Por que os Professores nunca ficam velhos?

Por que os professores nunca ficam velhos?

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Desde o início de minha carreira como Professor de Biologia, há pouco mais de 33 anos atrás, ouço muitos de meus alunos falarem, quando se encontram ocasionalmente comigo em algum lugar, algum tempo depois que lhes ministrei aulas: “Professor, o Senhor não envelhece nunca”. Embora essa afirmativa seja bastante interessante para o nosso ego, pois não envelhecer seria mesmo um bom negócio, infelizmente, na prática, sabemos que ela obviamente não é verdadeira, porque o envelhecimento é um processo natural pelo qual nós humanos e todos os demais organismos vivos passam ao longo da vida e não é possível ser diferente.

Entretanto, apesar disso, até hoje tenho na memória a imagem de muitos de meus professores do passado, a grande maioria deles certamente já não está mais presente nesse mundo, mas guardo também uma imagem jovial dos mesmos, independentemente da idade que cada um deles tivesse no momento em que me ministraram aulas ou quando, por algum motivo, tive qualquer relacionamento mais próximo ou mesmo encontros fortuitos que podem ter acontecido entre mim e qualquer um deles. A imagem que fica é sempre de uma figura jovem, animada e agradável, mesmo aqueles professores com quem me relacionei pouco, mas que de alguma maneira marcaram minha formação e minha vida.

Questionei a alguns amigos meus, também professores, sobre essa questão, ou seja, o sentimento que tinham de seus velhos professores, e quase todos concordaram que também sempre tiveram uma perspectiva jovial de seus ex-professores. Isto quer dizer que, aquilo que meus alunos falam quando me encontram e percebi que eu também sentia em relação aos meus professores, parece que é igualmente verdadeiro para os demais professores com quem conversei. Desta maneira, embora seja um contra-senso, há um sentimento coletivo comum de que realmente “os professores nunca envelhecem”.

Caramba! Fiquei encucado e “com a pulga atrás da orelha”, por conta desse estranho fato. Liguei o meu “disconfiômetro” e perguntei a mim mesmo: Que mágica é essa que faz parecer que os professores nunca ficam velhos?

Pensei com meus botões e cheguei a uma modesta opinião, um simples palpite, mas que me parece coerente, que gostaria de comentar, discutir um pouco e principalmente dividir e externar com outras pessoas esse sentimento. É por isso que estou aqui e resolvi escrever sobre esse assunto, aproveitando também a proximidade de mais um 15 de outubro, o dia do professor.

Em minha opinião, só existem duas justificativas que podem ser propostas para tentar explicar esse fenômeno “dos professores nunca ficarem velhos”. Essas justificativas podem ser consideradas isoladamente, mas acredito que ambas atuem concomitantemente na produção desse estranho efeito.

A primeira delas está relacionada com a necessidade constante que o professor tem de se atualizar e de se aprimorar, galgando novos conhecimentos, principalmente na sua área específica de atuação. O professor, independente da área de atuação é um eterno estudante e como tal, vive praticamente da mesma maneira que seus alunos, isto é, estudando e aprendendo constantemente. Assim, o professor está sempre preso diretamente ao ambiente escolar e a tudo que dele deriva, tanto em prazeres quanto em obrigações. Sua existência pessoal está intimamente relacionada com sua atividade profissional e a escola e a casa se confundem muito na vida do professor.

A segunda maneira está relacionada com a convivência cotidiana com o jovem. O aluno quase sempre é mais jovem que o professor e as escolas estão cheias de alunos, os quais costumeiramente são pessoas muito jovens. O entusiasmo dos alunos na escola, pelos mais diversos motivos; a maneira ativa e descontraída de viver no ambiente escolar; a energia positiva que eles irradiam nas diferentes ações que desenvolvem e principalmente o jeito alegre e sempre jovial que transmitem, independentemente da idade que possuam, parecem ser diretamente assumidas pelos professores.

Independentemente de todos os problemas pessoais ou profissionais, estando na escola, mesmo triste, aborrecido ou chateado, o professor quase sempre apresenta aquele sorriso estampado no rosto, em recíproca ao aceno ou ao cumprimento de seu aluno. Embora até possa existir, eu nunca vi e acredito que seja bastante raro, se observar um professor que esteja sempre sisudo. Mesmo quando o professor fica bravo com a turma e manda a bronca, logo que passa a hora da bronca, a cara dele fica animada e alegre outra vez. Professor aborrecido, não consegue se manter na escola, até porque, o ambiente escolar é naturalmente alegre.

A convivência diuturna com os jovens e a necessidade constante de aprimoramento profissional e enfim o envolvimento constante com o ambiente escolar são as grandes vantagens que os professores têm sobre os profissionais de outras áreas e acredito fielmente que seja por isso que: “os professores nunca ficam velhos”. Ou melhor, se eles até ficam velhos, do ponto de vista físico, eles se mantêm sempre jovens de espírito. A aura do professor é resplandecente, se exterioriza e nunca envelhece.

Professores são pessoas especiais, as quais são capazes de se manterem ativas por mais tempo que qualquer outro profissional de qualquer outra área, pois o exercício constante do intelecto e a busca efetiva do conhecimento, para si e seus alunos, contribuem acentuadamente para isso. Mas, essa condição especial só existe porque, no ambiente escolar, o professor cria uma dependência com a proximidade local, a similaridade funcional e a convivência coletiva e direta com os seus alunos.

Parece incrível, porém isso transcende o limite da sala de aula e o professor sai da escola e vai para casa, aborrecido ou não, alegre ou não, satisfeito ou não, mas reluzindo e sendo fonte de transporte da energia que adquiriu com seus alunos. Sua cara não pode ser outra, senão a cara do conjunto de seus alunos e por isso eles aparentam estar sempre novos. A fonte da eterna juventude dos professores são os alunos à sua volta, a energia que eles irradiam e o carinho que a maioria deles alunos transfere gratuitamente.

Como qualquer ser humano e aliás, como qualquer organismo vivo, um dia eu, assim como todos os professores vamos morrer, mas certamente morreremos jovens, porque teremos acumulado muita energia nos inúmeros anos de exercício da profissão de professor que cada um de nós viveu. Dizem que o vinho, quanto mais velho, melhor é o seu sabor. Pois é, o professor pode até não melhorar muito no seu trabalho profissional com a idade, até porque a idade traz naturalmente outros problemas ao corpo físico, mas, por outro lado, o professor certamente rejuvenesce o seu espírito e irradia mais jovialidade. Assim, ele parece sempre estar jovem.

Bons professores são, antes de tudo, bons espíritos e com o tempo acabam ficando melhores, porque seus alunos lhes emitem cada vez mais energia. Ao contrário das outras profissões, os professores, quanto mais velhos ficam, além de possuírem mais conhecimento, também possuem mais energia, porque estudaram mais e conviveram muito mais tempo com os jovens no espaço escolar. Acho que esse é o segredo, essa é a grande mágica que mantém os professores sempre jovens.

Meus amigos e colegas professores, feliz 15 de outubro e mantenham-se sempre jovens, alimentando-se cada vez mais, dessa fonte inesgotável de energia que é o nosso alunado. Não se esqueçam que nossa profissão é a mais antiga e a mais importante de todas, por que é ela que forma todas as outras e talvez seja por isso que tenhamos esse grande carisma com nossos alunos e essa grande dádiva divina de parecer que jamais ficamos velhos.

Ensinar é um atributo natural próprio da essência de nossa espécie, mas facilitar esse processo orientando e permitindo o aprendizado e o entendimento é um atributo particular de algumas pessoas especiais e eternamente jovens, que possuem esse sofisticado e maravilhoso dom e a quem se convencionou carinhosamente chamar de professor.

Caçapava, 15 de outubro de 2008.

Professor Luiz Eduardo Corrêa Lima (52),

Membro da Academia Caçapavense de Letras,