INCLUSÃO? QUEM INCLUI QUEM?

INCLUSÃO? QUEM INCLUI QUEM?

Por: Maria Dolores Fortes Alves

A história agora é: quem inclui quem? Ou, quem exclui quem ou o quê? Creio que não incluímos a pessoa com deficiência no mundo, incluimo-nos no mundo da pessoa com “deficiência”. E ai, vamos ver onde está a deficiência, no outro ou em mim? Será que as limitações, as deficiências que vejo ou projeto no outro não são deficiências minhas em lidar com a “deficiência” do outro?

Incluo verdadeiramente o outro quando incluo o outro em mim. Deixo de ver as muletas do outro quando liberto-me das minhas muletas e permito-me superar obstáculos, subir montanhas e não somente ver o outro – seja ele sujeito, objeto ou situação-como um obstáculo.

Quando ofereço obstáculo para o outro não encontrei em mim coragem para superar minhas próprias barreiras. O problema só e problema quando o vemos como um problema. Quando o vemos com uma possibilidade de crescimento, de alegria, de superação, de conhecimento de um novo mundo e novas possibilidades de desenvolver novas competências, ele deixa de ser problema.

O outro não é um monstro, o diferente, o deficiente, etc. o monstro o deficiente, a diferença, o limite está no mundo interno e projeta-se para o externo. A física quântica, a teoria das estruturas dissipativas de Prigogine, o paradigma ecossistêmico de Moraes e tantas outras novas Ciências de abertura de pensamento, vêem contribuir conosco nesta abertura de olhar para adiante, neste alargar da mente e alma do humano: um pensamento complexo, integrador, criador e verdadeiramente inclusivo da essência humana do humano.

E, deste modo, chegamos a reflexão de três limitações: uma, é o uso exacerbado da lógica do terceiro excluído, chegando a tal ponto que nós temos muitas dificuldades para incluir o diferente e olhar para ele numa tentativa de compreendê-lo. Isso traz limitações para nossa criatividade, para a inventividade, para a criação de soluções novas. Aprendemos a ter medo do novo, pelo fato de ser diferente de tudo o que conhecemos como certo. Temos medo do novo, pois quermos o poder, quermos o controle, queremos segurança. Esquecemos que as únicas certezas e seguranças são da morte e da mudança.

Fazemos do medo nossas prisões. Aprisionamos nossa alma, nosso espírito criativo e nosso potencial de liberdade. Esquecemos que a fragilidade que vemos no outro, reflete nossa fragilidade no outro... “A fragilidade que vês em mim reflete a fragilidade de seu ser, de suas muralhas, de teus sonhos aprisionados ou de teus medos-monstros que te impeles aos muros de tua prisão interior.

Enclausura-te e mira tua prisão refletida em mim. Sou teu espelho. Sou espelho de tua alma. Não sou eu que te incomodo. São teus olhos cegos que não vem além de teus muros mentais. Só enxergas em mim o que existe em ti.

Quando transpuseres teus próprios muros e te libertares de tuas prisões, verás em mim e em ti um pássaro liberto que voa mais alto que teus próprios sonhos.

Lembre-te, eu não sou você, você não sou eu, mas sou a liberdade de teu amor por ti em mim...

Enquanto meu corpo me aprisiona, minha alma é liberta...voo alto, mesmo com barreiras que tu projetas em meu cotidiado, pois sou muito mais que tua potencialidade de liberdade, sou o máximo potencial que me faço ser...”

Vamos fechar os olhos para aprendermos a ver. Vamos esquecer todas as nossas máscaras e identidade liquida que criamos para satisfazer as necessidades de x e y, do mercado, da vaidade, do outro sem o outro. Vamos encontrar no ser si-mesmo a essência, o ser e do Ser. E assim seremos, viveremos, conviveremos, construiremos e criaremos mais, muito mais... visto que, entraremos em freqüência com a criação cósmica, com o potencial ilimitado de energia e criação.

A vida enquanto VIDA não é frajuta, não é teatro, não são seres em um palco, são seres em congruência e harmonia, ética e estética. A flor não representa a flor. Ela é flor em essência, florescência. Vida vívida e vivida. Por que, nós seres humanos, com cérebros altamente desenvolvidos, perdemos a nossa singularidade e sintonia para nos expormos no palco da vida como marionetes?

No dia em que a sociedade eliminar as barreiras fisicas para que haja um mundo para TODOS, venceremos todas as barreiras internas?! Creio que o recíproco seja mais verdadeiro, pois Inclusão se faz com o coração, com abertura de alma, com o potencial de aceitação plena do outro como legítimo outro, com o potencial de aceitação de si mesmo como legítimo, único, singular, mas parte integrante do Todo. Afinal, Todos somos fios desta imensa tessitura humana e ecossistêmica, da Teia da Vida...

-Doutoranda (CNPq) e Mestre em Educação pela PUC/SP; Mestre em Psicopedagogia-UNISA; Pós-Graduada em Distúrbios da Aprendizagem - UBA (Universidade de Buenos Aires); Especialista em Educação em Valores Humanos; Pedagoga-UNISA; Pesquisadora do GEPI (Grupo de Estudos Pesquisas Interdisciplinares) RIES (Rede Internacional Ecologia dos Saberes) e, ECOTRANSD (Ecologia dos Saberes e Transdisciplinaridade); Professora da rede pública, Docente de Pós-Graduação. Assessora Educacional; Palestrante, Conferencista. Autora de diversos artigos e livros, entre eles: “DE PROFESSOR A EDUCADOR: Contribuições da Psicopedagogia: ressignificar valores e despertar autoria.” e “O VÔO DA ÁGUIA: uma autobiografia”, “FAVORECENDO A INCLUSÃO PELOS CAMINHOS DO CORAÇÃO: Complexidade, Pensamento eco-sistêmico e Transdisciplinaridade” pela WAK. Homepage: http://www.edupsicotrans.net; e-mail: mdfortes@gmail.com