ONDE ESTÁ A FAMÍLIA?

O psicanalista e professor César Ibrahim diz que a terceirização da educação é um dos assuntos mais falados hoje nessa área. Segundo ele, muitos pais estão inclinados a participar da educação dos filhos, mas não sobra tempo para isso. Afinal, educar é uma tarefa penosa que exige esforços e renúncias, tanto da parte dos pais, quanto da parte dos filhos, principalmente, na época da adolescência. Muitas vezes, não há disponibilidade de tempo para os pais exercerem esse trabalho tão árduo.

Com o intuito de compensar essa falta de tempo, muitos pais erram ao querer eximir os filhos de qualquer dor e sofrimento. É um equívoco os pais acharem que a educação é uma travessia de felicidade permanente. É impossível querer protegê-los de todo o mal e colocá-los numa redoma, evitando assim que eles sofram. Toda essa proteção vai apenas desqualificá-los. É preciso, de vez em quando, contrariar, frustrar, impor limites, pois assim os pais estarão preparando seus filhos para o mundo cruel e competitivo que se apresenta aí fora. Educar é isso: preparar os filhos para as adversidades que a vida vai impor. Quanto mais proteção se dá aos filhos, mais se adia a entrada no mundo adulto.

O que fazem então esses pais que dizem não ter tempo para a educação dos filhos? Transferem para a escola, para o terapeuta, para a professora de natação ou para aquele adulto mais próximo, a responsabilidade de educar seus filhos. Isso não existe, pois a educação é uma tarefa exclusiva dos pais. É uma tarefa indelegável, intransferível.

Não há escola alguma que vá educar nossos filhos. Quando os entregamos para uma instituição de ensino, precisamos lembrar que esta escola não está recebendo nossos filhos e sim alunos. A função desta escola é retirar a fantasia, imposta pelos pais, que essas crianças e adolescentes têm de se acharem seres especiais. É justamente o contrário, a escola precisa mostrar para seus alunos que eles são seres comuns, com direitos e deveres e que, dentro daquele ambiente, há regras a serem seguidas. É necessário que a escola retire o sujeito do sono profundo e paralisante, onde nada exige esforço. Mostrar que crescer vai exigir muito e que a posição centralizadora dos pais não é eterna.

Os filhos não podem pensar que o mundo gira em torno da necessidade deles. Eles precisam de fronteiras cronológicas e espaciais, ou seja, eles precisam de horários para realizar suas atividades e noções do que pode ou não pode ser feito dentro e fora de casa. Se já é difícil para uma criança aceitar regras, o que dizer então de um adolescente? Uma fase em que os prazeres imediatos e apelativos se mostram uma constante na vida deles. É nessa hora que os pais precisam se fazer ainda mais presentes. A intolerância do filho só vai ser vencida com uma educação disciplinada. O adulto só vai conseguir isso, se a questão for extremamente clara para ele próprio. Quando se tem segurança na educação que se passa para os filhos, tudo flui naturalmente.

Céu Marques
Enviado por Céu Marques em 09/01/2012
Código do texto: T3429980
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