O EDUCADOR DIANTE DA JUVENTUDE

Só a partir da década de 60 o Brasil começou a discutir, com mais amplitude, o comportamento e o futuro da Juventude. Era o momento em que o grupo musical inglês –Os Beatles – encantava o mundo com suas canções revolucionárias, e a própria sociedade rediscutia os valores instituídos, a tradição familiar e o poder patriarcal sobre a família.

Na época surgiu um movimento denominado “hippies”, jovens que rompiam com a tradição e saiam pelo mundo em busca de aventura e liberdade. Mudaram o jeito tradicional de vestir, usando o que os conservadores classificavam de “andrajos”, os cabelos despenteados, a linguagem oral cheia de gírias, de adjetivações e um comportamento acima de tudo curioso, pois fugia ao senso comum.

Muitos daqueles jovens são hoje os pais ou avós de adolescentes rebeldes e revolucionários. Certamente que a juventude dos dias atuais não possui ícones de têmpera de um Guevara, nem a força espiritual de um músico referencial como Bob Marley. Não há, ainda, motivo para tomar a rua, participar da vida política nacional, mudar comportamentos. O último grande movimento originado na Juventude foi o chamado “Diretas Já”, quando o país conduzido pela onda de uma geração corajosa, foi às ruas mudar o perfil político do Brasil.

Os jovens de hoje são diferentes dos jovens dos anos sessenta?

Qual a principal diferença entre a juventude deste tempo e aquela que participou de um movimento que tirou do poder um Presidente da República?

A sociedade vive em ciclos.

Atravessamos o ciclo das revoluções, quando tanques de guerra percorriam as ruas das principais cidades inibindo a ação da juventude.

Atravessamos igualmente o ciclo de uma juventude que soube captar o seu momento, indo às ruas num protesto de bons resultados políticos.

Como educadora e observando a ansiedade com que os jovens dos nossos dias comparecem às baladas e aos encontros festivos, observo que participam pouco das discussões em sala de aula, parecem indiferentes ao processo de desenvolvimento político do país, posso assegurar que as coisas não são exatamente assim.

Como a preparação do jovem para o vestibular exige determinação, o processo de mudança psicológica na juventude também se processa, como as mudanças orgânicas que experimenta, no mesmo ritmo da ansiedade de quem se prepara para o desafio do vestibular.

É preciso motivação. Mas essa motivação deve partir da família, reaquecer na sala de aula, ferver nos debates coletivos, até chegar ao ponto ideal em que todos, indistintamente, se incorporem a um ideal comum.

Centro da atenção e da curiosidade dos alunos, diante da juventude de hoje devo me portar, como acredito que estou me comportando, atenta às ocasionais mudanças no conjunto da sala de ou individualmente, isto, é, alunos que supostamente revelam mudanças de comportamento impelido por algum motivo externo. Essa interação é necessária, para que possamos melhor entender as fases pelas quais os jovens perpassam e compreender o seu desejo de crescer e participar.

A Juventude dos nossos dias não encontrou ainda sua motivação, não chegou ainda àquele momento em que o ideal explode como uma rosa abrindo suas pétalas para o mundo.

Enquanto isso não ocorre, o apelo às abaladas noturnas, a consagração de ídolos circunstanciais que desaparecem na primeira esquina, os exemplos nocivos de políticos que repassam uma doutrina perniciosa para todos, a família já desintegrada na sua raiz, mas sempre em busca de reestruturação, a troca de experiências com os iguais, isto é, com os colegas não tão experientes, tudo isto forma um conjunto de valores a influenciar a consciência crítica da juventude.

No que posso, reaprofundo ensinamentos de ética, exalto o procedimento moral, reclamo a prática de ações dignas, tento mostrar-lhe caminhos, mas enquanto eles não descobrem seus caminhos, procuro despertar neles o poder que eles possuem dentro de si, como muito bem foi dito por Affonso Romano de Sant’Anna em uma de suas crônicas “vocês jovens não sabem a força que têm”, quem sabe um dia eles possam realmente descobrir o poder que tem em mãos e se torne de alguma maneira uma referença para alguém de sua ou de outra geração.