Algumas coisas importantes para quem gosta de animais

Algumas coisas importantes para quem gosta de animais

Luiz Eduardo Corrêa Lima

(Professor Titular de Biologia – FATEA/Lorena/SP)

No que diz respeito aos animais e a forma de como tratá-los, dependendo do enfoque que se queira dar, existem várias situações e conceitos a serem considerados e aplicados para garantir o bem estar dos mesmos. Entretanto, algumas dessas regras devem estar bem claras na mente de qualquer indivíduo que queira tratar com animais, pois do contrário se estará produzindo mais malefício do que benefício aos animais e certamente não é isso que se deseja.

Primeiramente é preciso entender que um animal silvestre é qualquer animal vindo da natureza, independentemente de ser nativo (natural do Brasil) ou exótico (vindo de outro país). Portanto, animal silvestre é sinônimo de animal selvagem, daqui ou de qualquer outro local. O animal silvestre não deve, de maneira nenhuma, ser mantido em casa junto de humanos, seu lugar ideal é aquele local onde ele ocorre normalmente na natureza.

Por outro lado, alguns animais há muito tempo já estão próximos ao homem e muitos são criados como Animais de Estimação. Nosso trabalho na modificação genética gradativa de algumas espécies de animais ao longo do tempo nos permitiu levar algumas dessas espécies de animais a se adaptarem e viverem próximo de nós. Isso obviamente tem um lado positivo, principalmente para nós humanos. Mas, sempre é bom lembrar que um Animal de Estimação é, em certo sentido, um animal de cativeiro (escravidão), como o nome diz é o animal cativo, mantido preso, privado da liberdade e forçado à escravidão.

Na minha modesta maneira de entender, qualquer animal ao nascer, assim como o homem, deveria ser livre, não cativo e deveria ser mantido em liberdade por toda a sua vida. Porém, é claro que existem situações em que o animal é naturalmente privado de sua liberdade e isso é assim mesmo, ou seja, esta é a lei da natureza. O homem pode e deve auxiliar nesses momentos, mas é ilusão achar que um leão criado em casa vai agir sempre como um “bichinho de estimação”. Em suma, a natureza e a liberdade devem ser os principais atributos para a vida de um animal, seja ele qual for.

A natureza não escolhe nada, tudo ocorre ao acaso e exatamente nessa hora, de repente, surge o homem querendo “acertar o erro da natureza”. Ora, isso até parece piada, “o homem querendo corrigir a natureza”, mas é assim que muitos, até mesmo alguns, bem intencionados, pensam e o que pior, agem. Entretanto, isso não pode ser verdadeiro, pois quando muito, o que o homem pode fazer é tentar minimizar o dano natural ao animal em questão, mas certamente sem antropomorfizar o animal, tratando o mesmo como uma criança ou humano dependente, como geralmente acontece. Nada disso, o animal deve ser tratado como animal, pois essa é a sua condição natural e o homem deve respeitar esse fato. O homem pode ajudar, mas não deve interferir de forma a modificar a condição do animal em questão.

Mas, os problemas não param por aí, porque essa coisa é muito complexa mesmo e muitas pessoas que gostam de animais, pensam que tratar os animais de forma antrópica é um benefício para eles, porém isso é um grande erro. A melhor condição e o melhor lugar para qualquer animal é a liberdade na natureza e a melhor vestimenta para qualquer animal é aquela que a natureza lhe deu, sua pele, seu pelo, sua pena, suas placas, etc. Qualquer coisa diferente disso pode fazer bem ao ego do humano que tenta facilitar a condição, porém é ruim para o animal em si, porque isso pode criar uma dependência para a qual o animal nem sempre estará preparado. Essa é uma regra que deve estar clara na mente dos humanos amigos dos animais.

Animais silvestres, nativos ou não, oriundos ou não de cativeiro devem ser tratados como animais silvestres, pois do contrário serão formas diferentes que não se ajustarão nem como animais que são e muito menos como humanos dependentes que algumas pessoas querem que eles sejam. Infelizmente a história mostra que o homem já tirou muitos animais da natureza e transformou as suas histórias evolutivas em contos da carochinha, os quais não terão finais felizes, mas isso tem que acabar. Não há motivo lógico e muito menos necessidade para que se queira antropomorfizar outras espécies naturais, portanto animais silvestres devem continuar lindos e maravilhosos, porém silvestres, ou seja, vivendo em seus respectivos ambientes naturais.

Outra questão que precisa ser discutida é a que diz respeito aos “animais domésticos” (expressão terrível e lamentável), mas infelizmente é como são denominadas aquelas espécies de animais que estão diretamente ligados à espécie humana ao longo dos tempos, por conta de processos de domesticação e modificação genética através de seleção artificial produzida pelo homem. Para esclarecer melhor o que estou dizendo sobre o termo “animais domésticos”, sugiro a leitura do artigo Animais “Úteis” X Humanos “Inúteis”, que publiquei aqui mesmo no site do Recanto das Letras.

Pois então, quero crer que mesmo os chamados “animais domésticos”, não gostam de ser tratados como se fossem seres humanos, embora constantemente sejam tratados dessa maneira. Por exemplo, hoje é comum ver gato tomar leite e cachorro “chupar” bala, comer bolo, “chupar” sorvete e inúmeras outras coisas absurdas, como animais envoltos em roupas como fazem os humanos para se protegerem. Obviamente o humano que permite e apoia esse tipo de ação deve ser bem intencionado e deve achar que está fazendo um bom negócio para o animal, mas lamentavelmente a realidade é outra.

Gatos e cachorros são mamíferos carnívoros e não deveriam se alimentar dessas coisas. Mesmo o leite colocado para o gato é um erro, porque na natureza mamífero nenhum toma leite depois de adulto, principalmente uma espécie carnívora. Quer dizer, o indivíduo humano pensa que está fazendo o bem, mas está, pelo menos em certo sentido, prejudicando o seu animal de estimação, pois além de estar estragando, por exemplo a dentição do animal, também está criando novos hábitos para os quais possivelmente esses animais não estejam geneticamente preparados e além disso, está mudando cada vez mais a natureza do seu animal de estimação. É por isso mesmo que hoje é comum encontramos cachorros obesos, com diabetes e outras coisas dessas, que na natureza muito provavelmente não devem existir.

Mas, uma vez eu digo: isso não pode ser bom para o animal. Cachorros, gatos e outros animais são espécies que já estão há muito tempo selecionados e modificados geneticamente pelo homem, mas, ainda assim, devem ser tratados como animais e não como crianças ou humanos dependentes. Obviamente que os animais devem ser tratados com todo respeito e carinho possíveis, porém sem exageros.

Se você gosta mesmo do seu animal, passe a respeitá-lo e tratá-lo como um animal que certamente ele ficará muito mais feliz. É ilusão pensar que dando banho no meu gatinho com sabonete perfumado ou fazendo poda regular no meu cachorro eu estou fazendo um bem para ele. Na verdade, quem age assim pode até estar fazendo um bem a si mesmo, ao seu ego, porém acaba fazendo um grande mal ao seu animal.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (56) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Ambientalista e Escritor.