A VERDADEIRA QUESTÃO AMBIENTAL

A VERDADEIRA QUESTÃO AMBIENTAL

LUIZ EDUARDO CORRÊA LIMA

Estamos comemorando 36 anos do “Dia Internacional do Meio Ambiente”. Depois de, pelo menos, 3.000 anos fazendo coisas erradas, descobrimos, há apenas 36 anos atrás, que existe uma questão ambiental e que precisamos cuidar bem do único planeta que temos e de onde tiramos tudo o que usamos. Entretanto, é bom que se diga que o principal problema na questão ambiental que hoje estamos vivenciando não é, de forma alguma o aquecimento global, ou mesmo o desmatamento das florestas tropicais, ou ainda a poluição hídrica, ou atmosférica ou edáfica. Essas são meras conseqüências do grande problema que temos. O problema ambiental crucial é o aumento descontrolado da população humana sobre o planeta, pois é desse aspecto que decorrem todos os outros problemas ambientais.

Nossa espécie tem sido de uma eficiência reprodutiva tremenda, pois com todas as guerras, com todas as catástrofes, com todas as doenças e com todos os flagelos que a humanidade tem sofrido ao longo da história, nossa população nunca parou de crescer e nos últimos anos esse crescimento foi vertiginoso. Como uma bola de neve, o crescimento populacional da humanidade tem impulsionado os demais problemas ambientais, os quais, conseqüentemente, também crescem sem parar e são cada vez mais catastróficos.

O aumento da população humana faz com que haja necessidade de aumentar a retirada de recursos naturais, aumenta a necessidade de espaço para os humanos e suas tarefas, aumenta a quantidade de resíduos, aumentando também a poluição e a degradação ambiental, além de várias outras coisas que prejudicam o meio ambiente global, danificando o planeta, extinguindo espécies e diminuindo a qualidade de vida da humanidade. Em suma: “não é possível controlar a degradação ambiental se não tivermos uma detenção no crescimento populacional da humanidade”.

Se fizermos uma revisão histórica e observarmos o que aconteceu com a curva do crescimento populacional humano, veremos que, para atingir o primeiro bilhão de humanos sobre o planeta foram necessários milhares de anos, pois isso ocorreu desde o início dos tempos humanos até aproximadamente o ano de 1750. Para atingir o segundo bilhão, levou cerca de 190 anos, desde 1750 até mais ou menos o ano de 1940. Desta última data até o ano 2000, ou seja, em apenas 60 anos, atingimos a magnífica e assustadora marca de seis bilhões de humanos sobre a Terra. Quer dizer, levamos quase toda a história humana para atingir um bilhão, menos de duzentos anos para dobrar o bilhão e pouco mais de 50 anos para triplicar os dois bilhões e atingir a atual marca que supera os seis bilhões.

Não parece possível, mas alguma coisa tem que estar errado com a taxa de fecundidade de nossa espécie e com sua capacidade tão profícua de reproduzir-se. Na natureza, não é comum uma população crescer tão rápido e as poucas que assim fazem, também decrescem muito rapidamente e não sobrevivem por muito tempo. Ou seja, a extinção chega muito rápido para essas espécies.

Até onde iremos chegar? Até quando o planeta agüenta? É possível reverter o quadro? E se não for, o que faremos?

A situação e o momento que estamos vivenciando são, de veras, preocupantes, e não temos, efetivamente, nenhuma resposta para nenhuma das perguntas anteriores. Entretanto, não é esse o pior problema. A questão maior é que o tempo passa e continuamos a não fazer absolutamente nada sobre o caso.

Tirando uns poucos cientistas e ambientalistas que vira e volta lembram do problema, ninguém mais discute e nem diz nada sobre esse tema. Parece haver um grande tabu, quanto ao crescimento populacional humano. Os governos, a sociedade civil e as instituições (principalmente as religiosas), não parecem estar preocupados com o assunto e continuam indiferentes ao problema. Todos falam da necessidade de resolvermos a questão ambiental, porém ninguém faz menção ao crescimento populacional.

Enquanto a gente continuar se preocupando apenas com os efeitos produzidos pela degradação ambiental contínua e não nos detivermos e investirmos em nenhuma ação efetiva contra a causa primária, que é o crescimento populacional, não haverá como resolver os problemas ambientais. Quer dizer, tudo o que se fizer, será sempre paliativo. Estamos trocando seis por meia dúzia. E no fim o resultado é sempre zero. Ou melhor, na verdade, o resultado é sempre negativo, porque o empate, nesse caso, é uma derrota, haja vista que a degradação sempre acaba aumentando.

A ONU e todas as nações do mundo devem conduzir uma grande discussão internacional sobre a temática dos males produzidos pelo crescimento populacional desenfreado da população humana e sobre a necessidade de serem produzidos mecanismos que promovam o controle da natalidade. Esses mecanismos deverão ser viabilizados o mais rápido possível. Acordos internacionais são prementes nessa área e hoje, já virão com grande atraso.

O planeta que hoje abriga, além de toda a diversidade biológica (cerca de 20 milhões de espécies vivas), mais de seis bilhões de humanos e cujos recursos naturais já estão, em várias situações, quase totalmente exauridos, não suporta mais. A continuar assim, com esse crescimento populacional desenfreado e absurdo, o fim estará próximo, pelo menos para nós, humanos e talvez para todo o planeta. A Terra não agüentará mais uma dobrada da população humana, nos próximos 30 a 50 anos.

Olhe para o seu lado e tente imaginar que a quantidade de tudo o que você vê (exceto de recursos naturais que já deverão ter se exaurido totalmente), daqui a 50 anos estará, no mínimo, dobrada. Ou seja, onde você está agora, existirão duas pessoas com todas as necessidades humanas que você tem, daqui a 50 anos. Acho que fica muito claro, que isso não vai ser possível.

Urge que alguma coisa seja feita para impedir o colapso que nos espera. É preciso que a sociedade como um todo e principalmente certos segmentos religiosos, caiam na realidade e parem de fazer devaneios e acreditar em milagres, pois efetivamente, pelo menos nessa questão, eles não existem. O mundo é físico e não metafísico e o que não cabe no mundo físico não pode ser discutido, por uma simples questão de sobrevivência humana.

A verdade física está na Lei de impenetrabilidade da matéria que diz que “dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo” e sendo assim, não há como colocar mais humanos no planeta sem tirar outras coisas dele. Lamentavelmente, o planeta não cresce como a população humana. Nessa escalada, haverá (talvez, já esteja havendo) um momento em que faltará um dos dois, ou seja, ou faltam humanos ou faltam as coisas que os humanos e as demais criaturas vivas do planeta tanto necessitam. No caso em questão, as coisas já estão faltando há muito tempo.

Sendo assim, o crescimento da população é, indiretamente, também o seu extermínio, pois a competição entre nós e as demais criaturas da Terra é cada vez maior e para sobrevivermos estamos sempre destruindo alguma coisa, até mesmo outros humanos. Ao invés de nos destruirmos, certamente será bem melhor mantermos a medida devida do equilíbrio para nós e para o planeta. O tamanho de nossa população parece já ter chegado nesse nível satisfatório e não deve crescer mais para o bem da Terra e de toda a humanidade.

Como espécie biológica só buscamos a nossa manutenção no planeta e, nesse sentido temos que tentar sobreviver a qualquer custo. Mas, por outro lado, como seres humanos, buscamos a felicidade e para tanto precisamos refletir e avaliar o que temos feito com o planeta, pois não poderemos ser felizes sem a nossa casa, a única que temos, o planeta Terra.

A maneira correta de mantermos o meio termo entre a nossa condição de ser biológico (natural) e a nossa condição de ser humano (social) é controlando o tamanho de nossa mancha populacional e o uso de tudo o que precisamos para nos manter vivos no nosso planeta azul. O Desenvolvimento Sustentável que tanto se fala, não é possível sem o controle do crescimento da população humana no planeta.

O planejamento familiar deve ser item prioritário nas pautas das reuniões dos governos e também deve ser matéria obrigatória nos programas de Educação. A Educação Ambiental, hoje tão em moda, deverá tratar a questão da reprodução humana e do planejamento familiar da maneira mais objetiva que puder, ressaltando as conseqüências desagradáveis e maléficas do aumento da população humana no planeta.

O mundo precisa saber que não podemos mais reproduzir indefinidamente, pois há um limite de suporte para a Terra. A imprensa precisa trabalhar essa questão da forma mais agressiva possível, para que as pessoas tomem consciência do que significa cada ser humano a mais no planeta.

No passado errávamos porque desconhecíamos, mas hoje, não há mais porque errar. Somos cientes dos males que produzimos ao planeta e a humanidade e quanto maior for a população humana maior será esse mal, até o momento em que entremos numa situação irreversível. Até aqui, só extinguimos prematuramente outras espécies, mas ao que parece, ainda não estamos satisfeitos e caminhamos para o fim da espécie humana.

Apenas uma espécie nesse planeta é capaz de julgar os seus erros e modificar suas ações conscientemente. Se nós humanos não nos lembrarmos desse fato e se não quisermos, efetivamente, mudar a realidade das coisas, dificilmente o Homo sapiens sobreviverá.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (52) é Biólogo (Zólogo), Professor Universitário e Ambientalista