O ENSINO DE REDAÇÃO NA ESCOLA CONTEMPORÂNEA

1 POR QUE ENSINAR REDAÇÃO NA ESCOLA?

A escola deve preparar os alunos para uma vida de sucessos na sociedade; por isso, negar-lhes a habilidade de escrever bem é, já de saída, dificultar em muito essa possibilidade, já que a habilidade de comunicar-se bem, por escrito, é uma das mais importantes das sociedades modernas e, por isso mesmo, uma das mais cobradas quando o assunto é conquistar um bom emprego, ser aprovado em um concurso público, em um vestibular, ser promovido a posições mais elevadas no trabalho, etc. Nesse contexto, um bom redator tem maiores e melhores oportunidades de alcançar sucesso na sociedade moderna do que aqueles que não escrevem bem. E, por assim dizer, o professor de redação muito colabora para essa possibilidade de sucesso e realização.

2 QUAIS OS ELEMENTOS BÁSICOS NA REDAÇÃO ESCOLAR?

A princípio, a escola precisa trabalhar a redação da vida, ou seja, precisa levar o aluno a saber como responder, como se comunicar formal e informalmente, como escrever relatórios, como requerer, como solicitar, como escrever poemas e poesias, como dar notícias, etc., e tudo isso escrevendo, fazendo assim tudo o que costumamos fazer no dia a dia. É esta a preparação que os diferentes alunos precisam para poderem seguir cada um o seu caminho com suas diferentes perspectivas de vida.

Quando percebemos que essa chamada “Redação Escolar” pode e deve ser substituída pela “Redação da Vida”, concluímos que cada texto tem uma estrutura diferente, porque também cada texto tem propósitos diferentes. Assim, concluímos ainda que nem toda redação deve ter a popular estrutura do “começo, meio e fim” e, desta forma, somos despertados para compreender que se uma receita culinária, por exemplo, tiver a mesma estrutura de uma artigo de jornal ou vice-versa, alguma coisa está errada.

3 COMO ENSINAR E AVALIAR A REDAÇÃO NOS DIFERENTES NÍVEIS DE ENSINO?

Algumas coisas nos sistemas de ensino precisam mudar para que o ensino de redação seja eficiente:

PRIMEIRO: Só se aprende a escrever escrevendo. Isso todos sabem. Entretanto, o tempo dedicado ao desenvolvimento dessa habilidade é, infelizmente, muito curto. É preciso aproveitar um tempo maior para esses momentos em sala de aula.

SEGUNDO: É preciso aproveitar esse tempo preparando o aluno para redigir e, efetivamente, redigindo e corrigindo as redações.

TERCEIRO: A redação não é exclusividade do professor de língua materna (de Língua Portuguesa, no caso do Brasil). Ela deve ser praticada em todas as disciplinas, por todos os professores, nas mais diversas situações, pois o foco educacional é, como sempre deveria ser, leitura e escrita, sendo estas habilidades necessárias, por isso mesmo, para a compreensão e aprendizagem em qualquer componente curricular do currículo escolar.

QUARTO: Os sistemas de ensino precisam reformular, assim, seus programas curriculares de língua materna em cada série e ano das modalidades de ensino disponibilizadas pelas escolas, pois a redação não se constitui uma disciplina. Ela é uma habilidade indispensável para a aprendizagem e percorre, por isso mesmo, por todos os campos de estudo permanentemente.

QUINTO: Faz-se necessário, então, uma reavaliação por parte de todos os professores do que seja realmente redação, bem como a efetivação de suas responsabilidades no desenvolvimento dessa habilidade de escrever dos alunos.

SEXTO: As unidades de ensino precisam reavaliar a quantidade de classes e alunos com que os professores conseguem trabalhar com qualidade para o desenvolvimento dessa habilidade.

SÉTIMO: A redação é algo muito complexo e, por isso, sua perfeição por inteiro não pode ser cobrada em todos os níveis. Cada aspecto trabalhado deve ser cobrado progressivamente, e dessa forma, também a correção da redação deve dar ao aluno a possibilidade de refazer o texto. Se ela tiver “tudo” corrigido de uma vez, o aluno não saberá o que deveria ser refeito, nem como. Deparamo-nos sempre com redações que, quando submetidas à avaliação do professor, as vemos como uma árvore de natal de tantos círculos vermelhos marcados pelo avaliador e onde estes professores falham (e muito) corrigindo tudo, absolutamente tudo o que fugiu da normativa gramatical (ao que muitos se prendem sem atentar sobretudo para o gênero discursivo e para o discurso produzido pelo aluno. É bem verdade que o aluno pode ter falhado nestas normas, mas se o que se ensinou ao aluno até então, por exemplo, foi apenas conjugação verbal, acentuação gráfica e pontuação, não se pode cobrar do aluno aquilo que ainda não lhe foi ensinado, e muito menos atribuir-lhe uma baixa nota por ter falhado na concordância, na regência, nas construções sintáticas, etc, se isso ainda não foi objeto de ensino.

OITAVO: O conteúdo da redação precisa ser discutido com o aluno. O que ali ele diz não pode ficar subordinado à forma como é dito apenas, nem o fato de uma letra bonita pode ser considerado como condição de uma boa nota.

NONO: Só conseguimos discutir, falar, escrever sobre algo já conhecido. Não se pode chegar de supetão e lançar um tema qualquer para o aluno sem que tal conteúdo não já tenha sido primeiro apresentado e discutido em sala de aula, e deixar o tema livre é pior ainda, pois até o aluno decidir sobre o que vai escrever, lá se foi a aula.

DÉCIMO: A complexidade da redação não permite o melhor resultado no primeiro feitio. É bem proveitoso permitir que os alunos refaçam suas redações após alguma forma de avaliação coletiva. Mesmo grandes escritores fazem e refazem seus textos muitas vezes antes de dá-los a publicar. Por que isso deveria ser negado aos alunos se justamente estes ainda estão aprendendo?

DÉCIMO PRIMEIRO: No nosso cotidiano, não escrevemos por escrever. Escrevemos para alguém, com algum fim. Isso implica dizer que as redações dos nossos alunos deveriam ser feitas com algum propósito além do escrever propriamente dito. É preciso avaliar se a escrita do aluno alcançou o objetivo a que se destina.

DÉCIMO SEGUNDO: O ato de escrever precisa ser uma atividade prazerosa para os alunos. E isso só é possível quando eles conseguem realizar coisas importantes com sua habilidade de redigir.

4 DEVE-SE ENSINAR "REDAÇÃO DE VESTIBULAR" NO ENSINO MÉDIO?

A redação de vestibular tem sido encarada como uma condição existencial para os alunos e ensinada como se fosse apenas uma dissertação “quadradinha”, com começo, meio e fim. Essa forma insistente e maçante de trabalhar apenas essa forma de redação deixa, evidentemente, sequelas na formação dos alunos, e uma delas é achar que “redação” é o nome da tal dissertação e, pior ainda, que redação é só aquilo. É certo que treinar a redação de vestibular é uma cobrança dos próprios alunos, porque eles querem entrar nas faculdades e universidades que insistem em fazer a seleção dos candidatos às vagas ao ensino superior dessa forma. Mas enquanto isso, outras formas importantes de redação, como a literária, por exemplo, são totalmente esquecidas.

Assim sendo, deve-se ensinar “redação de vestibular” sim, mas dando a ela apenas a importância que ela merece, sem deixar de lado as outras formas igualmente importantes da redação.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

DURIGAN, Regina H. de Almeida, et al. Texto escrito. In: INFANTE, Ulisses. Do texto ao contexto: curso prático de leitura e redação. São Paulo: Ática, 1991. p. 46-47.

FERRAREZI, Celso Jr. Ensinar o brasileiro. São Paulo: Parábola, 2007.

MARTINIANO, Emilson. Proposta pedagógica pós-médio para o ensino de língua portuguesa: Projeto Itaquitinga do Futuro: Preparatório para exames. Itaquitinga: SEDUC, 2012.

Prof Emilson Martiniano
Enviado por Prof Emilson Martiniano em 03/07/2012
Reeditado em 10/09/2016
Código do texto: T3758316
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