NO INÍCIO : JORNALISMO E HUMILHAÇÃO.
 
Já contei em crônicas passadas,com base em estatísticas norte americanas,que uma das profissões mais difíceis é a do jornalista,figurando,nessa lista,por último, a do lenhador.
Isso é pura realidade.
Agora explico o porquê e conto as primeiras passadas na redação de A GAZETA,(ora extinta),da Fundação “Casper Líbero”,quando ainda situava na praça do mesmo nome,bem no centro de Sampa,próximo ao viaduto Santa Ifigênia. Prédio ao lado de A GAZETA funcionava a FACULDADE DE JORNALISMO,nominada também de “Casper Líbero”. Para quem não sabe, Casper Líbero foi um dos desbravadores da comunicação no País,criando a RÁDIO GAZETA, A GAZETA, A GAZETA ESPORTIVA,e,num acidente aéreo no Rio de Janeiro o grande visionário faleceu...Formou-se então a Fundação “Casper Libero”,inclusive,na época do seu desaparecimento já existia a ESCOLA DE JORNALISMO,que mais tarde virou FACULDADE.
A história da comunicação no País ainda não despertou ou não descobriu  o que foi Casper Líbero,para a imprensa e rádio,enfim para as comunicações sociais.Não se fala aqui em televisão,pois,na época nem se pensava nisso.Agora,tem um prédio inacabado na avenida Paulista,mas,ao que suponho só existem radio e televisão.Nada mais do império de Casper Libero.
Morrendo Casper Libero deixou um grande legado e em especial o jornal A GAZETA era jornal sério,atual e competente. Era na GAZETA que comecei a caminhar na trajetória do jornalismo,quando ainda fazia de manhã a Faculdade,que,com raríssimas exceções era vista,por alguns jornalistas mais velhos como uma novidade indigesta e inconcebível...Tinham os alunos muito trabalho,esforço e dedicação para mostrar alguma competência,nem sempre reconhecida.Havia o grupo favorável e o grupo contra essa Faculdade,dentro da instituição.Isto dentro da própria Fundação.(sic)
Lembro bem que foi no governo de Janio Quadros-embora durando pouco,pois,logo o ex-presidente renunciou- mas, foi dele o decreto que obrigava ao jornalista ter curso superior,muito embora,reconheça-se,gente competente e até notável,não tinha esse diploma,por “n” razões,inclusive temporais...mas deveriam exercer essa nobre profissão.Reconheça-se que um diploma não elege ninguém a premio Nobel.
Digo isso,porque leio nos jornais hoje que ainda se discute no Congresso Nacional a exigência ou não do tão falado diploma de jornalismo.Há uma PEC- Proposta de Emenda Constitucional-onde se aborda,novamente, a obrigatoriedade do diploma de nível superior em jornalismo,para o exercício da profissão.Encontra-se o projeto na Comissão de Constituição e Justiça para análise,devendo passar por duas votações no plenário da Câmara,sendo necessário 308 votos para ser retificada.
Esse assunto,desde Janio até hoje é polêmico,tendo o Supremo Tribunal Federal,em 2009, declarado a exigência inconstitucional.
No entanto hoje numerosos parlamentares entendem que a Constituição deve determinar a exigência do diploma do curso superior,expedido por “instituição oficial de ensino”.É o que se ouve.
Pela PEC não seria obrigatório diploma para colaborador,aquele,sem relação de emprego,faz trabalho de natureza técnica,científica ou cultural relacionado à sua especialização.Os jornalistas atuais que já estão na área podem continuar na profissão,se comprovarem que já exerciam  esse mister antes da aprovação da nova medida legislativa.Parece que tem lógica a proposta no Congresso Nacional.
A matéria é sempre controvertida.
Pois bem,voltando à estatística norte americana,onde o jornalista fica em penúltimo lugar acima só do lenhador.
Recordo-me,quando entrei para a rádio GAZETA,chamada de “emissora de elite”,como redator-noticiarista, o clima não era muito favorável aos estudantes da área. Tinha que “matar um leão por dia” para sobreviver...Assim, um velho jornalista que conseguiu um contrato de noticiário para a RADIO GAZETA, contratou-me,na época disse que ganharia cinco cruzeiros mensais... Aceitei! Não me lembro quanto era o salário mínimo em 1962,mas aceitei.Precisava trabalhar. Passado o primeiro mês,recebi o contra-cheque no valor de quatro cruzeiros... Fui pedir explicações ao veterano que controlava essa situação e,indagado, ele,sem engasgar,disse direto que “era o quanto merecia”...(!?)
Dei meia volta e engoli seco.No jornalismo você dorme empregado e acorda sem emprego. O “turnover” (rotatividade), é quase uma regra. Há mais profissionais que vagas e emprego,desde aquela época.Às vezes tenho até alguma preocupação com quem faz o curso de jornalismo.Os jovens...
Tudo na vida para mim,na verdade, foi difícil,jamais tive um padrinho,um protetor,um ombro amigo...Permaneci até onde pude nos quatro cruzeiros,até alçar vôo para outra empresa,que foi em parte,um pouco a “salvação da lavoura”...Aí veio a chamada Revolução de 64...Ainda cheguei a receber os censores na redação em A GAZETA.A direção aceitou(!?) passivamente a presença desses intrusos que nada entendiam de jornal, mas proibiam sair o nome de Janio Quadros e mais quaisquer noticias sobre alguma resistência localizada em Sampa. Acho que os dirigentes da GAZETA fizeram “corpo mole” e deu no que deu...Hoje, não existe mais a GAZETA,que eu conheci e trabalhei. Sem liderança o jornal ficou cativo de outra empresa e morreu órfão. Casper Libero não podia morrer prematuramente.Incompetentes e sequiosos assaltaram a Fundação “Casper Libero”,de um jeito ou de outro.Até o prédio da avenida Paulista –cujo projeto seria o maior edifício de Sampa- ficou no que está,minguado e sem expressão.Não passou do quarto ou quinto andar...até o cimento e materiais de construção,na época,(1962-63) eram desviados para propriedades particulares de gente “importante” da Fundação(sic).Eram os “black blocs”(engravatados)da alta administração na época...(imaginem).Esses não receberam bombas,nem gás pimenta na vida!!!Fundação por lei não vai à falência,mas a “Casper Libero” foi para a UTI.A “GAZETA ESPORTIVA” que era o carro-chefe da Fundação,ao que parece,hoje nem mais existe...era o jornal mais vendido e lido em razão de tratar só de esportes”, desde o futebol profissional e amador, até campeonato de “bola de gude,na periferia”...Era um sucesso no gênero!O povão adorava!!
Na decadência,os jornalistas,gráficos e empregados,todos foram para casa...sem lenço nem documento.
Não conheci Casper Libero...mas pergunto: por que você morreu precocemente??? O jornalismo ainda está de luto!!!
Hoje é  dia dos mortos.Faço uma homenagem ao ex-patrão que não conheci...
 
 
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