EDUCAÇÃO: FALTA DE UM PROJETO... OU DE VONTADE POLÍTICA?

Amigos e amigas:

Eu fico abismado com esse nosso País no tocante à educação. Realmente eu não entendo como tanta gente afirma que “educação” é fundamental. Que educação é essencial. E fica apenas nesse discurso. Na hora do “vamos ver”, continua tudo na mesma. Fala-se em inclusão digital, na necessidade do computador na escola, em modernização… Fala-se, fala-se… Enquanto isso, têm escolas até sem lousa, sem carteiras, sem o próprio giz. Há professores sem tempo para planejar aulas, professores “taxistas”, professores sem estímulo para progredir em sua formação, porque não há incentivo para isso. Parece-me que há uma crise de imobilidade, uma falta de ação, a ausência de um projeto educacional sério, o que me deixa perplexo. E ainda têm aqueles que acham que melhorar o salário do professor não resolverá nada. Ainda há os que pensam em educação como sacerdócio. É claro que é preciso que se goste daquilo que se faz. E acredito que existam muitos professores que realmente trabalham porque são movidos por um ideal. Louva-se atitudes assim, mas esse não é o caminho. Espontaneismo e ideal não são um projeto. É preciso que a educação seja realmente profissionalizada em patamares condignos ao seu importante papel perante a sociedade e seja considerada a sua influência decisiva nos destinos do desenvolvimento do país. Como um dos instrumentos essenciais à formação de verdadeiros cidadãos.

Está passando da hora de que haja mesmo um MOVIMENTO NACIONAL, vindo do povo, da população, reivindicando o direito a uma educação com dignidade e qualidade para todos. É preciso um despertar para a ação engajada de toda a sociedade buscando essa educação que tantos falam que é importante, mas que continua relegada ao ostracismo. Sei que já existiram vários “Planos Decenais de Educação” (mas creio que todos eles ficaram apenas no papel e hoje são letra morta)… Precisamos pensar o futuro do país. Mas as bases para esse futuro precisam ser lançadas hoje, pois sabemos que a realidade está aí AGORA, JÁ, neste exato momento exigindo uma POLÍTICA SÓLIDA e definida de investimentos em educação.

Nosso país é um dos mais caros do mundo em taxação, em cobrança de impostos. E também, creio, um dos quais onde esse dinheiro pouco retorna para beneficiar os tributados. Os recursos se perdem nos descaminhos da corrupção, do mal uso, dos desvios de verbas, das aplicações em “sei lá o quê” (muito desse dinheiro talvez viaje para o bolso de uma elite que usa esses recursos em benefício próprio).

Novas eleições estão a caminho. Novos dirigentes serão escolhidos (prefeitos, vereadores, deputados…). E, tenho certeza, a educação estará no discurso de todos os pretendentes aos “empregos” de político. Mas, infelizmente, constarão apenas nas plataformas políticas eleitoreiras. O discurso educacional elege, mas, até aqui não tem conseguido mudar a face da educação brasileira. Felizmente, a sociedade está acordando para a importância de alertar a todos quanto à necessidade de um voto consciente. As redes sociais estão mais atentas.

Recentemente tivemos um exemplo brilhante de movimento popular consequente de muitos municípios que conseguiram impedir o aumento do número de postos de vereadores. Com a coleta de muitas assinaturas, com a união de várias forças sociais, conseguiu-se convencer de que os municípios precisam mais de viadutos, de hospitais, de escolas, de segurança, do que do aumento do número de vereadores. É preciso um “saneamento” político. Um processo de depuração que faça uma “drenagem linfática” nas gorduras quantitativas, na quantidade de “representantes do povo” e de seus “gordos salários”. Precisamos mais qualidade política do que de quantidade de políticos. Precisamos de mais ética, de mais justiça e equidade na aplicação das verbas naquilo que é realmente essencial à sociedade. Sugiro que se comece pela melhoria dos salários dos professores. Que tal equiparar o salário dos educadores da educação básica ao patamar daqueles que trabalham no ensino superior? Poderia não ser a solução. Mas já seria um começo. Seria, pelo menos, um crédito, um aceno na direção de uma boa vontade com a educação. É claro que outras medidas precisam ser tomadas ao mesmo tempo. Investimento em equipamentos escolares, numa busca de condições para a implantação da escola de tempo integral (claro que com professores também de tempo integral e dedicação exclusiva… com salários condizentes a isso, óbvio!!!).

Muita coisa pode e precisa ser feita. Mas, não acredito em soluções que venham de cima para baixo, como uma benesse. É preciso um despertar das forças sociais e um trabalho hercúleo de convencimento para a aplicação de verbas sólidas em educação. Deflagrar uma ação consciente, que consiga mobilizar grandes contingentes da população, de diversos segmentos, em todos os quadrantes do país, em todas as esferas, em todos os âmbitos, para orquestrar uma sinfonia educacional que não se perca nos ouvidos como mero “canto de sereia”. Que seja um eco verdadeiro, um ato de fé que se concretize em destinar verbas diretamente para a educação com TRANSPARÊNCIA, MONITORAMENTO DE SUA APLICAÇÃO PELA POPULAÇÃO. Enfim, que não seja destinada apenas a engordar estatísticas, ou maquilagens numéricas (como vem acontecendo com certas divulgações de falsos avanços do país, avanços que não correspondem ao que realmente está acontecendo em nossas escolas, com os nossos educadores e, claro, principalmente com nossos alunos.)

Nunca se falou tanto em educação. E, parece que, de novo, estamos vivendo uma época em que há um certo anestesiamento, uma certa banalização em torno desses discursos. Por que? Porque nossos ouvidos estão cansados de ouvir a cantilena que nunca se concretiza. Como se apenas palavras bastassem. Chega de falácias, de promessas, de “planos” que ficam apenas no papel. A educação precisa é de RECURSOS e não de discursos. Que tal 10% do PIB já? Seria um bom começo. Falar nisso, já pensou como e em quem vai votar nas próximas eleições? Eduque o seu voto. Ele poderá representar o diferencial para uma educação digna para o nosso País.

(José de Castro, professor e escritor)

José de Castro
Enviado por José de Castro em 18/09/2011
Reeditado em 18/09/2011
Código do texto: T3226044
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