VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS: reflexo da identidade social

*Anarison Coutinho Carmo

**Anderson Rodrigo da silva Almeida

*** Ângela Brito Ferreira

*Acadêmico do curso de letras, licenciatura plena, Anarison Coutinho Carmo

**Acadêmico do curso de letras, licenciatura plena, Anderson Rodrigo da Silva Almeida

***Mestre em educação e orientadora da Universidade Vale do Acaraú, Ângela Brito Ferreira

RESUMO

O presente trabalho aborda as variações linguísticas no âmbito social, onde essas são conceituadas como sendo uma característica inerente às línguas, que é estabelecida de acordo com o modo pelo qual a língua se diferencia, sistemática e coerentemente, levando-se em conta o contexto histórico, geográfico e sócio-cultural. Dessa forma o estudo pretende analisar essas variações linguísticas como reflexo da identidade social, a partir da análise de referencial bibliográfico que aborda as principais diferenças entre língua padrão e língua informal que justificam as variações linguísticas, assim como a averiguação das causas do preconceito linguístico com relação à língua padrão informal e da investigação de como as variações linguísticas são trabalhadas no âmbito escolar, com base em uma metodologia de cunho bibliográfico, qualitativa e descritiva de acordo com um método sociolinguístico, dentro de uma perspectiva de Labov. Com relação ao preconceito linguístico, percebe-se que esse é ocasionado por uma cultura discriminatória, onde há uma desvalorização do padrão de linguagem informal. E sobre a análise dos estudos das variações linguísticas nas escolas, diagnosticou-se que nessas está presente uma falta de reconhecimento com relação às diversidades existentes em nossa língua.

Palavras-chave: Variações linguísticas, língua padrão, língua informal

Abstract

This present work taking the linguistic variations in the social ambit, where these are defined as being an inherent feature of the language, which is established according to the way the language is different, systematically and consistently, taking into account the historical context geographic and socio-cultural. Thus the study intend to analyze these linguistic variations like results social identify, from the verification of the main differences between standard language and informal language that justify linguistic variations, the investigation of the causes of prejudice with respect to the language standard language and informal research as linguistic variations are worked in the school, based on a methodology of bibliographic nature, qualitative and descriptive method according sociolinguistic, within a perspective of Labov. In this sense, it measures that the linguistic prejudice are unchain, it is clear that this is caused a discriminatory culture, where there is a devaluation the standard of informal language. And on the analysis of studies of variations in language schools, was diagnosed in those who present a lack of acknowledgment with respect to the diversity that exists in our language.

Keywords: linguistic variations, standard language, informal language.

1. INTRODUÇÃO

A variação linguística é uma característica inerente às línguas, que é estabelecida de acordo com o modo pelo qual a língua se diferencia, sistemática e coerentemente, levando-se em conta o contexto histórico, geográfico e sócio-cultural no qual os falantes dessa língua se manifestam verbalmente. Estamos conscientes de que a variação linguística é uma situação real e abrangente, e que a simultaneidade da língua padronizada pela gramática normativa e a existência das diversas formas que o falante usa para a efetivação da comunicação, divergem no campo da praticidade oral e escrita. Dentro das variações linguísticas, percebe-se que a Língua Portuguesa utilizada no Brasil não é uniforme, pelo contrário é constituída de muitas variedades, pois embora no Brasil haja relativa unidade linguística e apenas uma língua nacional, notam-se diferenças de pronúncia, de emprego de palavras, de morfologia e de construções sintáticas, as quais não somente identificam os falantes de comunidades linguísticas em diferentes regiões, como ainda se multiplicam em uma mesma comunidade de fala. Dessa forma, percebe-se que as variações linguísticas fazem com que a língua seja adequada à comunidade que a utiliza, permitindo a expressão de seu mundo físico e simbólico, onde há sempre uma ordem de valor das variedades em uso que reflete a hierarquia dos grupos sociais, ou seja, variedades consideradas superiores e inferiores. Diante de tudo que foi exposto e ao analisar as variações linguísticas como essenciais para nossa comunicação cotidiana devido a essas caracterizarem a língua, não tornando essa língua melhor ou pior, e sim simplesmente aproximando o indivíduo de uma melhor compreensão do mundo e sua relação no meio em que vive, fica evidente que essas variações permitem a expressão das necessidades humanas socialmente e a construção e desenvolvimento do mundo, o que justifica a necessidade de se estudar esse tema. Dessa forma, esse trabalho objetiva analisar as variações linguísticas como reflexo da identidade social, a partir da verificação das principais diferenças entre língua padrão e língua informal que justificam as variações linguísticas; Como objetivos específicos a pesquisa busca elencar as possíveis causas do preconceito linguístico com relação à língua padrão informal; investigar como as variações linguísticas são trabalhadas no âmbito escolar; Verificar esses processos inerentes às variações linguísticas.

A pesquisa foi elaborada a partir de levantamentos de dados bibliográficos qualitativos e descritivos, de acordo com um método sociolinguístico dentro de uma perspectiva de Labov. Além disso, o trabalho foi estruturado seguindo os seguintes aspectos concernentes à temática: breve histórico das variações linguísticas; língua padrão (variantes cultas) e língua informal (variantes populares); variação diatópica, diastrática e diafásica; principais fatores que levam a variação da língua e o tratamento escolar sobre o ensino da língua.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Breve histórico das variações linguísticas

Após muitos estudos com relação á linguagem, foi percebido que a língua portuguesa não é propriamente singular, mas sim que à de se considerar ás variantes existentes conforme cada situação disponível.

Por se considerar a língua um sistema homogêneo, o estudo das variações nunca havia despertado o interesse dos linguistas, porém só em meados da década de 1960, quando muitos desses cientistas da linguagem perceberam que não era mais possível estudar a língua sem considerar também a sociedade em que ela é falada, é que se começou a estudar a língua na perspectiva da mudança e da variação em termos sociolinguísticos. Segundo Bagno (2002, p. 27):

A linguagem e suas variações começam á serem vistas de forma inseparáveis, desistindo da ideia de problema social, passando a linguagem á se estudada como parte que constitui e enriquece qualquer sociedade.

O termo variações linguísticas foi aceito no momento que se passou á observar ás varias situações diferentes de comunicação, e a língua começou á se estudada como identidade humana.

Como bem explica Oliveira (2008):

O rotulo variação lingüística ganhou destaque a partir desse momento, com as análises sobre as diversas línguas incorporando variáveis como: idade, sexo, ocupação, origem étnica e atitude. Nessa nova orientação, as tradicionais questões do “certo” e do “errado” passaram a ser vistas em termos de adequação a situação comunicativa, e os comportamentos linguísticos foram assumidos como traços indenitários, como marcas individuais e, principalmente, sociais de estar na comunidade linguística.

2.2 Língua padrão (variantes cultas) e Língua informal (variantes populares)

Lingua culta seria aquela utilizada pelos grandes profissonais linguisticos, é caracterizada pela clareza, uma linguagem ortograficamente correta, que podemos encontrar nos livros didáticos e em trabalhos científicos, etc. Enquanto a lingua informal é caracterizada por girias, regionalidades, e sem alguma preocupação com a norma ortográfica, é aquela que sem dúvidas usamos no nosso cotidiano. As variantes linguísticas estão dentro da linguagem culta e da linguagem informal.

Dockhorn (2001) segue uma linha de pensamento, explicando através de um exemplo, como essas línguas relacionam esses dois tipos de variantes, onde a evolução natural da língua é na realidade a melhor explicação que justifica a presença das variantes cultas e populares nas línguas, onde esse autor argumenta que:

Quando se leem as opiniões dos gramáticos, que dizem que o aluno, ao escrever “Nóis fomu”, usou formas erradas, tem-se a impressão de que eles adotam a tese, segundo a qual, a forma fomu é uma degeneração da forma fomos. Ficaria a pergunta: Quando e onde ocorreu tal degeneração? Além disso, ficaria a pergunta: Esse fenômeno evolutivo deve ser considerado uma degeneração, num sentido pejorativo, ou, simplesmente, uma evolução natural? Pelo que os cientistas afirmam, a evolução é algo inerente à natureza física e biológica. Por que não o seria na linguagem? Se apontarmos a evolução como um processo natural na linguagem, a visão valorativa das variantes toma outra consistência muito mais compreendida.

2.3. Variação diatópica, diastrática e diafásica

Dentro da linguagem podem ser encontrados três tipos de variações, ou seja, formas diferentes de se efetuar a língua. São elas: diatópica, a diastrática e a diafásica.

Diatópica são os modos de falar de cada região, ou seja, variações de lugar que podem ser fonéticas. Também podem ser relativas ao vocabulário. Dois vocábulos diferentes com o mesmo significado, que é lexical, ou podem ser diferentes na estrutura da frase, que resignou-se estáticas. Como comenta Catarino:

A variação diatópica é aquela que se efetua no espaço, ou seja, no lugar. Essa variação pode ser fonética, quando há diferenças nos sons fonéticos de acordo com os modos de falar de cada região (ex. a pronúncia do S chiante do carioca); lexical, quando é relativo ao vocabulário ao se usar palavras diferentes em cada região (ex. no norte e nordeste a macaxeira é chamada de mandioca e aipim, respectivamente) e estáticas quando a diferença está na estrutura da frase (ex. em algumas regiões do Brasil é comum à utilização do pronome tu ao invés de você).

Por outro lado, Catarino (2011) explica ainda que a diastrática está relacionada diretamente com as camadas sociais.

Diastrática está relacionada ao extrato social, à camada social e cultural do indivíduo. Assim como a diatópica, dependendo do que seja modificado pelo falar do indivíduo ela também pode ser: fonética (ex. falar adevogado), lexical (ex. falar presunto no lugar de corpo de pessoa assassinada) ou estática (ex. falar houveram menas percas no lugar de houve menos perdas).

E por fim, esse referido autor explica que a última variação que a diafásica representa a liberdade de expressão individual.

É a chamada diafásica que corresponde à licença que cada um de nós tem para escrever o que bem entender, da maneira que quiser, logo ela representa a liberdade de expressão individual. Essa variação também pode ser fonética (ex. dizer veio com o e aberto, não porque more em determinado lugar ou porque todos de sua camada social usam), lexical (ex. um padre em momento de descontração dizer presunto representando o corpo de pessoa assassinada) ou estática (ex. um advogado dizer encontrei ele, também em um momento de descontração ao invés de dizer encontrei-o)

2.4 Principais fatores que levam a variação das línguas

Dentre os fatores que ocasionam as variações linguísticas, existem quatro tipos: histórica, geográfica, social e estilística.

O processo de variação ao longo do tempo é gradual. Se o individuo isoladamente usa uma variante, logo indivíduos mais expressivos estarão usando. Há também a variação por pronúncia de uma determinada região, e por fim a variação social, que é determinante onde vive o indivíduo, grau de escolaridade, gênero e idade. A variação estilística é quando o indivíduo adapta-se á cada situação.

Segundo Silva & Estevan (2009, p. 14) as variações da língua estão relacionadas ainda a outros diversos fatores como:

A - A faixa etária: palavras que variam ao longo das gerações, cada idade possui uma especificidade em sua fala. Um jovem de 18 anos não usa os mesmos termos que um homem de 40 anos, pois a língua se transforma com o tempo.

B – Gênero: homens e mulheres falam de maneiras distintas, de acordo com os padrões sociais que lhes são culturalmente condicionados.

C – Status socioeconômico: desigualdade na distribuição de bens materiais e culturais, Na maioria das vezes pessoas de status econômico mais baixo possui uma linguagem mais coloquial do que quem status mais alto.

D – Grau de escolaridade: anos de escolarização e qualidade da escola que frequentou.

E – Mercado de trabalho: cargo ou atividade que um indivíduo desempenha dentro de seu trabalho.

F – Rede social: pessoas com quem convivemos e interagimos no nosso dia-a-dia. A variação linguística, portanto é resultado das interações sociais.

2.5 O tratamento escolar sobre o ensino da língua

Um erro muito recorrente nas salas de aula é o velho conceito de que o aluno não conhece sua língua materna, levando aos professores á responsabilidade de ensiná-los a teoria gramatical, como se a língua fosse jamais antes vista. Enquanto o meio mais viável seria que o educador aceitasse essa gramatica regionalizada e caracterizada de cada aluno.

(SOUZA & PAULTZ, 2005) O aspecto do não reconhecimento da diversidade do português falado é visto também na escola, como déficit, pois apresenta um alto grau de diversidade e de variabilidade, isto é, a língua falada não vem ao encontro da norma culta ensinada, sendo a linguagem a principal culpada pelo fracasso escolar.

3. METODOLOGIA

O presente trabalho abrange o estudo das variações linguísticas na sociedade, a partir de uma metodologia qualitativa e descritiva, baseada no levantamento de dados bibliográficos concernentes à temática, que permitiu verificar as variações linguísticas em vários aspectos.

A partir dessa busca de dados na literatura, foram analisados: as principais diferenças entre língua padrão formal e informal que explicam as variações linguísticas, as causas do preconceito linguístico com relação à língua padrão informal e de que forma as variações linguísticas são trabalhadas no âmbito escolar, a partir de um método sociolinguístico, dentro de uma perspectiva de Labov (1983 p. 31)

O método sociolinguístico a partir da perspectiva de Labov é baseado em um estudo que busca estabelecer as relações da língua e suas múltiplas funções com uma sociedade, assim essa análise sociolinguística, é uma tentativa de processar, analisar e sistematizar o universo aparentemente caótico da língua, com a finalidade de entender a língua em seu contexto social – as regras de inserção e as variações sociais expressivas – como elemento prático (SANTOS 2007).

4. RESULTADOS E DISCURSSÕES

Para diferenciar língua padrão de língua informal, deve-se levar em consideração a influência que os diferentes grupos sociais exercem sobre as variantes padrão e informal, que caracterizam especificamente essas línguas, pois tanto a língua padrão como a informal são representadas, respectivamente, por grupos ditos majoritários e minoritários economicamente e culturalmente. Assim como afirma Orlando (2004):

Em um conjunto de variedades linguísticas, que se dá nas relações sociais estabelecidas pela estrutura sociopolítica de cada comunidade; há sempre uma ordem de valor das variedades em uso que reflete a hierarquia dos grupos sociais, ou seja, variedades consideradas superiores e inferiores.

Nesse sentido, percebe-se então que as diferenças entre os grupos sociais, que falam tanto a língua padrão como a informal, são fatores importantes para caracterizar as diferenças entre tais línguas, na medida em que esses são os verdadeiros instrumentos que fazem uso das mesmas. Para Petri (1982, p. 5) outro ponto primordial que diferencia a língua culta da informal são características inerentes a cada uma delas, onde segundo o autor:

Na língua culta estão presentes: maior prestígio; situações mais formais; falantes cultos; literatura e linguagem escrita; sintaxe mais completa; vocabulário mais amplo; vocabulário técnico; maior ligação com a gramática e com a língua dos escritores. Enquanto que a língua informal apresenta: menor prestígio; situações menos formais; falantes do povo menos culto; linguagem escrita popular; redução sintática; vocabulário restrito; gíria, linguagem obscena; fora dos padrões da gramática tradicional.

Preti (1982, p. 21) segue sua linha de pensamento explicando que essas características tendem a evoluir, a modificar-se. A linguagem popular, por exemplo, poderá chegar a um dialeto social vulgar, ligado aos analfabetos. Já, a culta poderá atingir uma linguagem fora da realidade falada.

Então, partido desses pressupostos, percebe-se que dentro dos padrões de língua, sejam eles cultos ou informais, há o estabelecimento e o processamento de variações linguísticas. Dessa forma, vale ressaltar então que nas culturas humanas prevalece uma atitude que parece universal, onde existe uma atribuição de valor cultural a certos padrões linguísticos e a desvalorização de outros padrões, pois há a presença de um preconceito com relação às variantes populares provenientes da língua informal, trazendo a intolerância e a aversão a usos da língua fora dos considerados modelares na sociedade.

Para Brasil (1998, p. 7) o preconceito linguístico, como qualquer outro preconceito, resulta de avaliações subjetivas dos grupos sociais e deve ser combatido com vigor e energia.

Segundo Oliveira (2008), esse preconceito surgiu a partir da concepção de norma culta com o advento da chamada Sociolinguística variacionista, uma área que estuda as relações das variações linguísticas com o meio social, onde esse autor explica que:

A concepção da norma culta como uma variante privilegiada, eleita para a representação da expressão modelar social, também e uma contribuição da Sociolinguística Variacionista. Vem desse contexto a concepção segundo a qual o chamado “bom” uso da língua se traduz pela representação das praticas das classes socialmente favorecidas e dominantes, tratando-se, assim, muito mais de uma questão de poder e de prestigio sócio-político do que de qualquer mérito particular ou intrínseco desse uso especifico.

Segundo Bagno (2002, p. 17) o preconceito com relação à língua informal está vinculado a um mito onde o autor questiona o domínio da norma culta como instrumento de ascensão social. Dessa forma o mesmo explica que:

Tornar as classes populares mais competentes em termos linguísticos não é por si só, garantia de chegada a melhores e mais prestigiados postos na escala social; seriam necessários outros requisitos para essa mudança.

Por outro lado, Oliveira (2008), discordada da opinião do referido autor afirmando que a tese desse não resiste a uma apreciação mais cuidadosa, pois:

Quando se “domina a norma culta”, falada e escrita, adquire-se um autêntico aparato tecnológico necessário e imprescindível ao exercício pleno da cidadania. Assim, um indivíduo de posse desse aparato é aquele cidadão que reivindica, questiona, propõe, lidera, reflete, tem vez e voz, apropria-se de bens culturais, enfim, adquire alto nível de letramento Ademais, a posições de maior prestígio e notoriedade social não se faz em que pese à presença de outros fatores, sem a devida competência comunicativa, que passa necessariamente pela obtenção e manipulação eficiente das estratégias linguísticas de prestigio.

Fregonezi (1975, p. 17) encontra outra explicação para o preconceito linguístico afirmando que esse muitas vezes é gerado por causa do desconhecimento da variação linguística, onde esse referido autor argumenta que:

A capacidade de utilizar corretamente a língua em uma variedade de situações socialmente determinadas é parte integrante e central da competência linguística tanto quanto a capacidade de produzir orações gramaticalmente bem formadas.

Após a análise desse contexto amplamente divergente do preconceito das variações linguísticas, percebe-se ainda a inserção de mais um fator importante, que é o tratamento dado às variações linguísticas no âmbito escolar, pois se verifica hoje uma falta de reconhecimento por parte das escolas das diversidades presentes em nossa língua, o que acaba ocasionado uma imposição da língua padrão considerada correta aos alunos, a partir de uma linha de estudos baseados nas normas cultas gramaticais, não se levando em consideração o perfil linguístico cultural adquirido pelos alunos. Bagno (2002) corrobora essa afirmação ao explicar que:

A escola geralmente não reconhece a verdadeira diversidade do português falado no Brasil, impondo assim, sua linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos os 160 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de sua origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de grau de escolarização.

Nesse sentido, Brasil (1998, p. 12) explica que a língua muda e por isso a escola deve preparar ao aluno para identificar tais mudanças:

A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá independente de qualquer ação normativa. Embora no Brasil haja relativa unidade linguística e apenas uma língua nacional, notam-se diferenças de pronúncia, de emprego de palavras, de morfologia e de construções sintáticas. Assim, se espera que as escolas façam com que o aluno “seja capaz de verificar as regularidades das diferentes variedades do português, reconhecendo os valores sociais nelas implicados”.

Para Soares (1980, p. 16), a escola deve agir como uma transformadora, levando um bidialetalismo funcional aos seus alunos; onde se observem diferenças entre o dialeto de prestígio e os dialetos populares, rejeitando a qualificação desse último como deficiente.

Souza & Paultz (2005) concordam com esse argumento, explicando que:

Com essa mudança de perspectiva, não mais se considera uma única variedade linguística como a língua correta, com base na qual se julgam como erradas, pobres, as demais variedades linguísticas. Desse modo, são considerados os diversos fatores que contribuem para a diversidade linguística – econômicos, sociais, culturais, políticos, ideológicos – de que a escola e as variedades linguísticas são produto.

Silva (2010) enfatiza essa análise explicando o que os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) determinam sobre o estudo das variações linguísticas no ambiente escolar:

O PCN incorporam essa visão de linguagem pautada na variação lingüística, deixando claro que para poder ensinar Língua Portuguesa, a escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma “certa” de falar e que esta se reflete de forma perfeita na escrita, de que nossas salas de aulas são compostas por uma única variante lingüística – a tida como Padrão e que as anomalias esporádicas que surgem em alguns alunos das castas baixas da sociedade, tem que ser concertada, para não contaminar a língua padrão e para que este indivíduo se integre na sociedade dialetal

. Partindo desses pressupostos, Freitas (2007) explica que professor deve proporcionar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na língua, onde é possível ser mostrado a esses estudantes que as classificações “boa” e “ruim”, “certo” e “errado” não existem, mas que devemos saber adequar em cada situação uma variante linguística.

Contudo, afere-se que ainda há muito a ser feito para inserir à correta e justa aplicação das variações linguística em sala de aula, o que, aliás, é um ponto primordial para acabar de uma vez por todas com o preconceito linguístico sobre determinados padrões, pois a educação escolar sempre é um bom alicerce, devido a esta ser a base de orientações dadas aos integrantes futuros de nossa sociedade.

5. CONCLUSÕES

A partir da pesquisa bibliográfica foi possível perceber que as diferenças existentes entre os grupos sociais que falam tanto a língua padrão como a língua informal determinam as distinção entre essas línguas, uma vez que há a presença de grupos considerados superiores e inferiores na sociedade que apresentam linguagens diferenciadas, logo concluísse que essa distinção de classes proporciona as variações linguísticas na sociedade, pois são esses distintos grupos que fazem manuseio da língua e como tal também a transformam. As características específicas inerentes a cada um desses tipos de línguas, é o segundo fator que também justifica as variações linguísticas, pois essas línguas ditas padrão e informal apresentam aspectos heterogêneos que no ambiente social influenciam nessas variações linguísticas.

Com relação à análise dos preconceitos linguísticos dentro das sociedades, percebe-se a presença de uma cultura discriminatória, onde há uma desvalorização do padrão de linguagem proveniente das variantes populares da língua informal.

Segundo os estudos bibliográficos esse preconceito surgiu a partir da concepção de norma culta de acordo com a Sociolinguística variacionista, onde existe um mito de que somente quem domina a norma culta pode alcançar a ascensão social, pois apenas o bom uso da língua dita correta permite a expressão da cidadania. Além disso, outra explicação para essa discriminação da língua informal seria o desconhecimento das variações linguísticas, gerado pela incapacidade de utilizar corretamente a língua em uma variedade de situações socialmente diferentes.

A analisar como as variações linguísticas são tratadas no contexto escolar, verifica-se a falta de reconhecimento por parte das escolas com relação às diversidades existentes em nossa língua, onde essa acaba impondo aos alunos apenas os estudos da língua padrão inserida nas gramaticais, desconsiderando assim as variedades de características linguísticas maternas presente nos estudantes.

Segundo os estudos bibliográficos, a língua está em constante variação e por isso a escola deveria preparar o aluno para identificar tais mudanças, agindo de forma transformadora ao apresentar o bidialetalismo funcional aos seus alunos, para somente assim, acabar com a discriminação, não mais considerando uma única variedade linguística como a língua correta, e sim se levando em consideração todos os dialetos provenientes das variações linguístico socioculturais.

Dentro desse contexto escolar, verificou-se também que os PCN apoiam o estudo das variações linguísticas nas escolas como um requisito importante para inserir os alunos na sociedade repleta de dialetos. Porém, nem mesmo com essa determinação, a prática de inserção dos estudos das variações linguísticas no âmbito escolar passa realmente a ser algo presente nesses ambientes.

Além disso, percebe-se que as ações dos professores deveriam ser voltadas para proporcionar aos alunos o conhecimento das variedades presentes na língua.

Dessa forma, verifica-se que as variações linguísticas estão inseridas nas escolas, através da diversidade linguística trazida pelos estudantes e das premissas colocadas pelos PCN, porém os estudos linguísticos são ainda muito pouco discutidos e enfatizados pelas ações escolares, o que não deveria ser assim, já que a escola é uma base educacional construtora de valores, e como tal deveria incentivar a valorização de todas as línguas para acabar com o preconceito linguístico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico – o que é, como se faz. 15a ed. São Paulo: Loyola, 2002

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental: Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quatro ciclos do ensino fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.

CATARINO, N. Variação linguística, 2011 Gramática online. Disponível em: <http://www.gramaticaonline.com.br/texto/1045/Varia%C3%A7%C3%A3o_Lingu%C3%ADstica>. Acesso em: 12/11/2011

DOCKHORN, N. A valorização das variantes populares da língua portuguesa. Artigo científico, 2001. Disponível em: < http://www.filologia.org.br/xiicnlf/textos_completos/A%20valoriza%C3%A7%C3%A3o%20das%20variantes%20populares%20da%20l%C3%ADngua%20portuguesa%20-%20NESTOR.pdf >. Acesso em: 14/11/2011

FERREIRA, A. E. Leitura e escrita. Plano de disciplina da Universidade Vale do Acaraú/AP, 2009

FREGONEZI, D. E. A variação linguística e o ensino de Português. Cornélio Procópio, FAFICL, 1975.

FREITAS, W. A. Há variação linguística nas escolas públicas? Artigo científico, 2007. Disponível em: <http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/ha_variacao_linguistica_nas_escolas_publicas.pdf. > Acesso em: 04/11/2011

LABOV, William. Modelos sociolingüísticos. Traducción José Miguel Marinas Herreras. Madrid: Cátedra, 1983.

OLIVEIRA, M. R. Preconceito linguístico, variação e o papel da universidade. Cardernos de Letras da UFF – Dossiê: Preconceito linguístico e cânone literário, 2008 Disponível em: <http://www.uff.br/cadernosdeletrasuff/36/artigo6.pdf>. Acesso: 12/111/2011

ORLANDO, T. S. A língua culta e a língua do povo: variantes linguísticas e seu aspecto social em Emília no país da gramática, 2004. Artigo científico- PIBIC - CNPq.. Disponível em: < http://www.facef.br/novo/3fem/Inic%20Cientifica/Arquivos/Thaila.pdf. Acesso em: 11/11/2011>

SABINO, F. Variação linguística. Zellacoracao.com, 2009. Disponível em: < http://zellacoracao.wordpress.com/2009/06/29/variacao-linguistica/.> Acesso em: 14/11/2011

SANTOS, S. L. Variações linguísticas: o confronto das equivalências e o choque dos contrários. Artigo científico de revista eletrônica, 2007. Disponível em: <http://www.utp.br/eletras/ea/eletras1/art04.htm>. Acesso em: 17/11/2011.

SILVA, A. C. A relação da língua falada e escrita sob o olhar dos PCNS. Revista de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Linguística e Literatura, 2010. Disponível em: < http://www.letramagna.com/artigo07_13.pdf. Acesso em: 12/11/2011 >

SILVA, F. E; ESTEVAN, T. C. Variação linguística na sala de aula: uma proposta por meio de textos dissertativos. Monografia apresenta para a obtenção de título de graduação em letras, 2009. Disponível em: <http://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistaletrasfafibe/sumario/6/14042010182008.pdf. Acesso em 04/11/2011>

SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo, Ática, 1980.

SOUZA, A. E; PAULTZ, S. A diversidade linguística no contexto escola. Artigo científico, 2005. Disponível em: <http://jararaca.ufsm.br/websites/l&c/download/Artigos/07_L&C_1S/L&C1s07_Antonio.pdf >. Acesso em 10/11/2011

PRETI, Dino. Sociolinguística: os níveis da fala – um estudo sociolingüístico do diálogo na literatura brasileira. 4 ed. rev. e modificada, com a reelaboração de vários capítulos. São Paulo. Nacional, 1982.

almeida anderson e Anarison Coutinho
Enviado por almeida anderson em 06/12/2011
Código do texto: T3375760