Cognição e Afetividade na Sala de Aula de Educação de Jovens e Adultos(EJA)

O texto tem a intenção de traçarmos caminhos que nos permita observarmos a relação entre o afeto e o cognitivo no contexto da sala de aula de Educação de Jovens e Adultos tendo como eixos a relação, entre afetividade e cognição no processo de aprendizagem, e a relação afetiiva do sujeito (professor) com os outros sujeitos (alunos) como um elemento instigante no processo ensinar/aprender.

Fialho(1998, p.11), coloca que "cognição é um fenomeno biologico e pode ser entendido como tal. Um sistema cognitivo é um sistema cuja organização define um dominio de interações, no qual ele pode atuar priorizando a manutenção dele mesmo, e o processo de cognição e o comportamento e a ação deste dominio".

Ainda Fialho(1998, p.11) diz: "sistemas vivos são sistemas cognitivos e a vida é um processo de cognição". Esta afirmação é valida para todos os organismos vivos, com ou sem sistema nervoso.

É preciso levar em conta o sujeito concreto, contextualizado no tempo e no espaço -professor e aluno- atantes no cenario educativo, que pensam, sentem, sofrem, amam e criam.

O sujeito é um espaço de singularidade, gestando no conflito, nas diferenças e no heterogeneo. Esses e outros problemas estão presentes na sala de aula, e supera-los implica um desafio imbricado em questões politicas, sociais, economicas e pedagogicas. Porem, neste texto trataremos mais especificamente das relações afetivas e cognitivas entre os sujeitos estabelecidos no contexto da sala de aula de EJA.

Falar da afetividade e da aprendizagem é falar da essencia da vida humana, que por natureza social, se constroi na relação do professor com os seus alunos, num contexto de inter-relações.

Ter a afetividade e a aprendizagem como tema implica enveredarmos por um caminho intrigante que envolve processos psicologicos dificeis de serem percebidos e desvendados. Pois, sabemos das dificuldades que são oferecidas para suas praticas pedagogicas, no espaço de aula, que não corresponde o esperado numa pratica educativa, a fim de que ocorra uma aprendizagem condizente, dentro de uma sala de aula.

Ao tomarmos conhecimento de que a afetividade é o teritorio das emoções, das paixões e dos sentimentos, e a aprendizagem é o teritorio do conhecimento, da descoberta e da atividade, observamos a organização de fenomenos complexos e multideterminados definidos, por processos individuais internos que são desenvolvidos , atraves do convivio humano desses alunos de EJA.

A sala de aula é um espaço de vivencia, de convivencia e de relações pedagogicas, espaço construido pela diversidade e heterogeneidade de ideias, valores e crenças; conforme observamos nessa modalidade de ensino. É espaço de formação humana, onde a experiencia pedagogica o ensinar/aprender é desenvolvido no vinculo do afeto e das trocas de experiencias cotidianas que são vivenciadas por esse grupo de individuos.

Maturana (1999, p.15), diz que vivemos uma cultura que desvaloriza as emoções, e não vemos o entrelaçamento cotidiano entre a razão e a emoção, que constitui o viver humano, e não damos conta de que todo sistema racional tem um fundamento emocional. E, com este conceito, o autor posiciona o papel da escola que continua priorizando o conhecimento racional em detrimento das relações afetivas.

No cotidiano escolar, essencialmente, heterogeneo é imprescindivel que o conflito seja encarado como possibilidade favoravel ao desenvolvimento emocional e intelectual dos alunos jovens e adultos envolvidos no processo ensino/aprendizagem.

Levando em consideração que o cenario educativo desses alunos de EJA é um espaço de desejos, afetos e conflitos, que constituem a sua vida inter e intrapsiquica presente em todos os momentos da relação ensio/aprendizagem é um espaço dialetico, onde convive autoritarismo e dialogo, oposição e interação, razão e emoção, dentre as situações e falas que são observadas na realização do professor/aluno no contexto de sala de aula. Essas atitudes acabam não possibilitando a reflexão por parte do aluno e, portanto, não interfere em seus posicionamentos.

Na teoria de Piaget, o desenvolvimento intelectual é considerado como tendo dois componentes: um cognitivo e outro afetivo. Porem, a atividade intelectual é sempre dirigida para objetos ou eventos particulares. O interesse, associado ao "gostar" e ao "não gostar" é um exemplo poderoso e comum da afetividade no trabalho afetando a seleção das atividades intelectuais. Muitas vezes, quando se é interrogado por que se faz uma determinada coisa, a resposta tem a ver com o interesse.

Nas observações feitas em sala de aula de EJA percebemos, em algumas aulas, um interesse e uma participação maior por parte dos alunos. Professores que em sua pratica pedagogica procurava criar um clima de respeito e amizade entre eles e os alunos, na medida em que os tratava de forma educada e respeitosa, mesmo quando os repreende, não utilizava expressões que os rotulassem como incapazes, procurando dar um sentido significativo nas suas falas, assim valorizava os conhecimentos e vivencias trazidas por esses alunos.

Desse modo revela que o professor concebe a interação professor/aluno não a reduzindo, apenas ao processo cognitivo, mas envolvendo tambem as discussões afetivas e sociais. Reconhece a importancia do seu comprometimento com a tarefa de educar percebendo a estrutura de relação entre o afetivo e o cognitivo no desenvolvimento humano, não responsabilizando, apenas o aluno com a obrigatoriedade de demonstrar respeito e consideração.

Penetrar no universo escolar dos alunos de EJA, tão presente em nossas vidas, porem tão dificil de desvendar , onde não ha caminhos definidos, mas que vão sendo construidos no caminhar, revela-nos a noção de que não podemos ve-lo realmente como é, o que nos permite nossos conhecimentos e concepções.

Neste caso Freire(2000, p.75), mostra sua preocupação com a questão da afetividade ao indagar: "Como ser educador, se não desenvolvo em mim a indispensavel amorosidade aos educandos com quem eu me comprometo e o proprio processo formador de que eu sou parte"?

Embora, se pense o afeto como sendo diferente da cognição, no funcionamento intelectual eles formam uma unidade são os dois lados de uma mesma moeda, sendo que todo comportamento tem ambos os elementos: afetivo e o cognitivo(COWAN, 1981, p.67). Paralelamente ao desenvolvimento cognitivo esta o desenvolvimento afetivo que inclui: sentimentos, interesses, desejos, tendencias, valores e emoções em geral.

Vygotsky(1989), explica o desenvolvimento afetivo sob um ponto de vista sociohistoricocultural o que nos dá condições para apreciarmos a afetividade relacionada à educação de EJA partindo da ideia de que a aquisição de conhecimento e de sentimentos se dá pela interação do sujeito com o meio escolar.

Ja Wallon(1979), eleva a afetividade a um dominio funcional, cujo desenvolvimento é dependente da ação de dois fatores: o organico e o social. Neste, a escola que é tradicionalmente, tomada como espaço onde deve imperar o desenvolvimento do conhecimento passa a ser reconhecida como meio, cujo afeto é primordial pra a relação humana e o professor é responsavel pela mediação afetiva na instituição de ensino.

Apesar, dessas divergencias, Vygotsky e Wallon compartilham da ideia de que a afetividade se desenvolve , atraves da interação entre os individuos e, que a razão e a emoção estão ligadas.

Como seres humanos maduros, os alunos de EJA, mesmo não sendo alfabetizados dispoem de conhecimentos que conseguiram e aprenderam no seu dia-a-dia. Sendo assim, toda a aprendizagem é influenciada pela experiencia adquirida em convivencia com o outro, pois nem de longe é somente na escola que se obtem conhecimentos e, principalmente na EJA, onde o jovem e o adulto é um "membro da sociedade ao qual cabe a produção social, a direção da sociedade e a reprodução da especie"(PINTO, 1997, p.79).

Assim, reforçamos a necessidade da valorização da dimensão afetiva na ação pedagogica na EJA. Entender os significados dos alunos de EJA atribuem as marcas do cognitivo e afetivo, nos permitindo perceber o processo de escolarização desses jovens e adultos com pecularidades nem sempre compreendidos e com certeza pouco respeitados.

A marca da cognição apresenta, este sujeito como cognitivamente capaz e, para quem o espaço escolar deveria ser o gestor de novas aprendizagens propiciando a aquisição de competencias e habilidades, para que o campo de atuação dos mesmos se amplie e sua inserção nos espaços, onde predomine o saber escolarizado seja efetiva.

As salas de aula de EJA deveriam se constituir em espaços diferenciados marcados por outras regras, outras relações rompendo com os modelos da escola regular que com certeza estão deslocados da EJA.

Conclui-se, que existe um laço forte entre o afeto e a cognição desses alunos, carregados de desejos, subjetividade e do cotidiano apresentado nas salas de aula.

Numa reflexão pedagogica sobre essa moidalidade educativa, o que se espera é a construção de um projeto coletivo, onde alunos e professores sejam efetivamente cumplices do ato de aprender/ensinar, transformando os projetos coletivos num clima prazeroso de organização cognitiva e afetiva. Alem, de possibilitar ao professor que possa potencializar o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos de EJA, pois na mediação podemos ser extremamente flexiveis, se formos criativos para problematizar as demandas da sala de aula com as experiencias, a cultura dos alunos e, assim contrapor o senso comum do aluno sobre os mais variados assuntos.

Propiciar experiencias emocionais agradaveis para esses alunos de EJA é como utilizar as variaveis afetivas e cognitivas em favor do ensino/aprendizagem.

Solange Gomes da Fonseca
Enviado por Solange Gomes da Fonseca em 29/04/2010
Código do texto: T2226237
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