“CULTURA E CONTRACULTURA NO BRASIL: UMA POSSIBILIDADE DE ANÁLISE”

O mundo construído após a Segunda Guerra Mundial apresentou-se como um Universo de várias transformações, principalmente sociais e culturais. Entretanto, o objetivo deste texto é analisar e compreender a década de 60 e início dos anos 70, a primeira identificada como a “Época dos Anos Rebeldes”, em que milhões de jovens de todos os continentes se insurgiram contra aquilo que genericamente denominavam “Sistema”, e posteriormente compreender o significado da Cultura e Contracultura e a influência no Brasil.

Portanto, “se pensarmos Cultura entendida enquanto o conjunto de práticas, valores, normas, representações, expectativas, que emergem no confronto entre as classes sociais é possível conceber que as pessoas criam e imprimem significados aos objetos e situações a partir de suas condições concretas de existência. Logo, a definição de cultura está intimamente ligada à questão do imaginário, portanto, pode ser entendida como um sistema de significados, atitudes e valores compartilhados e as formas simbólicas nas quais elas se expressam ou se incorporam.” (Burk Peter,1989)

As manifestações culturais de uma sociedade – poesias, memórias, músicas, símbolos – revelam uma totalidade complexa e contraditória de sentimentos, pois são construídas na diversidade do real vivido ou não. Desse modo, pode-se pensar no uso da Cultura musical enquanto um documento histórico possuidor de significações e testemunhos conscientes e inconscientes, visíveis ou não, presentes ou ausentes.

Os anos 60 foram de luta e recusa pacífica ou violenta, mas sempre radical, uma vez que ao lado das guerras,mais do que o sexo,as manchetes de jornais falavam da Odisséia de milhões de inconformados, ”os mutantes” de uma nova era oral e tribal, lutando com todas as armas para destruir o velho e impor o novo. Esses jovens perceberam que era preciso deixar de ser objeto para serem sujeitos da História, emergindo a partir daí os movimentos contestatórios à ordem capitalista e à modernidade, como por exemplo, os Hippies, que surgem nos Estados Unidos e depois se propagam para outros países dando origem a movimentos semelhantes preconizando a chamada Contracultura, que pode ser entendida como um sentimento de oposição à Cultura vigente, em qualquer momento histórico ou como um movimento de contestação juvenil dos anos 60. Trata-se, portanto de uma subcultura inteiramente nova, onde principalmente os Hippies pregavam o altruísmo e o misticismo, a honestidade, a alegria e a não violência, objetivando a subversão da sociedade pelo “Poder da Flor” e pela força do exemplo, tendo como dispositivo de fuga da realidade o uso de drogas alucinógenas, inaugurando o termo “psicodélico”.

No Brasil, a Contracultura emerge após o Golpe Militar de 64, momento em que os jovens esperançosos pelo advento da modernidade, foram frustrados em seus sonhos na busca pela construção de um país melhor. Não podendo mais se manifestar publicamente devido as perseguições começam a cantar e assim, surge a música “engajada”, que teria a responsabilidade de conscientizar a população. Muitos compositores e artistas com sabedoria e criatividade começam a criticar de forma metafórica o atual Sistema político-social. Entre estes podemos citar: Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Geraldo Vandré, entre outros que ficaram conhecidos pelo estilo contundente de protesto e por vezes irônico evidente nas letras de suas músicas.

A implantação da Ditadura através do AI-5(Ato Institucional nº 5) em 13 de dezembro de 68 exigia uma rápida reação onde havia três caminhos a seguir: O da luta armada, o “desbunde contracultural”, ou a conformidade com o Sistema. Os jovens que optaram pela Contracultura encontraram nas manifestações artísticas os instrumentos para conscientização do povo de sua situação, sendo a música o principal elemento pela sua maior difusão nos meios de comunicação, onde os intelectuais trabalhavam dentro de uma lógica da“Cultura de protesto”,com o intuito de que a música brasileira voltasse ás suas raízes desprezando as influências estrangeiras,construindo uma “Cultura Nacional Popular”,democrática e conscientizadora.O início deste processo se deu por intermédio de Luis Carlos Maciel,através de sua Coluna “UNDERGROUND”,veiculada no Pasquim.

Porém, há diferença entre a Contracultura brasileira e a americana. Segundo Patrícia Marcondes de Barros, a diferença reside no fato de que: ”O Brasil não estava no mesmo grau de desenvolvimento dos Estados Unidos, e tão pouco havia experimentado as mesmas contradições”.Já, Maciel considerado o “guru” da Contracultura brasileira,diz que: “A nossa Contracultura é resultado da deglutinação incessante de elementos nacionais e estrangeiros,do passado e do presente,do antigo e do moderno,em fim, antíteses criativas no que se refere à problemática da identidade nacional”.Não se trata portanto,de assimilar tudo da Contracultura americana,mas reinventar a própria Cultura Brasileira em termos próprios ,conforme sugeriu o Movimento Tropicalista,influenciado pelas idéias antropofágicas de Oswald de Andrade.

Logo, para compreendermos sobre Cultura e Contracultura, é preciso despir-nos de todos os preconceitos e posturas maniqueístas, levando em consideração uma possível “Revolução pessoal e individual”, isto porque, sem dúvida o Movimento Contracultural foi muito importante para a nossa História no sentido de compreendermos questões como, críticas ao comportamento e as instituições falidas, problemáticas históricas até hoje pertinentes em um mundo Pós-moderno, tecnológico, mas ao mesmo tempo tão difícil de encontrar um caminho que conduza à plena Democracia e liberdade humana.

TERÊ ARCELES
Enviado por TERÊ ARCELES em 29/01/2012
Reeditado em 29/01/2014
Código do texto: T3468325
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.