Ateus impedem conferência de crentes na Unicamp

Segundo matéria publicada na revista ISTOÉ desta semana, o “1° Fórum de Filosofia e Ciência das Origens”, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi cancelado após uma campanha orquestrada por professores ateus da própria instituição. O motivo seria o fato dos palestrantes estarem ligados ao “criacionismo científico”.

Este fato deixa evidente o espírito antidemocrático e anticristão que permeia a academia brasileira. Todos os que frequentam ou frequentaram as universidades públicas no Brasil sabem que muitas delas são autênticos feudos intelectuais, em que professores e estudantes são mais aceitos se aderirem a determinadas teorias. O debate, muitas vezes, é restrito a algumas posições ideológicas e/ou políticas. O marxismo, por exemplo, ainda domina amplamente as discussões nas áreas de História (com a vertente da História Social) e Sociologia.

A Unicamp divulgou uma nota oficial em que justificou o cancelamento dizendo que “faltavam integrantes que pudessem debater o tema sob todos os pontos de vista”. Ora, este motivo não é justificável. Mesmo porque, o cancelamento impede que se inicie uma discussão sobre o tema proposto. Deve-se observar que os convidados para o fórum são pessoas respeitadas dentro de suas áreas acadêmicas. Um deles era o americano Russell Humphreys, Ph.D em física pela Universidade de Louisiana, e outro o brasileiro Marcos Eberlin, membro da Academia Brasileira de Ciências e doutor em Química pela própria Unicamp.

Defensores do cancelamento do fórum afirmam que estão a serviço da ciência. Mas, de qual ciência? Ela é neutra? Ou será que a ”ciência” em questão trata-se de uma cosmovisão eivada de carga ideológica, seguindo a linha dos neo-ateus Dawkins, Harris e do falecido Hitchens? Recentemente, a editora Ultimato publicou o livro O teste da fé. Nesta obra, cientistas falam sobre a fé que possuem em Deus. Todos, contudo, são reconhecidos por seus trabalhos científicos. Cito alguns: Francis Collins, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano; Alister McGrath, doutor em biofísica molecular e professor de teologia histórica, Universidade de Oxford; Ard Louis, Centro Rudolf Peierls de Física Teórica, Universidade de Oxford; Jennifer Wiseman, astrofísica, Centro Goddard de Voos Espaciais, NASA; Bill Newsome, professor de neurobiologia, Escola de Medicina da Universidade de Stanford; Deborah B. Haarsma, professora associada de física e astronomia, Calvin College, Michigan; Alasdair Coles, professor sênior de neuroimunologia clínica, Universidade de Cambridge e John Bryant, professor emérito de biologia celular e molecular, Universidade de Exeter.

Não, não se trata de uma batalha entre esclarecidos defensores da ciência de um lado e obscuros crentes de outro. Ironicamente, são os “esclarecidos” que querem calar os “obscuros”, numa espécie de inquisição às avessas. O filósofo Charles Taylor afirmou que o embate entre religião e ciência é “uma quimera, ou melhor uma fabricação ideológica”. Por sua vez, Terry Eagleton afirma que a ciência “lida com certos dogmas, como acontece com qualquer outra forma de conhecimento”.[1]

Texto publicado originalmente no blog Graça e Saber.

[1] Razão, fé e revolução. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 2011, p. 121.