Falta formação aos professores

ACIR DA CRUZ CAMARGO - Falta formação aos professores

Professores universitários, frequentemente, se escandalizam com a capacidade intelectual e dificuldades primárias apresentadas pelos acadêmicos nos primeiros anos. Deficiências que os acompanham além da graduação. Dificuldade de escrita da língua, formulação do pensamento e capacidade de análise. Maioria dos egressos das universidades entra na pós-graduação dependente de revisores particulares e orientadores. O cotidiano dos docentes e alunos está ausente da realidade brasileira, da própria vida, reduzindo-se ao mosteio do laboratório e sala de aula. Professores sem amor ao ensino, cuja filosofia é casa-universidade-casa. O maior trabalho destes é correção das antigas provas de decoreba. Falsidade e disfarce.

Em consequência disso, a Universidade que é pedante, recusa reconhecer sua responsabilidade no estrago provocado pela sua omissão na escola básica. Nos corredores universitários, professores se desculpam pela negligência e incapacidade de formar bons professores. A mais vagabunda explicação é que a responsabilidade sempre será do formando. A mais medíocre e perniciosa afirma que cada professor tem dom específico. Os negligentes procuram alguém articulador, destas áreas que completem o resto da preguiça e desserviço de todos, isto que realmente ensine e forme professores. Trabalho mal feito, mas institucionalizado, tolerado pelos colegiados de curso, tais doutores serão professores de gerações por trinta anos, causando incalculáveis estragos além do desperdício de dinheiro público aplicado em vão nos salários e projetos sem resultados sociais.

Contudo, os moralistas e demagogos da docência universitária continuarão tratando as licenciaturas em sub-projetos bacharelescos. Vale pesquisa nas licenciaturas de quantos projetos existem na área de formação dos professores. Há interesse dos discentes, menos dos docentes. Se os pretensos educadores universitários, instalados nos conselhos apropriados, desejassem se inteirar da situação e modificá-la como aceitação do dever universitário, levantariam dados de quantos projetos na área de formação docente são praticados pelos professores de tais cursos ou se a carreira docente se dirige exclusivamente para a área individual e restrita da formação técnica do docente.

A única preocupação dos colegiados é arranjar as áreas e disciplinas técnicas do curso, afastando qualquer interdisciplinaridade, que faça com que o docente se veja ensinando na licenciatura. Assim, a influência dos professores vinculados à área mais importante da vida professoral, a pedagogia, é orgulhosamente rejeitada. E os pedagogos temem enfrentar a fúria dos tecnicistas e especialistas das áreas específicas dos cursos e gratificam-se com o papel secundário.

Deixar os próprios bacharelados ou cursos como os da saúde, sem a parte pedagógica, é navegar contra a corrente, puxar a história para traz. A primeira atitude que estes formados tomarão, ao saírem da Universidade ou concluírem sua pós-graduação, será prestar concurso nas universidades para serem aquilo para o que nunca se formaram, professores. Não bastasse, os concursos públicos, herança medieval que alguns julgam capaz de mostrar a eficiência ou não do candidato, não incluem pontos e questões da área de sociologia e formação docente. Quem não se preparou para ser professor não cobrará conteúdo docente, pois as estátuas das bancas também não são habilitadas a ensinar, pelos menos, acreditam que é possível ser professor fora da educação.

* Acir da Cruz Camargo - Cidadão ponta-grossense

(http://www.abnoticias.com.br/artigos/detalhes.php?id=3366&tipo=noticia)