“O Teatro na U.T.I.”

Durante toda Idade Média, o Teatro permaneceu “morto” do mundo (não é a toa que essa fase ficou conhecida como “Era das Trevas”, esse é um dos muitos motivos). Pensando nesse fato histórico me pergunto se nos dias atuais é também possível que o Teatro morra.

Uma pergunta infundada se generalizarmos, porém basta adequar essa pergunta para o interior do Brasil para ela se tornar uma questão digna de ser analisada.

Este ano (2012) tive a oportunidade de viajar por várias pequenas cidades do interior do Estado de São Paulo e posso afirmar que a impressão que tive não foi das melhores. Sinto como se o Teatro respirasse com muita dificuldade, com ajuda de aparelhos, num hospital precário.

Afinal seu ar é o publico e ele quase não existe nos dias atuais, mesmo quando o espetáculo é gratuito e a propaganda é boa (o brasileiro prefere ir ao bar que ao teatro).

Respira com ajuda de aparelhos que nada mais são que os programas de incentivo à cultura, como os do Governo do Estado, aliás, foi graças a um deles, o ProAc (programa de ação cultural) que tive a oportunidade de apresentar em algumas cidades.

E num hospital precário, ou seja, em teatros precários (isso quando é um teatro, a maioria das cidades não tem um, e as poucas apresentações que têm são feitas em clubes, salões de festas, etc.), em cidades que pouco ou nada valorizam a arte, em prefeituras que pouco se importam em levar Teatro à população (como já ouvi dizer por aí, cultura não traz voto).

E hoje morando numa cidade do interior minha vontade de montar uma peça, ensaiar e apresentar já está morta. Seria uma loucura, a não ser que eu fizesse um “stand up” ou se eu fosse uma artista Global.

Nada contra “stand up”, apenas acho que não é Teatro e sim contação de piada. E nada contra globais (eu adoraria ser uma) apenas digo que alugar um espaço, uma mesa de som, iluminação, entre outros muitos gastos, exige um investimento financeiro antecipado que provavelmente não seria restituído com o valor arrecadado na bilheteria. Para se colocar 50 pessoas na plateia hoje em dia, sendo um desconhecido, é praticamente impossível.

Não há quem assista ao teatro e há poucas pessoas (corajosas) que fazem Teatro nas pequenas cidades do interior e essas mesmas tenho a nítida sensação de que estão cansando. Logo sinto profundamente em dizer, mas o Teatro do interior está há muito tempo na U.T.I. e sua saúde está cada vez mais frágil.

Mas há um sopro de vida, ainda há. Resta a esperança de que melhore, e só melhorará se o brasileiro do interior quiser (e é justamente aí que minha esperança se enfraquece).

30-12-2012

Thaís Falleiros
Enviado por Thaís Falleiros em 31/12/2012
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