A formação continuada de Professores: algumas considerações

A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

GUIOVANE ARAUJO ALVES

JACÓ VILHENA DE CASTRO

Educar é realizar a mais bela e complexa arte da inteligência. Educar é acreditar na vida, mesmo que derramemos lágrimas. Educar é ter esperança no futuro, mesmo que os jovens nos decepcionem no presente. Educar é semear com sabedoria e colher com paciência. Educar é ser um garimpeiro que procura os tesouros do coração.

Augusto Cury

RESUMO

O presente estudo bibliográfico analisa a importância da educação continuada para docentes, com a proposta de discutir os pressupostos da formação do professor a fim de que se possa refletir sobre a prática pedagógica de modo a ampliar conhecimentos e promover o desenvolvimento profissional como forma de contribuir para a melhoria da qualidade de ensino. Contextualizar a formação no âmbito do processo de desenvolvimento profissional dos professores decorre do entendimento de que a formação contínua se processa como algo dinâmico, que vai além dos componentes técnicos e operativos normalmente impostos aos professores pelas autoridades competentes, que não levam em conta a dimensão coletiva do trabalho docente e as situações reais enfrentadas por esses profissionais em suas práticas cotidianas. No seu processo de formação, o professor se prepara para dar conta do conjunto de atividades pressupostas ao seu campo profissional. Atualmente, concebe-se essa formação voltada para o desenvolvimento de uma ação educativa reflexiva, capaz de preparar os alunos para a compreensão e transformação positiva e crítica da sociedade em que vive.

Palavras-chave: formação continuada, prática docente, prática reflexiva

1- INTRODUÇÃO

As constantes discussões sobre a construção do conhecimento e a formação do profissional docente constituem-se em uma preocupação que impulsiona um volume considerável de estudos e produções teóricas. Se partirmos do contexto da realidade humana contemporânea, marcada pela complexidade das mudanças sociais, econômicas e culturais que se desenvolvem tão rapidamente em todo o mundo, torna-se cada vez mais urgente e desafiador a reflexão sobre os desafios da construção de um processo de educação que tenha na qualidade, seu pressuposto fundamental de re-significar o sentido da vida, resgatando no homem a sua verdadeira humanidade, buscando fazê-lo um ser com capacidade de pensar, de estar em permanente trabalho de reflexão. Dentro desse contexto, cabe ao professor, papel fundamental no processo de formação da identidade e da autonomia intelectual dos alunos.

Na construção do conhecimento escolar é fundamental que o profissional docente seja alguém que pense e atue em diversos níveis e âmbitos, identificando necessidades de aprendizagem, a partir das quais organiza e estuda os processos formativo/educativos em permanente construção/reconstrução, garantindo a continuidade da ação educativa, levando em consideração as especificidades nos diferentes sujeitos e contextos, priorizando a pesquisa nos processos educativos, nas práticas pedagógicas, nas políticas educacionais e nos fundamentos da educação.

Partindo do princípio de que é preciso compreender a ação dos sujeitos no processo da construção do conhecimento, torna-se imprescindível analisar a formação docente, as teorias sobre a construção do conhecimento, as experiências da aprendizagem escolar atuais, além das propostas pedagógicas de âmbito escolar.

Dentro das experiências de formação docente se encontram aquelas que os educadores vivem no espaço de trabalho, organizados a partir do cotidiano de suas vidas, imbricadas na realidade, desde as dimensões econômicas, até os aspectos culturais, políticos, religiosos, sociais.

É nesse mundo partilhado do dia-a-dia que reside um grande potencial de reorganização dos atuais sistemas educacionais, envolvendo as relações de trabalho, a busca do saber, tanto do professor quanto do aluno e o ensinar aprendendo através da formação continuada do professor que busca qualidade para a sua prática educativa.

2- IMPORTÂNCIA DA FORMAÇAO CONTINUADA DE PROFESSORES

Com a mudança constante da sociedade e a consequente idéia de um novo profissional, hoje o conceito de docente competente é bem mais amplo. São inúmeras as competências que os profissionais de hoje devem desenvolver, apresentar e buscar. Essas competências gravitam em torno de um motivo: Incentivar, conquistar o aluno a gostar de aprender, estimulando-o a aprender pela pesquisa. Ensinar a organizar idéias que possam auxiliá-lo na resolução de situações-problema. Que o aluno seja transformador, autônomo, responsável em tomar decisões que afetam a sua vida e a de outros.

Para Demo (1993), a superação da habilidade didática e pedagógica compreende restauração, e ressalta que:

O que se espera do professor já não se resume ao formato expositivo das aulas, a fluência vernácula, a aparência externa. Precisa centralizar-se na competência estimuladora da pesquisa, incentivando com engenho e arte a gestão de sujeitos críticos e autocráticos, participantes e construtivos.

Para que isso ocorra o professor tem que incorporar a capacidade de incentivar o aluno à criatividade, conduzindo-o para aquisição de informações, com as quais ele possa interagir, envolver-se, aprender a lidar com elas e englobar desafios. Para que esse processo aconteça, o profissional de hoje deve estar em constante aperfeiçoamento, re-analisando, criticando seu papel de educador. Isso não significa que ele deva ser portador de todos os conhecimentos, mas que saiba buscar, interagir com eles e incentive o aluno a buscar e a organizar informações.

3- UMA FORMAÇAO CRÍTICO-REFLEXIVA

Segundo Zainko (2006...p.193). As tendências contemporâneas da educação apontam para a necessidade de se ter um professor reflexivo, como elemento central do processo de formação, uma vez que ele irá participar com os alunos de um processo de construção e apropriação do conhecimento.

A reflexão é imprescindível para fazer com que o professor rompa a barreira para a mudança, que é constituída pelas concepções prévias. Tais idéias terão uma chance maior de serem modificadas, se o professor refletir de forma coletiva sobre aspectos teóricos que subjazem a prática, no intuito de construir uma prática renovada, levando-o a alicerçar a sua competência docente e conduzindo-o a perspectiva da construção de sua identidade de professor.

A prática reflexiva ocupa um lugar de promotora de conscientização dos docentes, sendo esta, imprescindível para a formação de sua identidade profissional, ou seja, é fundamental que o professor saiba quem ele é, o que deve fazer na sala de aula e o porquê de suas escolhas, dentro e fora de sua sala de aula.

As reflexões de Libâneo, (2002), ao abordar essa temática, chamam atenção para os reducionismos que podem marcar a utilização da terminologia professor/a reflexivo/a. As considerações do autor dão conta de que é necessário vivenciar a atitude reflexiva ultrapassando os limites da sala de aula, ultrapassando a perspectiva de busca de solução para os problemas imediatos. Em sua análise destaca:

A necessidade de reflexão sobre a prática a partir da apropriação de teorias, como marco para as melhorias da prática de ensino, em que o professor é ajudado a compreender seu próprio pensamento e a refletir de modo crítico sobre sua prática e também a aprimorar seu modo de agir, seu saber-fazer, internalizando novos instrumentos de ação.

A experiência docente é um espaço de produção de conhecimentos, decorrendo da postura crítica do/a professor/a sobre a sua prática profissional. O que implica refletir criticamente sobre o que ensinar, como ensinar e para que ensinar. Implica também na reflexão sobre a postura docente nas relações com alunos/as, bem como nas inter-relações no sistema social, político, econômico e cultural.

4 – PRESSUPOSTOS DA FORMAÇAO CONTINUADA DE PROFESSORES

Contextualizar a formação no âmbito do processo de desenvolvimento profissional dos professores decorre do entendimento de que a formação continuada se processa como algo dinâmico, que vai além dos componentes técnicos e operativos normalmente impostos aos professores pelas autoridades competentes, que não levam em conta a dimensão coletiva do trabalho docente e as situações reais enfrentadas por esses profissionais em suas práticas cotidianas. Essa contextualização também propicia um caráter mais orgânico às várias etapas formativas vividas pelo professorado, assegurando-lhes um caráter contínuo e progressivo.

Na medida em que a formação se articula com os demais aspectos da atuação dos professores – contexto social de atuação, ética, condições de trabalho, carreira, salário, jornada, avaliação profissional –, permite considerar a docência como uma profissão dinâmica, em constante desenvolvimento, propiciando a construção da autonomia profissional e social. Nesse contexto, a escola como instituição social, que abriga mundos diferentes refletidos em seus alunos e educadores, é uma instituição co-responsável pelo desenvolvimento e transformação da sociedade. Por isso, é importante que os profissionais aceitem e vivenciem a formação permanente, a fim de caminhar na perspectiva da autonomia, refletindo sobre a sua prática profissional e desenvolvendo novas maneiras de ensinar e aprender. É nesse contexto, que a formação continuada encontra o seu espaço nas necessidades pedagógicas, visto que, conforme afirma Libâneo (2004).

... a formação continuada pode possibilitar a reflexividade e a mudança nas práticas docentes, ajudando os professores a tomarem consciência das suas dificuldades, compreendendo-as e elaborando formas de enfrentá-las. De fato, não basta saber sobre as dificuldades da profissão, é preciso refletir sobre elas e buscar soluções, de preferência, mediante ações coletivas.

A construção do conhecimento é um processo pessoal, por outro lado é uma produção coletiva, fruto de um processo compartilhado: o conhecimento de cada um resulta de aprendizagens conquistadas coletivamente. O trabalho em colaboração é um poderoso aliado nesse sentido e situações de real parceria certamente possibilitam uma qualidade de conhecimento superior á que se poderia conquistar sozinho, graças ao enriquecimento resultante do confronto e da troca de ponto de vista e da ampliação do repertório de significados, de experiências e de informações.

Uma das competências fundamentais a ser desenvolvida na formação é a de trabalhar de forma cooperativa para que o processo educativo possa ser desenvolvido pela equipe escolar, que com suas diferenças se potencializam.

A escola deve se constituir num espaço privilegiado de debate, discussão e encontros que possam, progressivamente, promover a formação continuada dos professores. Um espaço onde todos possam expor e defender idéias, compromissos, problemas e opiniões relacionadas à educação, conquistando mais autonomia e construindo uma competência profissional efetiva. Certamente esses não são processos hegemônicos e uma das aprendizagens que aí se inclui, refere-se ao respeito à diferença e a capacidade de encontrar convergências com base no trabalho.

Essas questões propiciam uma profunda reflexão que articula autonomia e formação. No entanto, a autonomia somente será conquistada quando os professores fortalecerem os movimentos enquanto profissionais e compreenderem a necessidade de uma formação sólida, analisando a educação de uma forma mais ampla, incluindo as políticas sociais nas quais a educação se desenvolve, o conteúdo, as estruturas e os interesses políticos aí implicados.

Pensar a autonomia docente supõe ver a escola e tudo que a envolve de uma forma critica e consciente. Cabe aos professores, enquanto profissionais de ensino, a busca constante da formação, usando recursos e oportunidades que favoreçam a qualidade do ensino. Entretanto, os sistemas oficiais de ensino devem estar comprometidos com as condições necessárias à formação continuada dos professores. É preciso que o poder público, através das instituições competentes (Universidades, Institutos etc) possa garantir aos professores, oportunidades de formação continuada que possam promover o seu desenvolvimento profissional. E ainda, possibilitar condições adequadas de trabalho, remuneração e incentivos que façam do magistério uma profissão atraente.

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência docente é um espaço de produção de conhecimentos, decorrendo da postura crítica do professor sobre a sua prática profissional. O que implica refletir criticamente sobre o que ensinar, como ensinar e para que ensinar. Implica também na reflexão sobre a postura docente nas relações com os alunos, bem como nas inter-relações no sistema social, político, econômico e cultural.

Para que esse processo aconteça, o profissional de hoje deve estar em constante aperfeiçoamento, re-analisando, criticando seu papel de educador. O professor, no atual contexto, necessita para poder dar conta das demandas da sociedade, muito mais do que um curso de formação inicial, que se sabe, insuficiente para desempenhar suas funções com eficiência, mas de uma formação continuada que possibilite a profissionalização, o aperfeiçoamento constante e a reflexão sobre a sua prática pedagógica, formação esta realizada em serviço, com o objetivo de compensar as deficiências da formação inicial e manter o docente atualizado com relação às tendências pedagógicas atuais.

Para concluir, a formação deve ser transformadora da compreensão dos fenômenos educativos, das atitudes do professor e do seu compromisso com a aprendizagem de seus alunos, devendo-se considerar ainda os processos pelos quais os professores se apropriam e constroem seus conhecimentos, suas características pessoais e suas experiências de vida profissional.

A busca por uma melhora da qualidade de ensino é um trabalho constante, não é uma simples melhoria na didática, mas sim a procura de recursos que favoreçam a formação de um novo cidadão, voltado para a qualidade de vida.

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DEMO, Pedro. Desafios Modernos na Educação. Petrópolis/RJ: Vozes, 1993.

FERREIRA. N. S. C.; et al. Formação Continuada e Gestão da Educação. In ZAINKO. M. A. S. (Org.). Desafio da Universidade Contemporânea: O processo de Formação Continuada dos profissionais da educação. (pag. 187 a 217). 2.ª Ed. Editora Cortez, 2006.

LIBÂNEO, José Carlos: “Reflexividade e formação de professores: outra oscilação do pensamento pedagógico brasileiro”, in PIMENTA, Selma Garrido, e GHEDIN, Evandro: Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo, Cortez Editora, 2002.

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5 ed. São Paulo: Editora Alternativa, 2004.

NÓVOA, Antonio. (org.). Profissão Professor. Porto: Porto Editora, 1991.

RIOS, Terezinha Azeredo, Compreender e Ensinar: por uma docência de melhor qualidade. São Paulo: Cortez Editora, 2001.

Guiovane Alves
Enviado por Guiovane Alves em 22/09/2012
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