THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO - NOVINHO EM FOLHA

Recém-restaurado, um dos mais célebres e importantes símbolos da cultura paulistana também teve a participação de técnicos – ou, aprendizes artífices – durante sua construção há cem anos

São Paulo, 1911. Manifestações econômicas e artísticas eram vistas como sinônimos de prosperidade, embalando os sonhos de um município que se desenvolvia graças ao cultivo do café e ao advento da produção industrial. Até então, uma cidade muito diferente dos dias atuais, época em que ainda não se expandia para o alto com imponentes arranha-céus, e nem mesmo se espalhava a perder de vista como um mar de concreto armado. Contudo, ali já se respirava ares de metrópole, gerando oportunidades e dando as boas-vindas para o progresso. Em poucas décadas, a Paulicéia Desvairada – na visão do escritor e poeta Mário de Andrade – se tornaria o maior centro financeiro, corporativo e econômico da América Latina

Numa região privilegiada, bem próxima do marco zero e às margens de uma grande planície – batizada com o logradouro público de Vale do Anhangabaú –, operários, artesãos e cinzeladores davam os últimos retoques a uma suntuosa construção, caracterizada por diferentes estilos e expoentes artísticos, da art nouveau ao renascentista. Exatamente no dia 12 de setembro, oito anos depois do início das obras e dois após o presidente republicano Nilo Peçanha implantar as primeiras escolas de aprendizes artífices em diversas capitais brasileiras, fato que marcou o início do ensino técnico no País, era oficialmente inaugurado o Theatro Municipal de São Paulo, com a presença de um afortunado público de 20 mil pessoas em suas adjacências. Passados cem anos, ele continua majestoso, solene, impecável em suas cores e traços, constituindo ainda um dos mais célebres e importantes símbolos da cultura paulistana e por onde passaram inúmeras orquestras e grandes nomes da música erudita mundial.

Quando a Europa abria suas portas para a Belle Époque, período de grande efervescência cultural e que trouxe reflexos à sociedade brasileira, o paulistano Francisco de Paula Ramos de Azevedo, enviado pela família à Bélgica para se aprofundar nos estudos de engenharia, foi persuadido por um professor de arquitetura a mudar de curso, dizendo-se maravilhado com a qualidade de seus desenhos. Contam os biógrafos que o jovem estudante não titubeou; caso contrário, talvez obras como o Theatro Municipal de São Paulo, a Pinacoteca do Estado e o Mercado Municipal não pudessem ser contempladas. Sem elas, certamente a história da maior e mais importante cidade brasileira seria incompleta.

Ao projetá-lo o arquiteto não trabalhou sozinho, e com ele estavam os italianos Cláudio Rossi e Domiziano Rossi. Para que o projeto saísse do papel, no entanto, entraram em cena inúmeros aprendizes artífices, isso quando a palavra “técnico” ainda nem era comumente usada. É bem fácil de se imaginar a importância que esses profissionais desempenharam durante a construção , levando-se em consideração que, entre 1897 e 1900, Ramos de Azevedo foi diretor do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, onde promoveu uma verdadeira reforma no ensino, que tornaria a escola autossuficiente e reconhecida nacionalmente. Hoje, a entidade recebe o nome de CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica.

Comemorações – Desde sua inauguração, o Theatro Municipal passou por três grandes restaurações: a primeira na década de 1950, sob a coordenação do arquiteto Tito Raucht; a segunda, entre 1986 a 1991, promovida pelo Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura. A reforma mais recente, e mais completa, iniciou-se há cerca de três anos, com recursos provenientes da Prefeitura Municipal e do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento. Desde o salão nobre, passando pela modernização do palco, pelos vitrais, originalmente fabricados em Stuttgart (Alemanha), pelos desenhos decorativos, e chegando às fachadas e pinturas externas, nenhum detalhe passou despercebido. Tudo para que o “velho” teatro estivesse novinho em folha para a série de comemorações que marcaram seu centenário.

Durante as festividades, foi lançado um selo comemorativo, criado pela artista plástica Juliana de Souza Silva e carimbado pela ministra da Cultura, Ana de Hollanda, filha do jornalista e historiador Sérgio Buarque de Hollanda. Sua relação com o Theatro Municipal, segundo ela própria, vem desde a infância, quando acompanhava a mãe durante as apresentações musicais. Outras personalidades da arte e da política também estiveram presentes, como o vice-governador Guilherme Afif Domingos e o prefeito Gilberto Kassab. Um dos momentos mais esperados da festa foi a estreia da nova montagem cênica de Felipe Hirsch para a ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi, acompanhada pela Orquestra Sinfônica Municipal e Coral Lírico.

Roupagem nova, gestão nova. Desde maio de 2011 que o Theatro Municipal deixou de ser Departamento da Secretaria Municipal de Cultura para se tornar Fundação de Direito Público, adquirindo, assim, maior autonomia administrativa em sua gestão.

Fonte: SINTEC-SP em Revista - Edição 151

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 04/01/2012
Reeditado em 04/01/2012
Código do texto: T3422207
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