SEXUALIDADE NA ESCOLA

A sexualidade tem na Escola um local privilegiado porque de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), foi constituído em tema transversal, para que possa ser espalhado por todo campo pedagógico, através de suas várias disciplinas e assim manifestar seus efeitos heterogêneos. Após verificar e analisar o dispositivo (sexualidade nos PCNs) pode-se verificar que em todas as disciplinas podemos nos deparar com a concepção de sexualidade, e que ali pode estar presente a singularidade desta proposta e seus possíveis efeitos na Escola e no aprender deste educando.

Os Temas Transversais são propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais e definidos como o conjunto de temas de tratamento transversal de temáticas sociais na Escola, como forma de contemplá-las na sua complexidade, sem restringi-las à abordagem de uma única área. São eles: Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde e Orientação Sexual.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu artigo segundo, referente aos Princípios e Fins da Educação Nacional, declara:

A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996).

De acordo com a proposta dos PCNs a Escola deve desenvolver projetos deste tema transversal que é a sexualidade e ainda que a Escola deva saber lidar e tratar a sexualidade como sendo um elemento de fundamental importância para o desenvolvimento e a inclusão do individuo na sociedade e um melhor convívio nesta, pois sendo, que este assunto que é considerado um tema polemico e amplo, multidimensional, demarcado pela história, pela cultura e pela evolução social. O objetivo deste documento está em promover reflexões e discussões de técnicos, professores, equipes pedagógicas, bem como pais e responsáveis, com a finalidade de sistematizar a ação pedagógica no desenvolvimento dos alunos, levando em conta os princípios morais de cada um dos envolvidos e respeitando também, os Direitos Humanos.

A Escola é o lugar mais adequado para se trabalhar o tema sexualidade, pois é ela que tem a missão de colaborar com a família em todas as etapas da educação da criança e ainda inclusive dar a Orientação Sexual, porque a sexualidade, assim como a inteligência, será construída a partir das possibilidades individuais e de sua interação com o meio e a sua cultura. A Orientação Sexual na Escola deve ser tratada como tema transversal sendo ainda um referencial que alem de excitar deve penetrar em toda a área da educação a partir do ensino fundamental e ser tratado por todas as diversas áreas do conhecimento e conteúdos nas mais diferentes áreas do currículo como forma de se evitar o distanciamento do tema, e sempre que surgirem questões relacionadas à sexualidade o professor deve reconhecer como legítimo e lícito, por parte das crianças, a busca do prazer e as curiosidades que elas têm em relação à sexualidade, sendo que tais manifestações fazem parte do processo de desenvolvimento do individuo e não devem ser vistas com algo fora do normal e nem devem ser punidas por isto, pois tem que se ter cuidado para não expor nem constranger este aluno, apenas manter a referência e o limite. Sendo essa uma complementação a educação oferecida pela família.

A orientação sexual na Escola é um tema árduo para muitos educadores que se sentem constrangidos ao abordar a sexualidade por fazerem parte de uma sociedade conservadora. Para haver um trabalho significativo, é imprescindível que se quebre essa barreira e que se estabeleça entre alunos e professores uma relação de confiança e amizade. É necessário que o educador tome consciência de que as manifestações da sexualidade infantil constituem-se em aspectos naturais e integrantes do desenvolvimento humano. Os profissionais da educação também devem estar atentos às diferentes formas de expressão dos alunos, que podem significar uma necessidade não verbalizada de discussão e compreensão de algum tema condizente à sexualidade.

As crianças têm dificuldades em expressar suas dúvidas e curiosidades de forma clara e objetiva, por temerem uma reação do educador, por isso este deve se mostrar disponível para conversar a respeito das questões apresentadas, não emitir juízo de valor sobre as colocações feitas pelos alunos e responder todas as perguntas de forma direta de modo a esclarecer as duvidas relacionadas, dando as informações corretas, do ponto de vista científico e ainda esclarecer sobre as questões trazidas pelos alunos, deve ainda manter o bem-estar e a tranqüilidade entre os alunos, mostrando a eles como ter maior consciência de seu próprio corpo.

A oferta, por parte da Escola de um espaço em que as crianças possam esclarecer suas dúvidas e continuar formulando novas questões contribui para o alívio das ansiedades que muitas vezes interferem no aprendizado dos conteúdos escolares, possibilitando ainda informações corretas e uma formação coerente, porque os pais as vezes com medo de estarem alimentando o desejo sexual de seus filhos simplesmente não falam sobre sexualidade em suas casas o que demonstra de acordo com FAGUNDES (1993,p10) que “não sabem ou preferem ignorar, que a sexualidade é instinto, que brota instantaneamente nos indivíduos e deixar de orientá-los complica muito mais a situação”.

Segundo CUNNINGHAN (1976) a formação dos professores é essencial e de grande importância para a educação dessa forma todos os professores, de todas as disciplinas, devem estar aptos a lidar com o assunto da sexualidade, pois, querendo ou não, todos estão sujeitos a deparar-se com situações que envolvem sexualidade, onde têm que intervir. Por isso é necessário que o educador tenha acesso à formação específica, para tratar de sexualidade com as crianças na escola, possibilitando a construção de uma postura profissional e consciente no trato desse tema, devendo entrar em contato com questões teóricas, leituras e discussões sobre as temáticas específicas de sexualidade e suas diferentes abordagens e se preparar para uma intervenção prática junto aos alunos. Sendo necessário também que se estabeleça uma relação de confiança entre alunos e professor, e este deve se mostrar disponível para conversar a respeito das questões apresentadas, não emitir juízo de valor sobre as colocações feitas pelos alunos e responder as perguntas de forma direta e esclarecedora.

A Escola é vista sempre como um lugar de aprendizagem, conquistas, curiosidades, sonhos, medos, idéias, descobertas de novas coisas e outros, não se podem deixar de lado ou simplesmente tirar da criança ou excluir as manifestações da sexualidade, porque é a Escola que tem o dever em criar um espaço estando aberta a discussão sobre o tema sexualidade e deixar de lado os próprios preconceitos, permitindo que cada um se mostre como é: com suas dúvidas, conflitos, medos, etc. porque é a Escola que esta ao alcance e detém os meios pedagógicos necessários para a intervenção sistemática sobre a sexualidade, de modo a proporcionar a formação de uma opinião mais crítica sobre o assunto, permitindo assim a satisfação e os anseios dos alunos. A Escola deve propiciar ao aluno para que este seja conduzido a um processo de reflexão, possibilitando assim uma autonomia para que possa eleger seus próprios valores, tomar posições e ampliar seu universo de conhecimentos. E sendo pertinente ao espaço da Escola o esclarecimento de dúvidas e curiosidades sobre a sexualidade, é importante que a mesma contribua para que a criança discrimine as manifestações que fazem parte da sua intimidade e privacidade das expressões que são acessíveis ao convívio social.

O trabalho de Orientação Sexual na Escola pode, ainda, contribuir para a eficácia do processo ensino-aprendizagem. A sexualidade relaciona-se ao aspecto emocional, que está intimamente relacionado aos desenvolvimentos intelectual e social. Ela interfere diretamente no desempenho escolar. Quando a criança possui curiosidades e angústias a respeito da sexualidade, o aspecto emocional da mesma fica abalado. As emoções manifestam-se na maneira de agir. Emoções negativas podem resultar em comportamentos hostis, passivos, indiferentes, presenciados no espaço escolar, ou mesmo em dificuldades de aprendizagem.

A sexualidade infantil é essencial a qualquer criança e sua demonstração será particular a cada uma, sendo que aos educadores cabe conhecê-la, respeitá-la, conduzi-la de forma adequada, sem estimulação nem repressão e tendo sempre em mente uma auto-reflexão de sua própria sexualidade. Deve-se manifestar a compreensão de que as manifestações da sexualidade infantil são prazerosas e fazem parte do desenvolvimento saudável de todo ser humano. Dessa forma, muito se pode contribui para que o aluno reconheça como lícitas e legítimas suas necessidades e desejos de obtenção de prazer, ao mesmo tempo em que processa as normas de comportamento próprias ao convívio social, devemos ter o cuidado e ter certo discernimento em não passar valores próprios, crenças e opiniões como sendo princípios ou verdades absolutas, pois o aluno possui expressão própria de sua sexualidade, que se traduzem em valores, crenças, opiniões e sentimentos particulares.

É importante que o psicopedagogo da Escola tenha abertura e receptividade para os alunos e que se interesse pelo tema. E que ao trabalhar a Orientação Sexual na Escola, tenha capacidade de rever sua postura e seus conhecimentos constantemente, pois o não esclarecimento das curiosidades das crianças e jovens pode gerar angústias e tensões, influenciando assim, a aprendizagem. Este profissional na Escola é de grande relevância no trabalho de Orientação Sexual, para empreender a tarefa de educar sexualmente as crianças. E com sua formação que lhe permite compreender o desenvolvimento humano e o desenvolvimento da sexualidade, que é uma parte do desenvolvimento da pessoa, aliado ao professor e a toda a comunidade escolar, e principalmente a família, pode realizar uma Orientação Sexual reflexiva e eficaz

Portanto para que a Escola possa obter bons resultado na construção da sexualidade e o desenvolvimento pessoal e social dos alunos, confirmando a proposta sugerida pelos PCNs, é preciso que não se tenha limites pedagógicos para um pleno desenvolvimento no que tange às resistências dos professores em tratar o assunto, pois o professor deve ter uma formação continuada, uma efetiva colaboração dos pais para que seus filhos possam participar ativamente, planejamento e desenvolvimento dos projetos de Orientação Sexual e o apoio de outros setores da sociedade.

E na tentativa de se caminhar para uma educação coerente para se formar cidadãos, o trabalho de Orientação Sexual na Escola é relevante no sentido de informar e discutir os diferentes tabus, preconceitos, crenças e atitudes existentes na sociedade, buscando não uma isenção total, o que é impossível de se conseguir, mas uma condição de maior distanciamento pessoal, por parte dos profissionais, para empreender essa tarefa. É função essencial da Escola de formar cidadãos e suas identidades individuais, e sendo assim a transformação vem de dentro com o amadurecimento da sexualidade de cada um.

Atividades elaboradas para se trabalhar sexualidade nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Atividade para 1ª série:

Objetivo: Identificar as principais diferenças físicas entre homem e mulher.

Estratégias: Os alunos já podem perceber que ao recortar figuras existe uma diferença de sexo e no decorrer da atividade poderão confirmar.

Desenvolvimento: Com a utilização de revistas e outros materiais e pedir para que os alunos recortem figuras masculinas e femininas. Após a conclusão pedir para que colem em cartazes tipo cartolina separando por gênero, por exemplo, colar o gênero masculino na direita do cartaz e a esquerda o feminino, podem do ser feito uma divisão com uma linha no centro do cartaz. Deixar que eles façam sem intervir, o professor deve apenas acompanhar o trabalho e ajudar quando solicitado.

Ao final fazer uma discussão com o grupo a respeito do trabalho de cada um e perguntar o porquê de cada figura e quanto a sua localização no cartaz.

Atividade para 2ª série:

Objetivo: Ter maior conhecimento sobre a sexualidade.

Estratégias: ao verem os bonecos podem se identificar com um deles e se descobrir na sexualidade.

Desenvolvimento: o professor leva a sala de aula um boneco e uma boneca, e pede para que as crianças digam ou mostrem as diferenças entre um e outro, com o acompanhamento do professor que pode interagir com o grupo e dando sugestões do tipo diferença no cabelo (curto para ele e comprido para ela) modo de vestir (as mulheres usam saia ou vestido), a maquiagem em geral, os meninos jogam bola de preferência e as meninas brincam com bonecas e muito mais de acordo com o interesse da turma.

Atividade para 3ª série:

Objetivo: Tirar dúvidas sobre a sexualidade.

Estratégias: As crianças perdem o medo de falar sobre a sexualidade, tanto na Escola como em casa com os pais.

Desenvolvimento: fazer uma relação com varias perguntas, a respeito de sexualidade. Cortar uma a uma, enrolar e colocar em uma caixinha para serem sorteados, sendo ao menos uma para cada aluno, sendo que este vem à frente pega um papel, abre e faz a pergunta, para os demais responderem o que sabem e após a professora diz a resposta verdadeira, e assim até que termine todos os papeis, daí em diante as perguntas são feitas de livre escolha pelos alunos que quiserem, cabendo a professora responder a todas elas, e se não souber poderá trazer alguém mais qualificado para o assunto.

Obs. As perguntas feitas pela professora devem ser as mais comuns ou simples.

Atividade para 4ª série:

Objetivo: mostrar aos alunos a questão de doenças transmissíveis.

Estratégias: ao trocarem a carta há uma compreensão pelo aluno do risco que pode ocorrer ao pegar a carta marcada.

Desenvolvimento: de posse de um baralho ou se não for possível este pode ser feito com cartolina recortado todos os pedaços do mesmo tamanho como se fosse um baralho, o professor marca uma carta com um X que vai representar uma pessoa com AIDS, embaralha e distribui uma para cada aluno, todos viram suas cartas e quem pegou a carta marcada não fala nada, todos desviram suas cartas e começam a trocar e novamente olham o fundo e sucessivamente continuam trocando e olhando para ver se pegaram a carta marcada. Depois de algum tempo o professor pede para que parem e faz a pergunta para verem quem pegou a carta marcada.

E a partir daí fala sobre AIDS e os perigos do sexo sem preservativo e o risco que correram ao trocarem suas cartas e que por sorte era apenas uma brincadeira mas na vida real não se tem tempo de voltar a traz.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Parâmetros Curriculares Nacionais: Orientação Sexual – Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries) – Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC / SEF, 1996.

CUNNINGHAN, W. F. Introdução a educação: Problemas Fundamentais, Finalidades Técnicas. Trad. Nair Fontes. 2ª ed. Porto Alegre: Globo, 1975.

FAGUNDES, Tereza: Educação Sexual, construindo uma nova realidade. Salvador, UFBA, 1995.

SUPLICY, Marta. Conversando sobre sexo. 16. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1990.

ZÔMPERO, Andréia de Freitas. et. al. Instrumentação do trabalho pedagógico nos anos iniciais do ensino fundamental. In UNIVERSIDADE DO NORTE DO PARANÁ: Pedagogia: Módulo - VI. Londrina: UNOPAR, 2009. (pág.87 a 121).