A Divina Comédia e a Cosmogonia do Desenvolvimento em Metanálise Clínica Tridimensional

A teoria do duplo impulso germinal é uma teoria desenvolvida por Yuri Mc Murray onde o homem é visto como bivetorial, ela lança mão da ética aristotélica, visando a conciliação dos polos de opostos, integrando-os por meio de uma ontologia ilustrada através de uma cosmogonia do desenvolvimento. O homem é representado em seu estado de inocência ilustrado na figura de Adão e Eva, onde o Jardim do Éden é o ventre materno. Esse bebê manifesta o vetor primário, integrativo e holista que se assemelha ao perverso polimorfo de Freud. Para o bebê o impulso é integrar o todo ou verter-se na generalidade. Sendo um vetor ou pulsão de morte. Ao passo que o bebê (Adão - Eva) é testado pela realidade percebe que há o outro, donde se dá a quebra do estado de inocência. A quebra culmina com a expulsão o bebê do jardim e a consequente carência de determinação, aparece com isso um segundo impulso de individualização. Com a expulsão do jardim surge o Ego, e da necessidade de proteção desse ego nasce o Id e os mecanismos de defesa. A persistência do primeiro vetor dá luz ao superego. Todo esse processo acontece com a gestão do self.

Em suma, a cosmogonia do amadurecimento é uma visão da evolução do homem em relação ao cosmos, que se divide em quatro estágios: o estágio da inocência original, o estágio da queda ou separação, o estágio da redenção ou reintegração, e o estágio da glória ou consumação. A metanálise clínica tridimensional busca ajudar o homem a passar pelos diferentes estágios até alcançar a plenitude de seu ser.

A Divina Comédia, de Dante Alighieri, é uma obra que narra a viagem do autoconhecimento e da iluminação possível a todos os homens. Ainda mais profundamente possível no processo metanalítico, pois guiado por Virgílio e Beatriz, ou seja, tutelado pelo metanalista clínico e com apoio da realidade, o paciente poderá transitar pelas instâncias do próprio ser e do seu desenvolvimento, pelo inferno, pelo purgatório e pelo paraíso. A obra representa um compilado da cultura e do conhecimento medieval, tanto no religioso quanto no filosófico, científico e moral, aos quais a Metanálise Clínica Tridimensional busca resgatar na prática psicoterapêutica.

Podemos relacionar a cosmogonia do amadurecimento com a Divina Comédia da seguinte forma:

- O estágio da inocência original corresponde ao estado de graça do homem antes do pecado original, quando ele vivia em harmonia com Deus e com a natureza. Na obra de Dante, esse estágio pode ser representado pelo paraíso terrestre, onde ele encontra Beatriz pela primeira vez e onde Adão e Eva habitavam antes da expulsão do Éden.

- O estágio da queda ou separação corresponde ao estado de pecado do homem após a desobediência a Deus, quando ele perde a comunhão com o divino e se afasta da sua verdadeira essência. Na obra de Dante, esse estágio pode ser representado pelo inferno, onde ele vê os castigos dos pecadores que se afastaram de Deus e se entregaram aos vícios e às paixões desordenadas.

- O estágio da redenção ou reintegração corresponde ao estado de arrependimento e conversão do homem, quando ele reconhece seus erros e busca a reconciliação com Deus e consigo mesmo. Na obra de Dante, esse estágio pode ser representado pelo purgatório, onde ele vê as almas que se purificam dos seus pecados para ascenderem ao céu.

- O estágio da glória ou consumação corresponde ao estado de perfeição e felicidade do homem, quando ele atinge a união com Deus e contempla a sua face. Na obra de Dante, esse estágio pode ser representado pelo paraíso, onde ele vê as almas dos bem-aventurados que gozam da visão beatífica de Deus.