A SOCIEDADE DOS ÚLTIMOS HOMENS

Nietzsche, em seu livro mais célebre, "Assim Falou Zaratustra", nos apresenta o conceito de último homem, que seria a antítese do super-homem. Zaratustra, ao ver que seu público não se impressionou com o conceito de super-homem, o profeta então decide falar sobre a vaidade dos homens e apresenta o tipo de homem mais baixo, o último homem. Ele representa o tipo de pessoa que Nietzsche considera ser o resultado final da decadência cultural e espiritual da sociedade. O Último Homem é uma figura medíocre, conformista e comodista, que busca apenas o conforto material, evitando desafios, riscos e pensamento crítico. Ele vive uma vida trivial e sem aspirações elevadas, contentando-se com prazeres superficiais e evitando qualquer forma de sofrimento ou confronto com o desconhecido. Para Nietzsche, o advento do Último Homem representa um declínio na busca pela grandeza humana e na capacidade de superação de desafios, resultando em uma sociedade enfraquecida e sem vitalidade espiritual.

 

E nossa sociedade atual, portanto, é a dos últimos homens, mais do que era na época de Nietzsche. O último homem é o que tem de mais desprezível na face da terra, é uma figura aterrorizante que assombra a humanidade desde o advento do homem moderno. São pessoas mornas, que não se distinguem de nenhuma forma, que não criam novos valores e precisam que as coisas sejam demonstradas para elas aderirem. Adoram tendências, são grandes entusiastas das redes sociais e preocupam-se com sua saúde, são os adeptos do maratonismo e da academia, porque esta na moda. Eles são todos uniformes e procuram ser iguais uns aos outros, para ninguém os diferenciar dos demais.

Têm a tendência gregária de procurar vizinhos para se escorar, e acreditam que inventaram a felicidade, com sua busca por prazeres mundanos e fáceis. O Ultimo Homem normalmente é o adepto do politicamente correto, da linguagem neutra, e é contra a tudo que é mais nobre e notável no ser humano, que é sua capacidade de criar.

E você identifica-se mais com o super-homem ou com o último-homem?

 

Eis a célebre passagem:

 

"Eles possuem algo de que se orgulham. Como chamam mesmo o que os faz orgulhosos? Chamam de cultura, é o que os distingue dos pastores de cabras. Por isso não gostam de ouvir a palavra 'desprezo' quando se fala deles. Então falarei ao seu orgulho.

 

Então lhes falarei do que é mais desprezível: ou seja, do último homem. E assim falou Zaratustra ao povo: É tempo de o homem fixar sua meta. É tempo de o homem plantar o germe de sua mais alta esperança. Seu solo ainda é rico o bastante para isso. Mas um dia este solo será pobre e manso, e nenhuma árvore alta poderá nele crescer. Ai de nós! Aproxima-se o tempo em que o homem já não lança a flecha de seu anseio por cima do homem, e em que a corda do seu arco desaprendeu de vibrar! Eu vos digo: é preciso ter ainda caos dentro de si, para poder dar à luz uma estrela dançante. Eu vos digo: tendes ainda caos dentro de vós.

 

Ai de nós! Aproxima-se o tempo em que o homem já não dará à luz nenhuma estrela. Ai de nós! Aproxima-se o tempo do homem mais desprezível, que já não sabe desprezar a si mesmo. Vede! Eu vos mostro o último homem. "Que é amor? Que é criação? Que é anseio? Que é estrela?" — assim pergunta o último homem, e pisca o olho.

 

A terra se tornou pequena, então, e nela saltita o último homem, que tudo apequena. Sua espécie é inextinguível como o pulgão; o último homem é o que tem vida mais longa. "Nós inventamos a felicidade" — dizem os últimos homens, e piscam o olho. Eles deixaram as regiões onde era duro viver: pois necessita-se de calor.

 

Cada qual ainda ama o vizinho e nele se esfrega: pois necessita-se de calor. Adoecer e desconfiar é visto como pecado por eles: anda-se com toda a atenção. Um tolo, quem ainda tropeça em pedras ou homens! Um pouco de veneno de quando em quando: isso gera sonhos agradáveis. E muito veneno por fim, para um agradável morrer. Ainda se trabalha, pois trabalho é distração. Mas cuida-se para que a distração não canse.

 

Ninguém mais se torna rico ou pobre: ambas as coisas são árduas. Quem deseja ainda governar? Quem deseja ainda obedecer? Ambas as coisas são árduas. Nenhum pastor e um só rebanho! Cada um quer o mesmo, cada um é igual: quem sente de outro modo vai voluntariamente para o hospício. "Outrora o mundo inteiro era doido" — dizem os mais refinados, e piscam o olho. São inteligentes e sabem tudo o que ocorreu: então sua zombaria não tem fim. Ainda brigam, mas logo se reconciliam - de outro modo, estraga-se o estômago. Têm seu pequeno prazer do dia e seu pequeno prazer da noite: mas respeitam a saúde. "Nós inventamos a felicidade" — dizem os últimos homens, e piscam os olhos.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 20/04/2024
Reeditado em 20/04/2024
Código do texto: T8046220
Classificação de conteúdo: seguro