Brasil, pátria educadora.

A USP continua enfrentando sérios problemas relacionados a assalto de alunos no interior do campus. Os casos já se tornaram rotina. Não se vê uma manifestação, não se escuta uma gritaria, ninguém invade a reitoria ou sai as ruas pedindo justiça.

Mas tente a polícia deter um único aluno por porte de entorpecentes e o circo estará armado. Em poucas horas, centenas marcharão em protesto contra a intervenção do "braço armado do governo", pedindo a expulsão da força policial de dentro do campus.

Em meio a esta confusão de princípios revela-se uma questão sociologicamente relevante, que contribui como explicação parcial do fenômeno: o ambiente cultural universitário fomenta uma espécie de repulsa moral pela lei.

Como a (i)lógica do raciocínio envolve a reiterada negação da importância da ação policial, ainda que presenciem um latrocínio, um estupro ou um assalto, simplesmente não conseguem sentir, em relação a estes crimes, a mesma reação visceral que lhes consome quando são coibidos de se drogar dentro do campus.

Deste diagnóstico decorre, e não há escapatória, um prognóstico nada animador. Quem são os alunos da USP? São o futuro da nação, os futuros governantes, os futuros funcionários públicos, os futuros professores, os futuros empresários.

Esta necessária continuidade entre gerações deve alertar os incautos: a corrupção não se torna o modus operandi padrão da política em um país pela simples ganância financeira de alguns. É preciso, antes, haver uma atmosfera cultural favorável, um padrão moral deturpado que, atuando como um processo neoplásico, gradativamente toma o controle do ambiente em torno.

O quadro agrava-se pelo fato de que a degradação do ambiente cultural não constitui um processo passível de resolução rápida. Sua criação demandou o período de várias gerações, submetidas reiteradamente a um adestramento moral enviesado. De modo que o resgate cultural não pode ocorrer se não ao fim e ao cabo de período igual ou maior.

Resta-nos, finalmente, levantar uma questão intrigante: quando um governo absolutamente desprovido de princípios norteadores, de um caráter íntegro ou de valores sólidos, brada como lema "Brasil, pátria educadora", o que podemos esperar se não a irrefreável metastização desta moral torta a todos setores da sociedade?