“Viver  em um mundo sem tomar consciência do seu significado é como vagar por uma imensa biblioteca sem tocar os livros”

(Manly Palmer Hall)

 

A ORIGEM

 

Este é um artigo despretensioso, altamente reflexivo e, portanto, não possui caráter impositivo, dogmático, sectário ou algo do gênero. Além disso quero desde já esclarecer que ao discorrer sobre a evolução ou criação do universo e dos seres que o compõem, fá-lo-ei sem qualquer demonstração cronológica/pedagógica ou enumeração de itens temáticos desta ou daquela corrente de pensamento. Pretendo sim escrever da mesma maneira que reflito sobre o tema, como estivesse a falar comigo mesmo ou pensando alto. E assim tentarei transcrever os tópicos argumentativos a medida que me chegam desde os recônditos cerebrais, conforme vi e estudei em enciclopédias de livros e da vida.

 

Porém ao iniciar este complexo assunto poderia eu questionar provocativamente, Deus criou Charles Darwin e este criou a teoria da Evolução das Espécies? Ou do macaco veio o homem e o homem criou Deus? No entanto, o objetivo destas linhas em hipótese alguma é insuflar polêmica em mais uma discussão que aflora em nosso mundo contemporâneo, ou seja, entre evolucionistas e criacionistas. Tenho aqui por propósito levar ao leitor uma reflexão pura e simples não só sobre estas duas correntes de pensamento, mas outras inclusive. Além disso julgo pois, que a autodenominada civilização já está bastante desgastada por intermináveis conflitos e polarizações de toda ordem e portanto não necessita de mais desgaste. Aliás, a voz da prudência costuma dizer que fé, crença, religião e ciência nunca foram elementos antagônicos ao longo de nossa existência, pelo contrário, sempre se completaram. Embora essa mesma voz reconheça que em alguns momentos históricos as ideias tenham sido divergentes, mas mesmo assim contribuíram significativamente para o desenvolvimento ético, moral, social e científico da humanidade.

 

Desse modo assinalo o livro A Origem das Espécies, do naturalista e biólogo britânico, Charles Darwin, publicado em 1859, o qual é considerado a “Bíblia” dos defensores da teoria evolucionista. Aliás, burlescamente costumo dizer que alguns cientistas, ou especificamente, biólogos e naturalistas dividem o tempo em antes e depois de Darwin. Entretanto, e seriamente falando, nessa importante publicação o renomado pesquisador explica sobre a origem e evolução dos seres vivos, a qual representou uma verdadeira revolução — uma vez que, até meados do século 19, não só as religiões monoteístas ou politeístas, bem como a maioria dos cientistas ocidentais compartilhava a ideia de que Deus (ou deuses) tinha concebido todas as criaturas do planeta.

 

No entanto, segundo os estudos de Darwin, os seres vivos, incluindo os micro-organismos e o homem, têm evoluído, ao longo de milhões de anos neste planeta, em uma luta incessante pela sobrevivência na natureza. Mas aquele que sobrevive não é necessariamente o mais forte e, sim, o que melhor se adapta às condições do ambiente em que vive. Após anos de estudo, ele chegou à conclusão de que as diferenças, inclusive entre espécies semelhantes, foram produto da evolução que ele chamou de: seleção natural.

 

A adaptabilidade do homem inclusive, é observável sem o menor esforço ao olharmos simplesmente a variação de sua cor de pele com relação à localização no globo terrestre. Por exemplo, quanto mais próximos aos polos (onde há menos tempo de sol), como nórdicos (ao norte), australianos e neozelandenses (ao sul) a pele é mais branca, e escurece a medida que se aproxima do equador (onde há mais sol). No próprio continente africano notamos a diferença entre norte e sul. Os africanos ao norte são morenos e claros, como os egípcios, por exemplo. Já na África subsariana (mais ao sul) as pessoas têm pele negra. Sabemos que quanto mais escura é a pele, maior concentração de melanina, e vice e versa. A melanina nada mais é do que o pigmento motor do mecanismo de defesa e controle da quantidade de raios ultravioletas recebidos diariamente. Afinal também precisamos de vitamina “D”, a qual recebemos dos mesmos raios solares. O excesso de raios ultravioletas é prejudicial à saúde, mas sua falta também o é. Por isso a concentração de melanina da pele faz esse controle. A pergunta dos criacionistas é: “esse seria um exemplo de adaptabilidade natural, ou foi pensado por alguém ou alguma coisa?” Mas, as máquinas denominadas seres vivos, em especial o homem, são de uma complexidade tão grande que faltaria perguntas e repostas para explicar seus funcionamentos.

 

Tanto que há as mais variadas teorias para refletir e debater sobre a origem do universo e de tudo que nele existe, no entanto o ingrediente principal para a guerra ou discórdia, sem dúvida nenhuma é o fanatismo ou extremismo, além é claro, da vaidade e arrogância. Vivemos em um mundo em que todos são os detentores da verdade. Muitos querem falar, mas poucos querem ouvir, e salvo melhor juízo, o oposto seria o ideal para uma convivência social e civilizada.

 

Observemos que esse fenômeno antissocial é detectável dentro da própria vertente criacionista, quanto à natureza de um Criador universal. Algumas correntes religiosas por exemplo, atribuem ao seu Deus (ou deuses), características antropomórficas, ou seja, mesmo sendo um Ser sobrenatural, mas com comportamentos e pensamentos típicos da condição humana, como amor, ira, perdão, castigo, etc. Outras, já O entendem como uma Energia Transcendental, espécie de ”Éter”, a qual não só comporia todo o Cosmo com seus reinos animal, vegetal e mineral, bem como seria todo o Universo por Si mesmo. Além disso há àqueles que interpretam os Livros Sagrados literalmente e creem em um Deus que teria criado, no princípio a Terra e em seguida um Ser homem (macho), e que de suas costelas criou a mulher (fêmea), e assim sucessivamente (Gênesis 2:4-22). Por outro lado, há outras correntes contemporâneas ou “progressistas” que pregam a reforma de Livros Sagrados, pois defendem a tese de que: alguns deles teriam se tornado ultrapassados, ou melhor, não inclusivos. Segundo estes reformistas, a questão relacionada ao gênero humano ultrapassou às ciências biológicas para posicionar-se como convicção puramente psicológica. Esta tese porém, não só contraria a maioria da comunidade científica, bem como o criacionismo em geral, incluindo o misticismo oriental e ocidental. Pois, esoteristas ou ocultistas veem em toda a manifestação dos seres humanos, nesta realidade tridimensional, um conceito de dualidade, embora, muitas vezes de naturezas distintas e conflitantes mas mesmo assim, dual.

 

Já os antigos filósofos, como Aristóteles por exemplo, criticavam frequentemente a maneira como os religiosos concebiam a Divindade, em especial o antropoformismo. Para Aristóteles, Deus é o “primeiro motor" ao qual necessariamente filiava-se a cadeia de todos os movimentos, pois tudo o que se move é movido por outra coisa. Não pode existir efeito sem causa. No entanto, para Aristóteles, além de causa primeira, Deus é também a causa final que cria a ordem do universo. Nessa teoria, Deus não teria tido começo nem fim. Seria Ele estático e o todo; o começo, o fim e o infinito de tudo que existe ou existiu.

 

Por outro lado, recorro a outro renomado filósofo, este bem mais contemporâneo de Aristóteles. Trata-se do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) e sua controversa afirmação, “Deus está morto”. Essa é uma das declarações mais conhecidas e controversas de Nietzsche, a qual aparece pela primeira vez em sua obra “Assim Falou Zaratustra” (1883/1885). Alguns consideram não só esta famosa frase, bem como tantas outras do filósofo sobre esse assunto, como uma crítica profunda às religiões, enquanto outros a veem como uma declaração puramente niilista, ou seja, não interpretativa em seu sentido literal. Neste caso, seria uma reflexão filosófica sobre as mudanças de mentalidade na cultura ocidental.

 

Apesar de assumir-se, mais tarde, ateu ao estremo, Nietzsche nasceu no seio de uma família religiosa, com seus dois avós sendo pastores protestantes. Aliás, inicialmente, Nietzsche pensou em seguir a carreira de pastor, entretanto rejeitou a crença religiosa durante sua adolescência e o seu contato com a filosofia afastou-o da carreira teológica. Sua mudança de pensamento deu-se pela crença de que Deus historicamente forneceu (de fato) uma base moral de significado à vida. Por outro lado, a religião estava perdendo sua influência e relevância, um processo que segundo alguns, continua até os dias de hoje. E assim, com o declínio da influência religiosa, Nietzsche previa uma crise na compreensão tradicional de valores, ou seja, sem a crença em um Deus, a sociedade deveria encontrar novas bases éticas para dar significado à vida. Por isso, para alguns teólogos e filósofos, a afirmação "Deus está morto" pode ser interpretada como um convite à humanidade a assumir a responsabilidade de compreender a realidade da vida sem depender de sistemas de crenças religiosas tradicionais ou não.

 

Em termos ilustrativos, aliás, recentemente tive a oportunidade de assistir a um debate composto por um astrônomo e um biólogo, ambos ateus assumidos, versus um conhecido professor de filosofia e teologia, fervoroso praticante do catolicismo romano. As argumentações foram de alto nível, mas os cientistas ateus, por assim dizer, vez ou outra, escorregavam na pejoratividade ao referirem-se aos criacionistas como: “defensores do mundo novo”. Em uma ácida alusão à crença de que toda a humanidade descendeu de Adão, como em um passe de mágica”, (Atos 17:26) e não por processo evolutivo ao longo de milhões e milhões de anos, conforme defendem. Já o teólogo, por sua vez evocou inicialmente a tese aristotélica de um Deus inicial, incriado, que deu origem a tudo e a todos. Segundo suas explicações Deus, ou qualquer que seja seu nome, não criou nada, ou seja Ele é Tudo e está em todas as coisas, inclusive nos seres vivos. Para resumir: ao final do debate foi questionado aos preclaros darwinianos, como eles explicariam a evolução do Ornitorrinco, animal que vive na Austrália e Tasmânia e apresenta características muito peculiares. Pois é um mamífero, mas ao mesmo tempo é ovíparo; possui patas e bico semelhante aos patos, mas é carnívoro; nada como peixe, mas é semiaquático. Trata-se de uma espécie monotípica, ou seja, não tem subespécies ou variedades reconhecidas. E, como se sabe, naturalistas e biólogos gostam de falar na Evolução citando sequências de DNA ou genoma, gene, células e suas modificações estruturais, etc, para exemplificar as mudanças na anatomia molecular das espécies. Entretanto, ante o questionamento do teólogo sobre a “evolução” desse animal meta exótico, o biólogo (do debate) simplesmente sorriu timidamente e respondeu: “este foi um dos erros cometido por seu Deus!”

 

Por outro lado, para muitos especialistas em patologias do intelecto um dos maiores problemas nossos - bípedes tridimensionais autodenominados seres humanos - é a literalidade, ou seja, a incapacidade ou até mesmo a indolência interpretativa. Pois, as fontes de conhecimento, sejam científicas ou religiosas (éticas e morais), geralmente nos chegam em formas simbólicas: gráficas e matemáticas ou em metáforas textualizadas.

 

Carl Gustav Jung (1875 – 1961), por exemplo, psiquiatra, psicanalista e psicoterapeuta suíço, fundador da psicologia analítica, em seu livro, “O Homem e seus Símbolos”, remete-nos exatamente aos estudos da simbologia. Nesta obra publicada em 1964, ou seja, três anos após sua morte, Jung acentua que o “símbolo” é a melhor expressão possível de algo relativamente desconhecido, pois ele representa por imagens, experiências e vivências que incluem aspectos conscientes e inconscientes, isto é, desconhecidas da consciência. Aliás, neste livro, o “inconsciente” seria o grande guia, o amigo e conselheiro do “consciente”, e (o livro) estaria diretamente relacionado com o estudo do ser humano e de seus problemas espirituais.

 

Nessa linha de reflexão, ou seja, o simbolismo da origem do universo incluindo a humanidade e seus questionamentos existenciais, não poderia deixar de incluir a famosa e controversa Sequência de Fibonacci.  A qual se trata de uma sequência de números inteiros, começando normalmente por 0 ou 1, dependendo do autor, na qual cada termo subsequente corresponde à soma dos dois anteriores. Se a começássemos pelo número 0 por exemplo, seria, 0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34 e assim sucessiva e infinitamente. Onde 0+1=1; 1+1=2; 1+2=3; 2+3=5; 3+5=8; 5+8=13 e assim por diante. No entanto, a divisão, a partir do terceiro número sequencial pelo imediatamente anterior, em toda a sequência, por exemplo 3:2=1,5; 5:3=1,66; 8,5=1,61; 13:8=1,62; 21:13=1,61; 34:21=1,61 e assim por diante, chegaremos a um número constante de 1,61. Assim sendo a Sequência de Fibonacci disposta em um gráfico e ao tracejá-la a partir do zero (no gráfico) teremos uma forma espiralada crescente rumo ao infinito, pois a constante 1,61, ou número áureo, trata-se da representação de um ângulo aberto, ou seja, em torno de 150 graus. Gráfico este consoante às mais variadas formas (em espiral) encontradas na natureza terrestre e universal. Para quem não sabe, a Sequência de Fibonacci é atribuída ao matemático italiano, Leonardo Fibonacci (1170 – 1250), o qual descreveu geometricamente, no ano de 1202, a partir de apenas um casal, o crescimento de uma população de coelhos, através de sua “Sequência”.

 

Como podemos observar a sequência numérica de Fibonacci e sua disposição gráfica (em espiral) tem muito a ver com a natureza e, portanto, sua aplicação matemática, além de complexa, não vem ao caso nesta reflexão. Pois ocultistas, místicos, alquimistas e organizações esotéricas a ligam, simbolicamente, ao início de tudo. Tendo assim o número 0 (zero) como O Criador, o Início; e a consequente Criação ou Emanação em crescimento ampliado e infinito. Esta definição curiosamente vem ao encontro da teoria aristotélica, em que o número zero, no caso, seria o “Primeiro Motor”, o Incriado que deu origem a tudo.

 

Ainda neste artigo reflexivo quero citar o Tetragrammaton, símbolo esotérico que expressa o poder de Deus sobre a natureza. Contendo em si a somatória dos diversos símbolos que o compõe, passa a ser um Yantra (símbolo) de proteção dos mais poderosos que existem. Simboliza o tempo e o espaço, os ciclos de existência, tudo que nasce, cresce se reproduz e desaparece. Neste símbolo esotérico, que se diga de passagem, de origem criacionista, estão inseridas as quatro letras do alfabeto hebraico הוה; (Yud, Hê, Vav, Hê) ou o nome atribuído a Deus na Torá e no Antigo Testamento que sintetizam a palavra Yahweh.

 

Por fim, gostaria de salientar que a discussão entre criacionistas e evolucionistas não leva a lugar nenhum. Porque nós, seres humanos, dependentes deste “envelope”, conhecido como corpo material, limita-nos a tal ponto de não termos condições de responder com precisão as três perguntas básicas: quem sou? De onde vim? E, para onde vou? No entanto, a reflexão individual e o respeito à opinião alheia além de salutar já se trata de um bom começo. Aliás, o eminente Dr. Charles Darwin ao olhar certa vez para os “centros da criação” para explicar a distribuição das espécies sugeriu que a similaridade das formigas-leão achadas na distante Austrália da Inglaterra, onde vivia, era, sem dúvida, evidência da Mão Divina.

 

Luiz Carlos Gomes
Enviado por Luiz Carlos Gomes em 31/03/2024
Reeditado em 04/04/2024
Código do texto: T8031557
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