O Professor tem que ser um Bom Modelo

O Professor tem que ser um Bom Modelo

Luiz Eduardo Corrêa Lima

(Professor Titular de Biologia da FATEA/Lorena/SP)

(Monitor de Educação Profissional/SENAC/Guaratinguetá/SP)

Se formos até o dicionário e procurarmos a definição do que seja um “modelo”, encontraremos que modelo é algo que serve de exemplo, um protótipo, algo que é capaz de demonstrar o que se quer representar. Pois então, o Professor é um modelo de ser humano ideal para a maioria das pessoas, pois modelo, como já foi dito, é algo que serve de comparação, de referencial, de padronização daquilo que se quer representar.

Os Seres Humanos são imaginados e comparados a partir de modelos e os bons professores, não sei bem o porquê, costumam ser os melhores modelos sociais para a comparação entre as pessoas. Assim, se quisermos ter pessoas boas é fundamental que tenhamos grande número de professores bons, para garantirmos que o número de pessoas boas seja maior que o de pessoas ruins. É duro ter que admitir, mas infelizmente a verdade que: “como professores também somos, ainda que indiretamente, responsáveis por muitas das pessoas ruins, pelo menos, por aquelas pessoas ruins que passaram pelas nossas salas de aulas e escolas”.

Muitos de nós criticávamos os nossos professores e hoje fazemos exatamente as mesmas coisas erradas, algumas vezes até piores, do que eles faziam, porque eles também foram modelos para nós, no caso maus modelos, mas infelizmente nós aprendemos algumas coisas com esses nossos professores ruins, nos quais, mesmo que indiretamente, fomos levados a nos inspirar, ainda que parcialmente.

Parece incrível, mas, para os nossos alunos, nós professores, somos modelos para quase tudo. Como modelos profissionais somos obrigados a respeitar a hierarquia, efetuar tarefas, cumprir horários, seguir programas nas nossas atividades professorais. Como modelos de pessoas somos conscientizados da obrigação de sermos educados, atenciosos e de tratar bem às demais pessoas da nossa vivência comunitária. Como modelos de cidadãos somos orientados a ter conduta ética, respeitar o próximo e ao planeta, participar das discussões meritórias e agir com presteza no interesse da comunidade onde estamos inseridos. Como indivíduos sociais, temos que nos relacionar corretamente com nossa família, tratar bem nossos cônjuges e filhos, sermos responsáveis e solidários com nossos pais e avós.

Enfim os professores são modelos de postura e de conduta para a grande maioria das pessoas. Meus amigos podem acreditar que nós professores estamos sendo sempre observados e comparados em todas as nossas ações e atitudes, por isso não dá para ser professor se não tiver padrão de comportamento firme, único e coerente em qualquer situação. Não é possível ser professor do tipo: “diga o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, porque o professor tem que ser aquele sujeito que diz e faz sempre do mesmo jeito que diz. O Professor tem que ser ético e ter a mesma cara, a mesma postura e manifestar sempre as mesmas atitudes todos os dias.

Ora, se é verdade o que estou dizendo, então está na hora de fazer uma pergunta: será que todos nós estamos preparados para sermos professores? Será que todos nós, apesar da rigidez da condição imposta, somos modelos de bons professores de fato? Não se preocupem em responder, porque eu já sei a resposta, pois ela só pode ser a seguinte: obviamente que não!

Nós vivemos num mundo com tantas mudanças, cheio de mazelas e dificuldades e por isso mesmo temos certeza de que ninguém é perfeito. Entretanto, como professores, precisamos tentar caminhar na direção da perfeição. Devemos procurar sermos pessoas (homens e mulheres), sobre todos os aspectos possíveis, cada vez melhores como bons exemplos que queremos e devemos ser. Essa deve ser a nossa maior utopia: a busca da perfeição. Porém, como não somos perfeitos a resposta a questão acima só pode ser não.

Bem, mas saiamos da utopia e voltemos à realidade. Na minha sala de aulas eu demonstro ao meu aluno o meu conhecimento, a minha cultura e principalmente aquilo que penso? E na minha vida particular eu demonstro que procedo da mesma maneira que digo pensar nas diferentes situações em que me encontro? Se a resposta às duas perguntas for sim, então, eu estou fazendo a minha parte corretamente e sendo assim, mesmo não sendo perfeito e não sendo necessariamente o melhor modelo, certamente eu posso me definir como um bom modelo de professor, porque a comunidade que me cerca certamente me vê desta maneira.

Por outro lado, o meu aluno que me conhece, a princípio, apenas como Professor de uma determinada disciplina (matéria) sabe se sou um verdadeiro estudioso e conhecedor daquela disciplina ou sou mais um contador (narrador) de histórias as quais não conheço direito, isto é, um mero “dador de aulas”? Quando estou ministrando aulas, encaro minhas turmas de frente ou olho para a parede do fundo da sala para não ver ninguém ou, o que é pior ainda, olho para o chão porque tenho vergonha e medo de ser questionado? Falo com meu aluno de pessoa para pessoa ou tento demonstrar que sou superior para esconder a minha verdadeira inferioridade? Se você responder sim a essas perguntas, obviamente você está no caminho errado e contrário da Educação e assim não deveria estar atuando como professor.

Se o Professor é um modelo, ele pode ser um bom modelo ou um mau modelo. Em qual das duas situações você se enquadra? Não precisa responder agora, apenas reflita, porque para mim não interessa, a não ser que eu fosse pai de um dos seus alunos. Não precisa responder também para os seus alunos, porque eles certamente lhe conhecem melhor do que ninguém e obviamente eles já sabem a resposta. Você só precisa responder para você mesmo. Reflita bem e veja se você é realmente um bom modelo como professor.

Ser professor, como já foi dito é isso: é buscar a utopia de ser efetivamente um bom modelo e estar sempre preocupado com ela. Se você faz tudo dentro de padrões claros, coerentes e corretos não precisa se preocupar, porque você é efetivamente um bom modelo e logicamente também é um bom professor. Mas, se você é contrário a essas condições, por favor, mude de atitude ou desista porque você não pode e nem deve ser professor.

O professor é o cidadão e o profissional que forma todos os outros cidadãos e profissionais, talvez por isso a sociedade o tenha como modelo principal de pessoa. Entretanto, se esse professor não for um bom modelo, ele não poderá formar, nem profissionais e nem mesmo bons cidadãos, bons indivíduos, bons pais e mães e nem outros bons professores. Se o profissional em questão for de outra área (diferente da educação), até há possibilidades teóricas de que ele seja um bom profissional, que possa dar boas orientações, produzir excelentes treinamentos, obviamente se sua inspiração tiver sido um bom modelo de sua área profissional específica, mas ainda assim ele jamais poderá ser um bom professor, se o seu modelo for apenas profissional.

Enfim, o modelo profissional de professor do qual estamos falando está preso a três conjuntos básicos de características, sem as quais é impossível exercer a profissão a contento e obter bons resultados a partir dela. Em primeiro lugar, o Professor tem que ter cultura, ética e sobre tudo conhecimento, tem que conhecer sua matéria e tem que ter visão geral das demais. Num segundo momento Professor tem que ser um grande comunicador, um sujeito capaz de atrair a atenção voluntária de seu aluno para poder ministrar sua aula e assim vender o seu peixe sem problemas. E por fim, como terceira condição, o Professor tem que ter segurança, excelente capacidade argumentativa e poder de convencimento sobre aquilo que fala. O aluno tem que acreditar naquilo que o Professor fala. Para ser bom professor é preciso ir além da simples condição profissional é por isso que ele precisa ser um modelo que mistura competência profissional com retidão de caráter e carisma pessoal.

Se você se enquadra nessas três condições fundamentais, parabéns, pois saiba que você tem tudo o que precisa para ser um excelente modelo e assim você deve ser um Grande Professor. Entretanto, se você não se enquadra nas condições acima, então comece a procurar outra coisa para fazer, porque você não é um bom modelo como professor e está exercendo a profissão errada. Além disso, você está consequentemente atrapalhando o processo educacional brasileiro. Infelizmente há muitas pessoas erradas em nosso meio, ou seja, ainda existem muitos entre nós que não são os bons modelos e precisamos melhorar essa situação, para engrandecer a Educação e consequentemente produzir pessoas melhores.

Por enquanto, estamos aqui para comemorar o nosso dia e parabenizar a todos que como exemplos estão por aí trabalhando pela Educação Brasileira e pela formação de boas pessoas. Assim, quero aqui deixar os meus votos de um Feliz 15 de outubro e de parabéns a todos os bons modelos e verdadeiros professores desse país.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (56) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Ambientalista e Escritor.