TERIAM ADOLF HITLER E MARTIN LUTHER KING ALGO EM COMUM?

* Por Herick Limoni

Para o leitor incauto, a pergunta do título deve soar um pouco estranha. Como assim, querer comparar duas personalidades tão distintas? Esses, muito provavelmente responderiam: a não ser o fato de serem ambos humanos (na acepção genuína dessa palavra), eles não têm nada em comum. Um era americano, o outro, austríaco. Um era negro, o outro, branco. Um dedicou sua vida na luta contra a segregação racial nos Estados Unidos, o outro, dedicou a sua vida a tentar exterminar as “raças menores” da face da terra. Um é exaltado pela opinião pública, o outro, execrado. Um tinha objetivos louváveis, o outro, deploráveis. Sim, de per si, ambos parecem não ter nada em comum.

Porém, algo os assemelhava. A ferramenta que utilizavam para defender suas ideias e posições, a fim de convencer as demais pessoas de que seus argumentos eram verdadeiros e, por isso mesmo, mereceriam crédito: a RETÓRICA, que segundo Aristóteles, seria a a capacidade de descobrir o que é adequado a cada caso com o fim de persuadir. Se há algo semelhante entre essas duas pessoas é o fato de que ambos são, ainda hoje, considerados dois dos maiores oradores de todos os tempos. Através da eloquência de seus discursos, ambos foram capazes de agregar multidões, fazendo-as sair do lugar comum em que se encontravam e inscreverem-se nas páginas da história.

Adolf Hitler, ao assumir a presidência do partido comunista em 1933, conseguiu, com seus discursos inflamados, calcados na premissa de que a raça ariana, que incluía os alemães, era melhor do que as demais e por isso não merecia passar pelo que passava. Essa ideia estapafúrdia encontrou terreno fértil em solo alemão, cuja população vinha de humilhante derrota na 1ª Guerra Mundial e que, alimentada por essa ilusão de superioridade, tomou para si as ideias do fuhrer, seguindo e aplaudindo cada palavra que ele proferia, ainda que completamente dissociadas da realidade. O grande sucesso de Hitler reside no fato de empoderar internamente um povo que estava com sua estima em frangalhos. O resto todos já sabem.

Martin Luther King, cujo feriado em sua homenagem (toda terceira segunda-feira do mês de janeiro), instituído pelo ex-presidente Ronald Reagan, comemorou-se no último dia 18, utilizou-se do seu dom para convencer a população negra americana, também oprimida e fragilizada, a lutar pelos seus direitos. Mas ao contrário de Hitler, o filho de pastores optou por uma revolução pacífica e ordeira. Seus discursos, carregados de sentimentos, reuniam multidões que se espremiam para ouvi-lo. O mais famoso deles, intitulado I have a dream, foi proferido no dia 28 de agosto de 1963, nas escadarias do Lincoln Memorial para 250 mil pessoas. Nele, MLK diz sonhar com o dia em que negros e brancos poderiam compartilhar a mesma mesa. Após sua luta, muitas foram as mudanças implementadas em território americano para atenuar as diferenças entre negros e brancos.

Daí se vê a importância da retórica, que mereceu, inclusive, atenção especial do filósofo estagirita, que dedicou parte do seu tempo a escrever três livros sobre o tema. E como a vida é baseada no equilíbrio, onde a maioria das coisas têm os seus opostos (sol e lua, dia e noite, quente e frio, etc.), em relação ao uso da retórica, não foi diferente com estes dois ícones mundiais. Um a utilizou para o bem, o outro, para o mal.

*Mestre e Bacharel em Administração de Empresas, escritor amador e entusiasta da literatura.

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