Nova Pedagogia ou velha Demagogia?

Nova Pedagogia ou velha Demagogia?

Luiz Eduardo Corrêa Lima

No passado não muito longínquo a condição de Professor era um qualificativo considerável para poucos indivíduos, os quais eram considerados seres muito especiais, que viviam suas vidas na intenção de ensinar os demais. Você é professor, então deve ser um sujeito inteligente, culto, especial e principalmente que está preocupado em ajudar as demais pessoas a se formarem e consequentemente a desenvolver o país.

Hoje, porém, essa condição está mais relacionada com uma pejoração para muitos que assumem temporariamente a função de professor e lamentavelmente também para alguns professores de fato e de direito. Você é professor, então azar seu, quem mandou não estudar, talvez você pudesse ter sido coisa melhor. É lamentável e muito triste, porém é verdadeiro. Hoje, pelo menos nesse país, que se orgulha de ter um Presidente semi-analfabeto, ser professor é, para muitos, inclusive para o próprio presidente e sua corriola de safados, não ter servido para ser mais nada. Aliás, eu conheço vários amigos professores, que já ouviram a seguinte frase: “professor para que estudar se o Lula nunca estudou e é o presidente do Brasil”. Com esse exemplo fica difícil mudar o quadro. Mas, vamos em frente.

Apesar disso, ultimamente existe alguns “gênios” que têm falado numa “Nova Pedagogia”. Talvez exista alguma idéia que precisa ser restabelecida no momento presente, porém cabe lembrar que se precisa ser restabelecida, não é nova, pois restabelecer é estabelecer de novo, isto é, estabelecer outra vez, algo que já existiu. Entretanto, ao que parece essa “Nova Pedagogia” não existe mesmo, ou se existe é coisa de alguém bem idiota que ainda não entendeu que educação é, em tese, um negócio extremamente simples, que pode ser resumida assim: “quem sabe alguma coisa, ensina para quem não sabe e assim as pessoas aprendem e o conhecimento vai sendo passado ao longo das gerações”.

Possivelmente o problema esteja exatamente aí. Tem muita gente que não sabe tendo que ensinar a quem também não sabe e nem quer aprender e assim não é possível o ensinamento e a passagem do conhecimento. O pior é que o Governo, em todas as esferas, acha que está tudo bem e que é preciso aprovar mais, porque há grande investimento na educação. Aprovar o quê? A quem? Quando? Como? Ora, isso é uma grande piada. A escola como instituição está generalizadamente mal, a escola pública em particular está péssima e assim, o ensino está uma calamidade pública. São maus alunos e piores professores ou vice-versa, dependendo do lugar. De quem é a culpa?

Vários podem ser considerados os culpados, mas há certamente um responsável maior, o sistema e a mentira que se criou em torno desse mesmo sistema. O professor tem se tornado, ao longo do tempo, cada vez mais incapaz de realizar a sua função, porque, infelizmente, a classe como um todo está mais incompetente e tem perdido sua autoridade e isso é conseqüência de vários aspectos.

Primeiramente o professor está sendo progressivamente mais mal formado e isso gera uma insegurança dele próprio em sala de aula. Depois, ele é intimado sob vários aspectos a não tomar atitude nenhuma contrária aos alunos, chegando mesmo a ser ameaçado em seu direito por interesses outros, totalmente alheios à escola. O “bom professor” é aquele que não cria problema para ele, nem para ninguém, independentemente de estar fazendo o seu trabalho e procurando formar os seus alunos corretamente ou não.

Por outro lado, o professor é cada vez mais mal pago pela sua atividade profissional. O salário do professor já chegou mesmo a ser motivo de chacota em várias situações e lugares. Se ser professor já foi um mérito no passado, hoje é demérito, porque só é professor aquele sujeito que não prestou para mais nada.

A condição profissional de professor passou a ser uma sub-profissão, por necessidade de alguns, contingência de outros, incompetência de muitos, porém raramente é por vocação ou por interesse pessoal. Os alunos hoje perguntam: “professor, o senhor trabalha além de dar aulas”? Eu mesmo, infelizmente, já passei por esse questionamento. Quer dizer ministrar aulas não é considerado, sequer um trabalho, nem mesmo por quem recebe esse trabalho. Vejam que coisa violenta contra os poucos indivíduos que, por vocação, efetivamente ainda fazem do magistério sua atividade profissional e sua missão de vida.

Ora, a chamada “Nova Pedagogia” não se ateve a esta situação e não há como mudar a cena se não mudarmos o roteiro, os atores e o cenário. As escolas e os currículos precisam melhorar muito. Os professores precisam ser mais bem formados e respeitados profissional e moralmente. Os alunos precisam entender que as escolas não são apenas um lugar interessante, mas que elas são fundamentais para as suas respectivas formações como indivíduos e cidadãos. Os currículos têm que deixar de ser grandes utopias e passar a ser realidades próximas. Se não for assim, não existe mesmo uma “Nova Pedagogia” e continuaremos demagogicamente “brincando” de fazer educação, porque as escolas continuarão dentro daquele chavão: “o professor finge que ensina e o aluno finge que aprende”. É preciso acabar com esse faz de contas educacional.

Na verdade, infelizmente na escola atual, não há compromisso nenhum com a educação, nem há professores verdadeiros e nem há alunos (estudantes) verdadeiros. A entidade social escola passou a ser um ponto de encontro, onde as pessoas travam contatos apenas sociais, os quais nem sempre são amistosos e que algumas vezes produzem seqüelas lamentáveis. O nome escola é uma velha formalidade estabelecida no passado, que se mantém no presente apenas como tradição. Mas, continua a pergunta: de quem é a culpa?

Como já foi dito, há vários culpados, mas é o sistema que está errado. Devolvam a escola a obrigação de educar e de ensinar. Devolvam a autoridade aos professores. Coloquem professores competentes dentro das salas de aula. Orientem os alunos de que a educação é fundamental para o futuro deles como pessoas de bem e que eles devem ir às escolas para estudar e aprender. Orientem objetivamente os pais dos alunos sobre a importância da escola para seus filhos. Restabeleçam a ordem das coisas nas escolas, sem medo de represálias. Por fim, acabem com a demagogia e com o protecionismo aos maus professores e aos maus alunos. Só assim a escola voltará a cumprir o seu papel como escola e a educação voltará a ser verdadeira. É simples, basta o Governo em todas as suas esferas cumprir a sua parte e a escola, por sua vez, fazer o mesmo.

Não necessitamos de uma “Nova Pedagogia” necessitamos sim de responsabilidade, de seriedade, de coragem e de vergonha na cara, como disse Capistrano de Abreu (1892), para produzirmos um trabalho correto e competente. Escola boa se faz com gente boa e gente boa não se estabelece apenas por boas idéias, mas principalmente por ações que traduzam e pratiquem essas idéias. Não há “Nova Pedagogia” sem entendimento de que a escola, antes de qualquer coisa é uma instituição social que respeita a ordem e os preceitos democráticos, sendo responsável pela produção e transmissão de conhecimentos e, principalmente, pela formação de pessoas.

Todas essas práticas propostas pela “Nova Pedagogia”, inclusive a tal inclusão social, são práticas que deturpam a imagem da escola como escola. Temos que parar com esse negócio, essa demagogia, de achar que todo mundo é coitadinho e de deturpar a noção da palavra democracia. As pessoas são diferentes e devem ser respeitadas nas suas diferenças, o que não significa que devemos tratá-las sempre da mesma maneira, o que devemos nos curvar aos seus respectivos problemas. Ao contrário, devemos sim, respeitar suas diferenças e tentar minimizar as perdas em conseqüência dessas diferenças, mas não tentar estabelecer regras para aquilo que deveria ser exceção.

Meus amigos, chega de propostas pedagógicas de pessoas que estão fora da escola, que não conhecem o problema em si e que estão à margem da realidade social do país. Chega de leis infundadas que desautorizam cada vez mais o professor e que inviabilizam as práticas pedagógicas. Chega de benefícios pseudo-democráticos a pequenos grupos sociais em pretensão a maioria da sociedade. Tratemos de agir real e ativamente pela melhoria da escola, sem preconceitos e sem engodos, pois só assim poderemos melhorar a nossa gente e nosso país.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (52) é Biólogo, Professor, Ambientalista e Escritor;

Membro Fundador da Academia Caçapavense de Letras (Cadeira 25);

Ex-Vereador e Ex-Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.