Fugere urbem ?

Pensando nesses feriados emendados, lembro do fugere urbem, dos árcades, ou seja, fugir da cidade em busca do locus amoenus ( lugar tranquilo). Vejo que estamos muito influenciados pelos movimentos literários, se bem que, como na época, em boa parte era ilusão; não acho que se deva fugir das cidades; a Natureza existe em função de si mesma, sendo que o homem é o único ser que não se integra naturalmente a ela; vide os mosquitos que nos vão picar, o calor, a chuva, que vai derrubar as barracas dos naturalistas, que vão comer comida com areia, pensando na integração com a Natureza. Era mais um sonho árcade, depois transformado em sonho romântico, incentivado por Rousseau e a teoria do "bom selvagem". Aliás, temos muito ainda de Romantismo, ao pensarmos que o mundo gira em torno de nós e ficarmos no nosso mundinho.

Temos muito pouco de Horácio e do carpe diem;colhe o dia, e não aproveite, mas somos muito hedonistas, dada a nossa cultura cervejeira e churrasqueira, expressa em comerciais; parece que o mundo vai acabar amanhã , então ,os frenéticos, e por isso modernistas, homens modernos, pegam seus cavalos de aço,e vão, lentamente, passo a passo, se congestionar nas rodovias, para "ficar junto à Natureza", mas essa já não é uma natura autêntica, mas muito mais artificial do que se pensa, pois o empresário esperto já vislumbrou o lucro e dividiu a vista bonita em lotes e mais lotes.

Por fim, a praia lotada e cara, não tem lugar para estacionar, e a natura será vislumbrada pela TV; daí se carece da aurea mediócritas; não, não é mediocridade dourada, mas sim o equilíbrio caro ao classicismo, que falta a nós, ou seja, a razão iluminista, porém, dada a programação de tv atual, poderíamos chamá-la mesmo de áurea mediocridade.