SOMBRAS E SILÊNCIO
Eu me perco no barulho e na azáfama da cidade grande, onde todos são prisioneiros do relógio, dos infindáveis compromissos, no vai e vem das pessoas e dos carros.
Nesse ambiente eu me sinto perdido, mas também protegido,
da tua lembrança que deveria me trazer alegria, mas isso não acontece, e por que não?
Como ficar feliz quando a pessoa que dava sentido à vida desapareceu nas sombras da morte? De que forma voltar a sorrir, se o essencial foi afogado por um vazio que corta como navalha na carne?
O sombrio me esconde e me abraça, e na sombra eu te vislumbro,
te sinto, longe e perto de mim. Na madrugada eu te vejo, porque nessa
hora eu faço do silêncio a minha lanterna, para te enxergar.
Eu te vejo com aquilo que sinto, com a saudade que me asfixia,
me deixando angustiado, cortado por lâminas, as navalhas do Plínio.
Sem ti eu caminho, sem perceber o que está bem na minha frente, mas
enxergando a tua imagem. No silêncio do quarto, no emudecer da noite,
na minha meditação, tu estás longe e perto. Como poderia ser diferente?
Nesse escuro eu te vejo, pois a luz do dia te esconde, misturada
ao barulho da humanidade. No meu meditar eu tento te alcançar, mas
a realidade te leva para longe, e aí eu fico somente com as lembranças.
Essas são bálsamo, e lâminas que cortam, sem cicatrizar.
No entanto, não tento me livrar da dor. Essa faz parte da minha
situação. Eu a abraço, encaro nos olhos, e não faço perguntas sem
respostas. Apenas tento lidar com esse aperto na garganta, essa
lágrima quase caindo, essa vontade de grintar: onde está a estrela que
parou de brilhar?
IRAQUE