Aprender reconstruindo

Para Pedro Demo as deficiências no processo de ensino e aprendizagem, são como gritos que ecoam por mudanças na área educacional. Ele propõe mudanças metodológicas, dando ênfase à pesquisa como caminho para a aprendizagem reconstrutiva. Nesta proposta o professor deve estar preparado para ser orientador, passando para o aluno, a posição de centro. O ensino à distância propõe essa inversão, propiciando ao aluno um ambiente adequado de educação, com o espaço privilegiando da incerteza e da dúvida culminando na investigação.

Para o autor, impera uma confusão clássica com respeito à aprendizagem, geralmente tomada como simples ensino, ou mera instrução, para não dizer treinamento. Mas a aprendizagem se dá no ambiente adequado de educação que exige diálogo de sujeitos, de cariz participativo e autoformativo, tornando-se contraproducente a relação externa, quando predominante. É preciso cuidar que o processo se marque principalmente pelo desfio educativo ou formativo. Tomando a pesquisa como ambiente de aprendizagem reconstrutiva.

E por essa entende-se aquela marcada pela relação de sujeitos, que tem como fulcro principal o desafio de aprender, mais do que de ensinar, com a presença do professor na função de orientador maiêutico. Esse desafio de aprendizagem reconstrutiva se alimenta igualmente de certas linhas de pensamento do conhecimento pós-moderno, sobretudo frente à problemática da incerteza, da complexidade do real e da interdisciplinaridade. Ao contrário do ensino, que se esforça por repassar certezas que são reconfirmadas na prova, a aprendizagem busca a necessária flexibilidade diante de uma realidade apenas relativamente formalizável, valorizando o contexto do erro e da dúvida. Pois quem não erra, nem duvida, não pode aprender.

Tomando como exemplo “O mundo de Sofia” (2002) de Garden, onde se expressa um ambiente propicio de aprendizagem reconstrutiva, com realce para a habilidade básica de saber pensar. Nele o lugar do professor, não é no centro do processo, mas na orientação dele, no centro está o aluno, que é motivado a construir o seu caminho de maneira abertamente reconstrutiva, dispensando aula e prova sendo à distância. A avaliação é sinônimo de aprendizagem e que, no fundo, é sua única razão de ser, aprender não é acabar com as dúvidas, mas conviver criticamente com elas, a formação da consciência crítica e criativa faz parte do saber pensar, uma de suas qualidades é a combinação criativa entre teoria e prática, mostrando que o saber pensar não é apenas pensar, mas a base teórica para poder intervir melhor.

Demo afirma que a LDB continua com o esquema obsoleto do “ensino/aprendizagem”, reservando o primeiro termo para o professor e o segundo para o aluno. Com efeito,diante de um professor que ensina, cabe ao aluno uma postura receptiva, submissa, cordata, de estilo performativo domesticado, condenado a seguir normas e a engolir o que vem de fora. Não se pode negar que os alunos “formatados” desse modo consigam “aprender” alguma coisa, pelo menos memorizar conteúdos, e, encontrando na vida um espaço profissional repetitivo, possam se dar bem. Entretanto, o força o conceito de “aprendizagem”, esvaziando-o do desafio reconstrutivo.

Mas existem algumas objeções: Sobretudo a educação capitaneada pelo Banco Mundial e hoje adotada pelo Ministério da Educação atrela-se ainda ao ensino. A pretensão da pesquisa como ambiente da aprendizagem supõe um professor minimamente preparado, porquanto, a qualidade da aprendizagem do aluno é diretamente proporcional à aprendizagem do professor. A pesquisa deve atingir o nível do questionamento reconstrutivo. Entretanto, nas Universidades do Brasil, ela tende a ecerrar-se no mundo acadêmico e proclama um tipo de elaboração que não passa de textos. Fazer não basta: é mister “saber fazer”, porque é sempre necessário refazer. A pesquisa tem a seguinte vantagem: exige um sujeito que questiona.

Falar, portanto, em educação, remete à questão de rever os conceitos de ensino e aprendizagem, o texto, Aprender; desafio reconstrutivo propõe reflexões de inovações no ambiente da educação, com o uso de novas metodologias e autonomia. Entretanto, essa ultima pode atrapalhar o aluno no processo, se mal interpretada, podendo torná-lo acomodado e até irresponsável.

A obra de Pedro D. é pertinente para exemplificar a falência no ensino brasileiro principalmente da legitimidade da educação. O autor tem por estilo ser muito extenso e repetitivo para nos fazer entender as problemáticas da educação. Apesar de bastante realista.

Este texto é indicado a diversos leitores, apesar de o foco maior ser as pessoas ligadas à educação, podendo fornecer auxilio interdisciplinar.