O BULLYING E SUAS MÚLTIPLAS FACES

José Neres

(Professor e Escritor)

Publicado em O Estado do Maranhão, abril, 2011.

Bullying. A palavra pode até ser nova, mas sua presença, seus inexplicáveis fatores e suas consequências já fazem parte do dia a dia das escolas desde tempos imemoriais. No livro “O Ateneu”, de Raul Pompeia, por exemplo, já há cenas em que alunos de menor compleição física são subjugados, espancados e humilhados pelos que têm o porte mais avantajado. Viriato Corrêa, em seu célebre livro “Cazuza”, também não esconde que em algumas situações os estudantes sofriam torturas físicas e psicológicas por parte dos colegas, dos professores e até mesmo do corpo diretivo da escola.

Algumas pessoas pensam que o bullying ocorre apenas quando há agressão física, perseguições morais constantes ou ofensas explícitas, com gritos, xingamentos e manifestações incontestes de intolerância para com as diferenças alheias. No entanto, essas são apenas algumas das faces mais conhecidas, visíveis e evidentes desse fenômeno que parece não conhecer barreiras e que traumatiza milhões de vítimas todos os dias.

O bullying pode assumir diversas feições no dia a dia tanto das vítimas quanto dos agressores. Pode vir em forma de apelidos que ressaltem alguma característica física que desagrade a pessoa nominada, mas que sirva de diversão ou mesmo de referência para os demais colegas. Dessa forma, nomes e expressões como quatro-olhos e cegueta (usados para pessoas com dificuldades visuais); rolha-de-poço, cintura de ovo e baleia (para pessoas obesas); pau de virar tripa, esqueleto, cipó do Tarzan e caniço (para pessoas muito magras); ou ainda tição, carbono e carvãozinho (para pessoas negras), tornam bem mais que apelidos, transformam-se em forma de perseguição e de piada por quem não se sente como parte integrante de nenhum dos grupos ridicularizados pelos apodos usados com intenções depreciativas.

Ser afastado de um grupo por ser considerado burro ou nerd, rico ou pobre demais, mal trajado ou bem vestido, muito feio ou bonito, muito perfumado ou com constante odor excessivo de suor, também são formas de preconceito e tais atitudes podem entrar na relação de ações consideradas como bullying, pois levam a vítima a constrangimentos e, talvez, a desenvolverem distúrbios comportamentais como forma de auto-proteção contra as agressões sofridas ou contra as que ainda poderão ocorrer.

O uso inadequado das tecnologias acabou transformando os antigos bilhetinhos que passavam de mão em mão nos recreios, ou mesmo durante as aulas, em ofensas virtuais que ultrapassam os muros da escola e levam descontentamentos, fofocas e insinuações para a rede mundial de computadores, constituindo-se no chamado cyberbullying. Basta um perfil falso nas inúmeras redes de relacionamento, um vídeo malicioso postado na internet, uma mensagem de celular ou um e-mail ofensivo enviado para uma lista de amigos para que a vítima da fofoca virtual possa ter sua vida transformada em uma perseguição real, com consequências danosas para quem viu sua vida covardemente transformada por conta da irresponsabilidade de alguém que talvez nunca tenha sua identidade descoberta.

Não podem ser esquecidos também os casos de extorsão, de chantagens emocionais e até mesmos os comentários supostamente inocentes, mas que mascaram atitudes depreciativas como outros exemplos desse tipo de assédio. Ou seja, o bullying é basicamente um ato de covardia.

Como durante muito tempo o bullying foi visto apenas como uma inconsequente brincadeiras entre colegas, há ainda pessoas que considerem perda de tempo pesquisar sobre esse assunto. No entanto, vários estudos, no mundo inteiro, comprovam que há realmente danos para quem foi vítima de agressões físicas, dos apelidos ou das chamadas brincadeiras de mau gosto durante o período escolar. Há também a certeza de que apenas a punição não é o suficiente para impedir que esse mal se dissemine ainda mais, sendo, portanto, essencial que haja uma mudança de comportamento e uma retomada de valores por parte da escola, da família e, principalmente, com relação ao respeito com o próximo.

José Neres
Enviado por José Neres em 24/04/2011
Código do texto: T2927340
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