O gato no telhado

Os eventos climáticos extremos observados em todo o planeta são evidências incontestáveis de que a estabilidade do clima foi desarranjada. Há algum tempo mudanças climáticas acentuadas se fazem presentes, sem que as lideranças mundiais encontrem um ponto de consenso para minimizar os efeitos danosos das constantes e intermináveis agressões ao meio ambiente. O aquecimento global alterou significativamente as propriedades de precipitação pluviométrica em frequência, intensidade e duração, fator que vem causando verdadeiras tragédias, ceifando vidas e infligindo prejuízos bilionários às nações atingidas.

As recentes e catastróficas inundações na Líbia, os apocalípticos incêndios que assolaram o continente europeu, os vendavais e as enchentes na região sul e ainda, a estiagem implacável no norte do Brasil mostram o destempero do clima. É sabido que os maiores responsáveis pelas mudanças climáticas são os gases de efeito estufa, emitidos principalmente pela queima de combustíveis fósseis e em decorrência do desmatamento sem controle, mesmo que as autoridades responsáveis se apressem em alardear o contrário. A Floresta Amazônica já perdeu mais de vinte por cento de sua área e tudo indica que o processo de desmatamento continuará acelerado. Sem a devida preservação, o País perderá cinquenta por cento da cobertura original de todo o território amazônico até 2050 e consequentemente, esse será o fim de sessenta por cento das espécies vegetais que ali vivem.

Mas esses dados alarmantes não têm a capacidade de sensibilizar a imensa maioria da população brasileira, tradicionalmente alheia às suas responsabilidades com o meio ambiente. Continuamos a incorrer nos velhos hábitos danosos de outrora. O descarte de todo tipo de material em terrenos baldios, fundos de vale ou em qualquer lugar é prática recorrente. Nossa maior riqueza está sendo gradativamente consumida pela ignorância de um povo insensível e relapso ao extremo. A água potável, hoje ainda em abundância, é inexplicavelmente desperdiçada pelo uso excessivo e inconsequente. As nascentes carecem de proteção adequada, os cursos d’água são continuamente poluídos com materiais como plásticos, madeira, móveis, pneus e tudo o que não se presta mais para o uso. Gradativamente assoreados e contaminados por diferentes poluentes químicos como detergentes, graxas e esgoto residencial, os córregos, riachos e rios agonizam.

Os infratores da legislação ambiental, se e quando eventualmente autuados pelos danos causados ao meio ambiente, são contemplados com uma infinidade de recursos protelatórios, fator que estimula a prática criminosa. A expansão de novas fronteiras agrícolas é uma séria ameaça à preservação da fauna e da flora dos diferentes biomas. O plantio de árvores para reflorestamento, que promovem a remoção de gás carbônico da atmosfera e restabelece o equilíbrio do ecossistema local não é prioridade para os proprietários rurais, que naturalmente esperam rentabilidade em seus investimentos.

As ocorrências climáticas extremas e seus drásticos efeitos diante da insensibilidade humana remetem à conhecida anedota do imigrante lusitano, que indignado com a abrupta notícia da morte do felino de estimação, recomendou que os relatos oriundos de sua terra natal deveriam ser enviados em doses homeopáticas, para prévia assimilação. E a próxima carta foi seguida à risca: “Sua mãe subiu no telhado”. Infelizmente, essa é a situação atual desse nosso maltratado planeta. O gato subiu no telhado. Outras péssimas notícias certamente farão parte do cotidiano das pessoas, por ação ou omissão direta de cada habitante desse planeta. Dizem que ainda há tempo para se tentar remediar as coisas. Ou não.