Sobre Nietzsche.

Sobre Nietzsche.

A moral sempre foi um dos pontos de estudo de Nietzsche no que diz respeito à questão do fraco e do forte. Para o filósofo alemão, os fortes ficam presos a moral dos fracos, e estes, os fortes, ficam submetidos à moral constituída pelo e para os fracos; para Nietzsche os morais são os fracos, os primeiros.

Há cinco comportamentos básicos em nossa sociedade que representam a fraqueza moral:

1-Humildade: ninguém quer ser humilde, apenas queremos que o outro seja, em um momento bem apropriado. Hoje em dia, é careta dizer a si mesmo, e aos outros, que sabe e entende de qualquer conhecimento de forma espontânea e divertida. O normal é se auto comiserar achando que Deus irá dar uma solução imediata para o problema.

2- Hipocrisia: todos nós temos uma dosagem de hipocrisia. Se a vida tem de ser afirmada, e não negada, algum nível de hipocrisia tem de ser colocado em prática.

3- Religiosidade: não há nenhuma religiosidade nessas igrejas. Para sermos religiosos, cristãos autênticos, devemos amar nossos inimigos, estar apto a ajudar o próximo. Existem alguém que faz isso? As pessoas não são religiosas, apenas almejam ser.

4-Amor: Esse está doente! As pessoas amam mais o que é financeiramente melhor. Todo relacionamento envolve interesses; para que exista amor é preciso que haja erotismo e desejo de vontade ou afetividade para com o outro.

5- Sexualidade banal: nossa sociedade é sexualizada, mas altamente deserotizada. A deserotização da sociedade tem a ver, é claro, com o modo que organizamos nossas vidas apenas para trabalhar. O homem moderno, e também a mulher, imagina um mundo de sexo para ver, se algum momento, tem a sua sexualidade restaurada. Hoje em dia, transar virou algo do cotidiano: você come e faz um sexo, bebe e faz um sexo, toma uma coca cola e faz um sexo, solta um pum e faz um sexo.

O que Kant fala sobre a moral? O que Nietzsche fala sobre a moral? Eles falam muito sobre a moral, mas em sentidos críticos opostos. Para Kant, o homem torna-se livre quando toma a moral como sua vontade; a liberdade é um bem necessário para quem segue as Leis Morais. Kant vai mais além quando diz que a partir do momento que resolvemos alguns de nossos problemas sem uma moral estabelecida, acabaremos presos ou amarrados, literalmente. Para Nietzsche, o homem se perdeu quando construiu seus valores em bases metafísicas; o homem construiu um mundo de valores, constituído pelo amor, pelo respeito e por todas as coisas que fazem com que viva dignamente. Mas, onde está esse mundo de valores? Kant não busca a forma ou a personificação de Deus, mas como um ser moral; em Nietzsche, temos o homem acima da moral. Kant vê a moral acima do homem.

Devemos compreender que a ética em Kant é a ética do dever, permanecendo longe de qualquer conceito moralista. “O que falar sobre ética?”. Em nossa sociedade, a ética muda a cada instante. “De que forma?”. Por exemplo: em outras épocas, tínhamos um certo cuidado quando líamos os avisos do tipo “É Proibido Fumar”. Hoje, a partir de um caráter psicológico mais amadurecido, temos o dever de “não fumar em locais fechados” ou “não pegar o que não me pertence”. Os gregos antigos tinham a ética do prazer e da felicidade.

Os séculos XVII e XVIII foram conhecidos como os séculos do pensamento moderno e iluminista. Trouxeram a ideia de que, com a razão, o homem poderia descobrir tudo. Podemos dizer que Nietzsche era um anti-moderno, pois ele achava o projeto moderno um fracasso; Nietzsche rejeitava filosofias racionalistas, pois implantava aquilo que é irracional além da racionalidade. Discordando de qualquer conceito da história que abordava verdades absolutas ou algum “eu” que deseja ser ou algum “eu” independente que pensasse fora do corpo. Aí é que vem a crítica de Nietzsche sobre a frase de Descartes, “Penso, logo existo”. Para Nietzsche, é impossível algo que pensasse fora do corpo; é impossível algo que fique distante da afirmação do corpo e do erro.

Rousseau tentou ser desapegado da sociedade tentando viver o comportamento moralmente natural. Mas a verdade sobre a filosofia de Rousseau, foi que ele fez uma comparação entre o homem que vive no meio social e o de ser moralmente bom no meio natural. Rousseau viu que uma coisa está ligada a outra. Nietzsche faz uma crítica sobre o pensamento rousseauniano e sua construção do homem naturalmente bom, uma vez que, na verdade, o mundo está fadado aos fracos e ao fracasso.

Existe uma ligação entre o pensamento nietzschiano e o Estoicismo no que diz respeito à felicidade duradoura. Sponville, filósofo francês do século XX, e um dos principais pensadores que difundiu o Estoicismo, lança a seguinte frase: “Pensar apenas positivo, deixa a vida mais feliz?”. Não necessariamente, pois o curso da vida passa por diversos estágios de espírito; o espírito oscila entre as alegrias e as angústias. É importante notar que o ideal não está incluído no real; ninguém pode viver no ideal. Para Nietzsche, a felicidade não vem da fuga de nossos problemas, mas quando aprendemos a cultivar nossos próprios problemas em prol de algo positivo; saber lidar com as dores é a melhor coisa que podemos fazer para alcançarmos a felicidade duradoura.

Outro ponto importante para ser feliz, para Nietzsche, é saber a importância dos alimentos e como se alimentar bem. Assim ele diz: “Oh, Alemanha, Alemanha! Todavia a cozinha alemã como um todo - quantas são as coisas, quantos são os homens que lhes pesam na consciência! A sopa antes das refeições, as carnes cozidas em demasia, as saladas engorduradas e farinhentas; a degeneração dos pudins em pesa-papéis! Há muito álcool nos "intelectuais alemães, há muito otimismo nos alemães!".

“Ser forçado a combater os instintos – essa é a fórmula de “décadence”: enquanto a vida ascende, felicidade é sinônimo de instinto”. Essa frase de Nietzsche nos mostra o quanto a vida é valiosa quando é bem vivida, sem nos deixarmos ser levados por ela. Sobre o Eterno Retorno, ele diz:

”E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio.

A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!" -Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que responderias: "Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse; a pergunta, diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e ainda inúmeras vezes?" Pesaria como o mais pesado dos pesos sobre teu agir! Ou então, como terias de ficar de bem consigo mesmo e com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?”.

Nasce também o Além do Homem: que não segue a moral do pai, da mãe, de Deus e de qualquer um que vá contra os seus instintos.

Para Nietzsche, o Cristianismo e o álcool eram os dois grandes narcóticos europeus, pois tanto estar dentro da igreja quanto estar em um bar, o sujeito consegue, de alguma forma, fugir dos problemas, mesmo que seja por alguns instantes; Karl Marx vai dizer que a Igreja é o ópio do povo.

O que Nietzsche falava sobre o amor? Assim ele escreveu:

"Aquele que ama quer ser possuidor exclusivo da pessoa que deseja, quer ter um poder absoluto tanto sobre a sua alma como sobre o seu corpo, quer ser amado unicamente, instalar-se e reinar na outra alma como o mais alto e o mais desejável". Ficou bem claro o que Nietzsche quis dizer, não? Devemos parar de ver o outro como passaporte perpétuo para a felicidade, porque ninguém é de ninguém; as pessoas mudam por duas razões: porque sofreram demais e porque amadureceram o bastante. Penso que, de maneira nenhuma, devemos viver em função dos outros, e nem sermos muito apegados aos outros, caso contrário seremos seres dotados de ciúmes e ódio.

Para Schopenhauer, devemos parar de sonhar com o amor para a vida. Para o filósofo, se um relacionamento não der certo, partamos para outro, sem culpa.

Vou comentar um pouco sobre o niilismo. O que é o niilismo? Antes de mais nada, os gregos antigos tinham a religião diferente da nossa: criavam seus deuses para serem seus objetos. Havia uma relação íntima entre o grego (sujeito) e os deuses (o objeto): os gregos criaram a religião, os deuses olímpicos, para tonar a vida desejável.

A criação da arte apolínea é a expressão de uma necessidade, pois a vida só se torna possível pelas miragens artísticas. Durante o período da Idade Média, os homens criaram um Deus que pudesse regrar os nossos instintos de forma política e severa. A partir daí, surgiu o niilismo negativo em que o sujeito nega a própria vida em nome de outra pós morte, formada pela Verdade Divina e pelo Paraíso. No Iluminismo, com o surgimento da Ciência, onde as revelações milagrosas da religião foram substituídas por experiências científicas, surgiu o niilismo reativo o qual nos dá uma condição de futuro bastante próxima, desvalorizando a vida presente. Tanto o niilismo negativo quanto o niilismo reativo há uma desvalorização da vida presente.

Nietzsche, disse: “Deus está morto”. Não podemos interpretar essa frase ao pé da letra, pois não se trata de religião, mas de Filosofia - essa frase é uma metáfora! - . Mas, o que quer dizer? Não existe a dualidade entre sujeito (Deus) e predicado (homem). Isso quer dizer que a relação platônica entre mundo aparente e mundo Real perde o sentido. Isso acontece, principalmente, quando a Ciência nasce na época do Iluminismo; a Ciência matou a Religião. Por exemplo, antigamente eu rezava para curar uma determinada doença, mas hoje vou ao médio. Quando vou ao médico me tratar, estou desautorizando a minha reza.

Por que o Novo Testamento é uma negação? Tem algumas passagens no Novo Testamento, que diz mais ou menos assim: Dos fracos, dos oprimidos, dos cegos e dos aleijados é o Reino dos Céus... Se é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico herdar os Reino dos Céus, então devemos ser tristes, cegos, pobres e aleijados? Essa moral não se parece em nada do que o Nietzsche fala sobre superação de si; segundo Nietzsche, o cristão emporcalha o mundo, condenando a si mesmo, por viver contra os instintos, a condenar o próximo e a própria sociedade.

Então, passamos a compreender a seguinte frase nietzschiana: “O pecado é uma invenção do Cristianismo como um domínio dos mais fortes pelos mais fracos”. Ou ainda: “O Cristianismo luta contra o pecado, enquanto que o Budismo luta contra o sofrimento”.

Em seu livro, “O Anticristo”, Nietzsche conta a história de Israel, de como “aquele” povo que tinha um deus simbólico, que representava o seu estado de poder, de riqueza e de felicidade. “Quando Israel é invadida e dominada, então se constrói a ideia de um salvador que virá futuramente (na verdade os judeus reinterpretam a vinda do salvador) para restaurar o Reino de Israel. Nietzsche nos fala que Jesus de Nazaré foi interpretado como esse Salvador e esse mal prosseguiu no Cristianismo após Jesus, a começar pelo desvaler da psicologia de Jesus por seus próprios discípulos. (Essa questão é discutida por Emanuel, que irá dizer que Marcos e Lucas, deram origem à tradição farisaica da qual erigiu suas bases a igreja romana). Ainda foi claro quando citou Paulo:” Paulo negou a Jesus quando não soube interpretar a sua Boa-nova. Paulo é portador da má nova: cria conceitos do além, da punição nos pós-mortem”.

Gostaria de falar um pouco sobre a relação de Nietzsche com o pianista Wagner. “O Caso Wagner, o qual Nietzsche afirma ser percorrido por outros pensamentos quando escutava a ópera e, tornando tal passagem ao pé da letra, acusa Wagner de ser um “típico não-músico”. Nietzsche, prossegue: “para o músico, é absolutamente impossível pensar, durante a música, em outra coisa senão a própria música”. Muitos interpretam “O Caso Wagner” como uma expressão de inveja e frustração de Nietzsche, afastando o filósofo da relação que tinha com Wagner. Nietzsche afirma: "Neste assunto, guardei para mim tudo o que era decisivo: eu amei Wagner”. Segundo estudiosos, Wagner era anti-semita e isso fez, também, com que Nietzsche se afastasse dele pois, além de ser defensor da boa causa dos judeus, Nietzsche via o Judeu conscientemente livre, emancipado de seu passado, fora da Terra prometida.

Nietzsche bebeu na fonte de Schopenhauer no que diz respeito do papel das artes na transcendência de nossos sofrimentos, mesmo que por alguns instantes. O filósofo alemão foi assistir uma ópera de Wagner com o intuito de aliviar suas dores causadas pelas doenças que tinha. Mas foi drástico! Nietzsche não conseguiu se sentir bem naquela ocasião de reverência que Wagner empunhava e ostentava em sua apresentação teatral. Em meio a apresentação da ópera, Nietzsche retirou-se com um profundo mal-estar.

Adolf Hitler tomou conhecimento sobre algumas das obras de Nietzsche através de sua irmã, que era uma verdadeira leitora das obras do filósofo alemão. Hitler passou então a adotar as leituras nietzschianas. Um dos maiores erros de Hitler foi ter levado a ideia do "Super-homem" para representar a raça ariana, como a de ser semelhante a Deus. Foi uma alienação da parte de Hitler? Ou simplesmente uma ida à loucura e ao poder? Fico com a segunda pergunta como o direito de resposta: toda Política que traz uma falsa ideologia é uma desgraça para a sociedade.

Archidy de Noronha
Enviado por Archidy de Noronha em 18/08/2014
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