São Ls Ilha do Maranhão a caminho dos 400 anos

SÃO LUIS ILHA DO MARANHÃO A CAMINHO DOS 400 ANOS

Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo

As cidades são múltiplas, e isso aparece em Calvino como "cristal e chama". O traçado da cidade moderna tenderia para o cristal uma vez que é o lado racional e ideal. Já a presença do homem, com suas experiências próprias e inter-relacionadas, a transforma em chama. Na cidade e no homem, o cristal não vive sem a chama. É a duplicidade da descrição, da vida e da percepção humana.

Terras sem males para os tupinambás, eldorado de piratas e colonos, acrópole de escritores e literatos, reino vodum para os africanos, São Luís do Maranhão terras das palmeiras, ilha do amor, cidade maranhense do reggae, Atenas brasileira, Manchester maranhense, geograficamente uma ilha e como tal, um paraíso nas cartas de seus primeiros colonizadores, moldada a luz e imaginação de seus conquistadores, ou seriam colonizadores, o certo é que a cidade do Maranhão revela em cada detalhe o desejo dos homens que a encontraram, descobriram, conquistaram e consequentemente por ela – a ilha encantada, foram conquistados.

Cidade construída sob os auspícios de uma arquitetura da época, planejada para os fins da Monarquia e da Igreja, casarões, mirantes, igrejas e fontes, misticismo da serpente encantada, das praias e manguezais, aproximando a arte barroca e o misticismo de uma época, depois foi se modernizando a luz dos ideais republicanos passando de uma fase colonial para uma fase moderna, veloz, fabril, ruas, avenidas, pontes e viadutos, na verdade hoje temos várias cidades, parodiando Italo Calvino, o visitante escolhe por onde adentrar e seguidamente verá uma cidade encontrada: antiga, medieval, moderna ou contemporânea, assim é São Luís, a cidade do passado, do presente e do futuro.

São Luís é uma cidade que aconchega e ao mesmo tempo dispersa, visto sua proximidade com o continente, ela permite que seus habitantes convivam com a diáspora em direção ao mesmo, se em tempos distantes conquistou índios e europeus, agora tem que conquistar dia-a-dia os filhos da terra para que aqui permaneçam e a cultivem como senhora dos mares.

Resultado de diversas tentativas de ocupação São Luís pode ser vista como espanhola, francesa, portuguesa, árabe, africana, indígena, enfim é uma cidade de vários saberes, falares, colores, mas é a minha cidade, a nossa cidade berço de poetas, trovadores, contadores de historias, magistrados, e políticos brilhantes, por isso talvez seja mais fácil visualizar algo através da escrita do que através de um desenho.

Como nos aponta Calvino (2006), alguns textos excepcionalmente bem redigidos possuem essa capacidade de relata o inusitado, mesmo sobre as mais brilhantes pinturas, pois as suas descrições são mais vagas e sugestivas do que as linhas precisas de um desenho. Porque estimula a imaginação e o sonho, a leitura é tão necessária ao desenvolvimento do individuo que sem ela nos barbarizamos.

Marco Polo, o viajante e narrador do livro de Calvino, aparece na obra como um turista comum e serve como elo entre as várias cidades. É ele quem experimenta ambientes ora amigáveis ora hostis das cidades imaginadas por Calvino. Quase podemos sentir ao ler suas páginas, as suas emoções. Em cada cidade há uma cena com uma história independente e um ambiente próprio. Como nas gravuras e iluminuras medievais e renascentistas, que representa ambientes imaginários embora vagamente reais.

Os ambientes citadinos encontram-se polvilhados de elementos enigmáticos e quase mágicos que transmitem um mistério e uma poética enormes - estranheza, exotismo, diferenças culturais... Um videogame intemporal entre passado e futuro, é assim São Luís, dependendo do lugar onde o turista se encontra ele terá uma cidade diferente, seja um litoral cativante e ensolarado, seja um centro histórico quatrocentão e saudosista, seja uma beira-mar de sol causticante ou ruas, ruelas, becos, escadarias, ladeiras e sobrados, solares e moradas, meia-moradas sempre estamos em São Luis, cantada por Gonçalves Dias no Largo dos Amores como a Terra das Palmeiras, onde cantam os sabias.

A interpretação de algumas cidades abre um leque de possibilidades...tantas em números quanto os galhos de uma grande árvore, mesmo sendo daqueles galhos mais curtos, ou aqueles que por crescerem demasiadamente e que por isso pendem ao solo, fazendo com que formigas subam até a copa e se alimentem das flores mais altas, e colonizem o tronco aonde ele abre uma fissura, que fora causada por um evento natural quando a arvore tinha apenas poucas décadas de vida, em tempos já a muito idos(Nora Sturges, 2011).

É dessa forma que vejo a nossa cidade do Maranhão – São Luís, quando de seu aniversario, e é por esse motivo que escolhi homenageá-la através desses escritos, nesse 28 de julho de 2011, dia em que também é comemorado o dia da Adesão do Maranhão a Independência do Brasil, data que em si não diz muito, embora de forma simbólica represente um acontecimento povoado de historias de tempos idos, onde a bravura de um povo contribuiu para reforçar um ideal de liberdade.

Referencias

CALVINO, Ítalo. Cidades Invisíveis. Cia das Letras, 2000.

http://obviousmag.org/archives/2009/01/italo_calvino_nora_sturges.html#ixzz1T2OdCOXd, capturado em 12 de julho de 2011.

São Luís, Ilha do Maranhão. Guia de Arquitetura e Paisagem. São Luís/Sevilha, 2008.

Tete
Enviado por Tete em 02/08/2011
Código do texto: T3135838