Pela sua dolorosa paixão...

E de novo estamos em meio da debates calorosos sobre as relações entre fé-vida-poder. Eu particularmente levo um tempo para pensar sobre estas coisas, sou religioso e gostaria que os símbolos sagrados, todos eles, fossem respeitados. Mas, por que não nos escandalizamos quando um terreiro de candomblé, de umbanda são invadidos e destruídos? Porque não nos revoltamos com a falta de respeito quando pessoas não crentes são exorcizadas, sendo ditas possuídas pelo demônio? Porque não discutimos também umbandofobia, candonbléfobia e por ai lavai? Claro que particularmente eu me sinto doído quando vejo imagens católicas destruídas, especialmente as de minha devoção. Claro que me doí ver um crucifixo sendo enfiado no cú de alguém. Mas porque não dói em nós, quando enfiamos o crucifixo e a fé no corpo e na vida das pessoas? Porque não nos dói quando em nome de Deus e/ou da crença violentamos, matamos, inclusive outros símbolos sagrados? (In)felizmente é preciso usar da mesma forma de violência para que possamos entender o que fazemos. Não é à toa que quase todos os discípulos do Cristo tiveram mortes como Ele. Talvez(?!) hoje os perseguidos e marginalizados sejam muito mais verdadeiros discípulos do Cristo do que nós, crentes professos. Hipócritas, aqueles que gritam que a fé está sendo atacada, quando eles mesmos não estão dispostos a carregar os fardos que propõem serem carregados. Hipócritas. Atacar o poder hegemônico da mesma forma como ele faz é doloroso, é escândalo, mas é o (único) caminho de mostrar o quanto o respeito que bradam por ai é relativo, é respeito quando dirigido a mim que estou no poder, mas quando é ao contrário, não! Hegemonia! Manutenção do poder. Hipocrisia. Claro que estas coisas me doem no corpo e n’alma. Vou me preocupar o dia que não doer, afinal foi a minha fé, pequena e sincera, que me ensinou que cabem(os) todos no mundo e que podemos aprender, fazer o diálogo, diferente do que pensam por exemplo, certos bispos que querem banir Foucault da academia, para manter seu poder, claro. Acho que se ao invés de bradarmos discursos inflamados, começamos a viver nossa fé e não obriga-la, deixando as pessoas viverem e se fazerem em suas escolhas, talvez poderíamos conviver com o sagrado e o profano, sem nos atacarmos. Utopia. Quem sabe. Só vamos saber se tentarmos. Enquanto isso, é só mostrando a dolorosa paixão (dos Cristos que vivem no meio de nós), que poderemos ter misericórdia e salvar o(s) mundo(s), construir um mundo melhor.

Paz, bem e alegria...