Um Instante No Paraíso

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

Na visita ao Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG… Não respirei por instantes, as impurezas do ar metropolitano; advindo em maior quantidade, de motores veiculares; no processo da queima do combustível fóssil. Descansei meus tímpanos já gastos por ruídos incessantes da grande cidade. Relevante investimento que fiz com uma leva de futuros Agentes Ambientais. — Nesse parque natural, mesmo no imitar do beija-flor (num ir e vir rapidamente) ao degustar o néctar.

Me senti em casa...

Tudo era novidade por lá, para nós do grupo, naquela visita pedagógica e conclusão de curso. Notei uma leveza no corpo, uma folga na alma; ao pôr os pés naquele santuário de encantos mil. Senti-me como se fosse de lá; num retorno após anos, ausente do meu ambiente nativo… No Recreio provei do doce das frutas e do prazer das massas; matei a cede, na fonte das águas que carreavam a vida no seu curso natural. Abracei um velho jequitibá; como os povos indígenas o fazem. Naquele instante, fiz os meus pedidos, como eles… Abraçado à centenária árvore olhei sua copa a querer acesso às nuvens, e vi-me mais perto do céu, de Deus.

Palmeira-jucara...

Guardei na lembrança e, num arquivo pessoal as belas imagens da palmeira-juçara. — A que fornece ao homem o palmito, o trabalho, o pão de cada dia, na mesa. Morri de dó ao saber que, tais palmeiras são sacrificadas, muitas vezes, sem misericórdia ou critérios racionais. Uma chuva fina, repentina, recepcionou a equipe de alunos, professores, monitores… aquele paraíso urbano. Fomos bem-recebidos, no mistério da Natureza. Sentimo-nos abraçados, pela paz do silêncio, pelo frescor da mata. — Em cheiro suave de terra molhada. Na recepção pisava-se o tempo todo num tapete vegetal de folhas secas, caídas, a se decompor no pisoteio dos bichos, dos microorganismos; no piso úmido e frio da floresta.

Senti a fata das aves...

Incrível, mas o paraíso naquele dia, não estava completo: senti a falta dos pássaros que os tinha por certo. — Tomaram voos ignorados… Com os meus cabelos brancos, conheci o pau-Brasil, o que deu o nome ao meu país. Revi outras espécies vegetais: o umbuzeiro, pau ferro, cedro, jacarandá… Pelo caminho deixei a turma seguir, encantado com a beleza de um jardim em flores.

Uma dádiva do Criador a nós… Aquele encanto de floresta é realmente um refúgio para nossas almas… Controla o microclima urbano, facilita a infiltração das águas pluviais, preserva a flora, a fauna local, a vida. Serve de lazer à população, de estudos à comunidade científica; educação ambiental, dentre tantas outras atribuições…

Tive fome...

Ao sentir a fraqueza, meu corpo implorou por energia. No turno da tarde, lanchei com os cursistas e coordenadores do curso BH Itinerante, edição XXXIII. Com idosos do curso, rodeado da criançada da Escola Santa Maria.

Cheiro de infância... Há um poço de turvas águas no meio do paraíso somente meu. Com bastante vida aquática (ufa!). Dei pitangas aos peixes em festas, agradecidos da chuva caída à tarde. Vi a minha velha canoa do tempo de menino, ancorada no porto da minha infância…

Poesia...

Beijei o coração de Cora Coralina, na sua poesia, presa num recipiente com sementes de árvores nativas, que ganhei da aluna Berta Vieira, minha eterna professora do Ensino Médio (que não deixou de aprender).

Anoiteceu…

Após aquele instante apoteótico no paraíso, ao avistar a noite vi a lua querer banhar à terra em prata e, descansei meu corpo inteiro…

Após hospedar-me no hotel das abelhas solitárias, em sono-tranquilo, reparador…

*Nemilson Vieira de Morais

Gestor Ambiental/Acadêmico Literário (24:11:16).