Tecendo a teia da vida

Por: Maria Dolores Fortes Alves

Com o avanço tecnológico podemos nos conectar em segundos com outro hemisfério, todavia, passamos meses sem um abraço de nossos pais e filhos ou um aperto de mão de nosso vizinho ao lado. Conseguimos conectar com uma nave no universo, mas temos dificuldade de acessar nosso universo interior. Abriram-se fronteiras de outras nações, mas não entramos por portas e janelas do espírito ou dos corações.

A crise ecológica, planetária e educacional para ser superada exige outro perfil de cidadãos, com outra mentalidade, mais sensível, cooperativa e espiritualizada. É tempo de rever valores e sentidos. Os sonhos nos movem, os valores nos orientam. São nossos nortes, princípios e desejos íntimos de realizar e conquistar algo. Os valores ressignificam e significam o nosso caminhar, o nosso mirar adiante e seguir. "Não se deve ensinar valores, é preciso vivê-los a partir do viver na biologia do amor. Não se deve ensinar a cooperação, é preciso vivê-la desde o respeito por si mesmo que surge no conviver, no respeito mútuo.

Ressignificar valores pela ação e pela educação ecoformadora far-se-á por meio do diálogo e da reconciliação com as ciências humanas, a arte, a literatura, a poesia e a experiência espiritual, transcendente, cósmica: do reencontro com o sagrado, o que pode nos abrir caminhos em direção à educação integral. Na direção de seres humanos que necessariamente objetivem a busca de sentido, de um norte, que conduza à autoconsciência, autoética, orientada em direção ao conhecimento de si mesmo, à unidade do conhecimento e à criação de uma nova arte de viver que acorde o humano para a harmonia consigo, com a sociedade e com a natureza. É tempo de perceber que ninguém é igual e que todos nós somos fios da imensa teia da vida e que, quanto maior a diversidade, mais fortalecida torna-se esta tessitura.

Assim, valores e atitudes como paz, amor, integração, coerência interna, cooperação, escuta sensível, não violência, ação correta e verdade possibilitam-se por uma educação ecossistêmica e transdisciplinar, favorecendo o desvelar da humanidade, a autoria de pensamento e de vida, a amorosidade do ser, conduz-nos ao aprender a viver e a conviver respeitando-nos e a Geia.

A ressignificação de valores permite-nos o encontro da unidade na diversidade, o desabrochar da autoria que se faz presente nos caminhos da alegria, da autenticidade, da coerência interna, da mocidade da alma, da construção fraterna. Porque o sábio saber é o saber tecido no sábio amor. O sábio saber é construído comigo, contigo, com o outro e com o todo. É construído em teia, em comunhão, no abraço acolhedor.

doutoranda em Educação pela PUC/SP

Fonte: Jornal > Nosso Colaborador

CORREIO DO POVO

ANO 115 Nº 233 - PORTO ALEGRE, SEXTA-FEIRA, 21 DE MAIO DE 2010

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