PLURALIDADE POSSÍVEL DAS LEITURAS

Segundo Pêcheux & Fuchs (1975), a teoria da discussão trata da determinação histórica dos processos de significação. Assim, Koch (2006) cita o trabalho com os processos de constituição do fenômeno linguístico como característica fundamental dessa teoria, e dessas reflexões, podemos apontar duas consequências opostas: de um lado, a relação do discurso com sua exterioridade e, do outro, dada essa mesma relação, a sedimentação histórica dos sentidos.

Dessa forma, não se diz o que se quer, em qualquer situação, de qualquer maneira, nem se pode entender o que se quer, de qualquer maneira e situação, pois as situações da linguagem são reguladas num processo polissêmico e parafrástico.

Assim, em relação ao processo da leitura, para Koch (2006), “a leitura é produzida em condições determinadas”, e dessa forma há leituras previstas para um texto, embora não seja uma previsão absoluta, uma vez que são possíveis novas leituras dele. Assim, há dois fatores determinantes para a previsibilidade: de acordo com as condições em que são produzidos, os sentidos se sedimentam, e dada a relação entre os textos, o conjunto dessas relações indica como o texto deve ser lido, incluindo ainda nesse escopo a legitimação do texto em que umas leituras são mais legítimas que outras, ocorrendo de diferentes maneiras, de acordo com as várias instituições. Trata-se do fato de que todo leitor tem sua história de leituras, e assim as leituras já feitas de um texto e as leituras já feitas por um leitor compõem a história da leitura quanto ao seu aspecto previsível, muito embora a imprevisibilidade também resulte da história, sendo assim a pluralidade possível das leituras derivada do contexto histórico-social.

Dessa maneira, a relação entre leitura e redação é de interdependência, pois quem fala, ao produzir, também está atribuindo sentido, e quem ouve, ao atribuir, também produz sentido, uma vez que quem fala e quem ouve se determinam mutuamente, embora essa relação esteja longe de ser direta e automática, pelo fato de locutor e destinatário representarem diferentes papéis na interlocução: o de autor e o de leitor com suas finalidades específicas.

Nessa relação, então, em que se tem como referência padrão aquilo que deve ser o bem escrito e a boa leitura, compreende-se que a leitura é um dos elementos que constituem o processo de produção da escrita, pois a leitura fornece matéria-prima para a escrita e contribui para como escrever.

Daí, Koch, em um artigo publicado na Revista Nova Escola, coloca bem que discutir a leitura e a produção textual exige a noção de que o lugar de interação entre sujeitos sociais é o texto, no qual esses sujeitos se constituem e são constituídos dialogicamente.

Assim, convém que o leitor seja levado a mobilizar estratégias tanto de origem linguística, como cognitivo-discursiva, e não apenas à exigência do simples conhecimento linguístico. Como já foi dito por Freire (1988), “o ato de ler não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita”, mas [que] se antecipa e se alonga na inteligência do mundo.

O texto é o reflexo da sociedade, do tempo em que os sujeitos estão inseridos. Porém, em uma mesma sociedade vivem seres antagônicos, que possuem pensamentos divergentes. Assim, podem produzir textos com o mesmo tema, mas com um diálogo diferenciado.

Em suma, o texto é a linguagem em uso, é seu emprego num ato comunicativo. E por assim ser, deve ter uma unidade semântica, um todo significativo, uma unidade formal, e os constituintes linguísticos devem estar num todo coeso. E deve-se levar em conta o contexto e a situação na qual ele foi escrito para que haja a interpretação esperada.

Na escola, então, o texto não deve ser trabalhado como pretexto para se ensinar gramática ou valores morais, por exemplo, mas como um aprendizado em si mesmo em que o aluno é levado ao prazer da leitura.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 22. ed. São Paulo: Cortez, 1988.

KOCH, Ingedore G. Villaça; ELIAS, V. M. da Silva. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.

KOCH, Ingedore G. Villaça. Os segredos da leitura e da redação. IN.: Nova Escola. Ano XXI. N° 194. São Paulo: Editora Abril, 2006. p. 65-69.

PÊCHEUX, M.; FUCHS, C. A propósito de uma análise automática do discurso: atualização e perspectivas. IN.: GADET, F.; HAC, T. (orgs). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Tradução de Bethania Mariani et al. Campinas: Editora da UNICAMP, 1997. Edição original: 1975.

Prof Emilson Martiniano
Enviado por Prof Emilson Martiniano em 19/05/2011
Reeditado em 09/09/2016
Código do texto: T2979738
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