunca podemos esquecer o compromisso dos meios de comunicação não só como divulgadores mas, sobretudo, como formadores de opinião, devendo-se pautar exclusivamente na Verdade e na autenticidade o que, infelizmente, nem sempre se verifica, o que compromete e torna suspeito o conteúdo veiculado. Perdem-se os parâmetros, necessários para julgar, isto é, formar juízo seguro sobre o que defender, o que seguir. Como separar “o joio do trigo”?

À respeito, numa entrevista concedida à ZENIT (01/02/2011), Guillaume Anselin, especialista em comunicação, afirma: “A era digital é uma sociedade de "tudo-comunicação", permanentemente conectada, que redefine a relação individual com o mundo, com os outros e a maneira de consumir ou produzir informação. [...] O perigo é, obviamente, uma visão distorcida da realidade.”

Preocupa-nos o perigo que isso representa para as crianças, adolescentes e, como se refere o Papa, sobretudo para os jovens que “estão a viver esta mudança da comunicação, com todas as ansiedades, as contradições e a criatividade própria de quantos se abrem com entusiasmo e curiosidade às novas experiências da vida”.

Como resistir ao fascínio da internet, um “mundo livre” onde se podem construir identidades, falar sobre o que quiser e com quem quiser, mostrar-se ou esconder-se...?

Como escapar ao perigo da criação de duas identidades, uma digital e outra real, assim como duas vidas paralelas?

É um grande desafio para a Igreja: não podemos ter medo dos modernos meios de comunicação, mas é preciso o uso correto deles como instrumentos de evangelização. Somos chamados a anunciar também ali a nossa fé no Salvador do homem e da história, a anunciar o Evangelho e favorecer o encontro pessoal com Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. É nossa responsabilidade a cristianização da mídia; só assim ela será um meio seguro de cultivo da consciência intelectual e espiritual.