O Fazer e o Pensar na Educação

O Fazer e o Pensar na Educação

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Muito tem sido dito sobre a necessidade de atividades práticas na formação dos alunos, principalmente nos cursos técnicos e superiores. A priori deve ser admitido que seja mesmo fundamental saber fazer algumas coisas a partir daquilo que se está aprendendo, até para poder justificar e comprovar o próprio aprendizado. Eu não quero aqui, de forma alguma, discordar dessa premissa, mas quero questionar o valor absoluto que tem sido atribuído a ela. Até porque, entendo que fazer sem saber (conhecer) o que se está fazendo é, quando muito, “macaquear” ou “papagaiar”.

Lamentavelmente é isso que tem sido passado nas escolas, pois é exatamente isso que se tem avaliado, ou seja, a capacidade do aluno repetir, imitar, macaquear ou papagaiar algumas coisas. Os alunos são avaliados pela sua capacidade de repetir coisas que, na grande maioria das vezes, não entendem. Desta maneira a escola até cumpre sua função de informar, mas está perdendo a sua função precípua que é formar novos indivíduos e produzir melhores cidadãos para a sociedade

Ora, o conhecimento muda (cresce) a todo instante e as práticas escolares ensinadas e ensináveis são cada vez mais obsoletas e inaplicáveis, salvo raríssimas e preciosas exceções, nas diferentes atividades humanas. Infelizmente, as escolas não têm acompanhado, talvez por questões de ordem principalmente econômicas, o andamento progressivo do conhecimento da maneira como é preciso. Tudo é muito rápido e mesmo com a INTERNET e com as novas técnicas de multimídia para a educação, ainda assim, as escolas de maneira geral não conseguem acompanhar.

Os professores, por sua vez, ainda que alguns estejam muito bem intencionados, raramente têm condições de acompanhar o desenvolvimento cognitivo da Ciência e da Tecnologia. As novas idéias e invenções, quando muito, são vistas na televisão ou lidas em jornais ou mesmo em revistas de divulgação científica, mas não há uma apropriação devida e segura das novas informações e assim dificilmente elas são passadas aos alunos.

Com isso, as práticas são meras encenações de coisas repetitivas e ultrapassadas, nas quais se perde muito tempo, material e principalmente trabalho para um resultado que não poderá ter utilidade nenhuma. Em suma, a realidade é que o fazer nas escolas, limita-se ao repetir e ao copiar aquilo que não condiz com a realidade, porque não se usa mais nas atividades cotidianas de um modo geral. Ou seja, o fazer na escola não se faz adequado na realidade, consequentemente não é contextualizado e contraria os preceitos estabelecidos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96).

Por outro lado, o pensar é livre e permite criar efetivamente novas situações, inclusive algumas não realizadas ainda pela prática cotidiana. Sendo assim, quem pensa é capaz de fazer, mas quem apenas faz, nem sempre é capaz de pensar. Aliás, vou me atrever a dizer que na, maioria das vezes, quem apenas faz não pensa e assim, não cria e não cresce. Baseado nisso, eu questiono: as escolas devem investir no fazer ou no pensar? É claro que as escolas devem estar preocupadas com os dois lados, o fazer e o pensar, entretanto o primeiro desses dois lados é, ao meu ver, o menos importante dos dois.

Se fazendo não necessariamente se pensa e se pensando acaba-se, ainda que indiretamente, sendo capaz de fazer, parece óbvio que as escolas deveriam estar mais preocupadas em investir na capacidade de induzir os seus alunos a pensarem. Pelo menos, orientando para o pensar a escola objetiva desenvolver nos alunos, a capacidade de criar novos mecanismos, que permitam fazer coisas novas (diferentes).

Obviamente para desenvolver esses mecanismos e criar essas novidades os nossos alunos dependem de informação teórica, porque necessitam fundamentalmente do conhecimento existente sobre as questões. É claro que se já existir alguma prática que demonstre a questão, esta sempre será bem vinda, mas ela é acessória, porque sempre é conseqüência do conhecimento existente.

O mundo moderno exige um conhecimento abrangente e esse conhecimento é o que permite a criação de novas idéias e novas técnicas. Esse conhecimento abrangente não pode se prender à prática, ao contrário ele deve ser conseqüência da informação teórica que permite entendimento, o qual se traduz em conclusões e que gera novas práticas adequadas às diferentes situações que aparecem a cada instante.

O fazer é desejável, porém ele não é fundamental. A prática pela prática não produz conhecimento e não se traduz em conhecimento, quando muito é um treinamento (adestramento), que poderá produzir pessoas capazes de fazer, mas incapazes de pensar e certamente isso não é bom. O pensar é que define o porquê, o como, o quando e o onde fazer. Portanto, as escolas têm obrigação de criar pensadores (produtores de novas idéias) e não fazedores (repetidores de idéias velhas). Se não for assim, estamos andando na contramão da história e do desenvolvimento.

Depois disso, deixo aqui uma questão: será que as escolas desse país, mormente às públicas, têm cumprido a sua missão no processo ensino-aprendizagem?

Luiz Eduardo Corrêa Lima (52) é Biólogo, Professor, Ambientalista e Escritor;

Membro Fundador da Academia Caçapavense de Letras (Cadeira 25);

Ex-Vereador e Ex-Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.