A ESCOLA, O CURRÍCULO E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

[...] Enquanto o ensino discursa pelo âmbito do livro, o professor se sente forte, mas quando o mundo da imagem aparece, o professor perde o prumo, seu terreno se move, o aluno sabe mais e, sobretudo maneja melhor a linguagem da imagem do que o próprio professor. E, além disso, porque a imagem não se deixa ler com a unilateralidade de códigos que a escola aplica ao texto escrito. Diante do desmoronamento de sua autoridade perante o aluno, o professor não sabe reagir a não ser através da desautorização dos conhecimentos passados pela imagem. (MARTIN-BARBERO, 1999, p.29-30)

Preliminarmente entendemos que o termo currículo deriva-se da palavra latina Scurrere e refere-se a corrida, curso e/ou a curriculum, cuja tradução ao pé-da-letra, significa: pista de corrida, uma vez que sintetiza a idéia do que somos e o que nos tornamos, basta querer. Segundo as teorias mais modernas sobre a compreensão enfocando o currículo, verifica-se um maior privilegio sobre o por quê? do que o quê?, tendo em vista o reflexo permanente do conjunto de práticas vivenciadas na instituição escolar. De modo que o pano de fundo para qualquer teoria sobre currículo é justamente, o de saber qual conhecimento deve ser ensinado, uma vez que o currículo é em síntese o resultado da seleção teórica (inclusão) pura e simples de conteúdos, bem como da exclusão de outros de maior ou de menor complexidade ou valor didático pedagógico.

O calvinismo teve ascendência política no século XVII e assim sendo surgiu pioneiramente o conceito de currículo como sendo a seqüência estrutura ou disciplina, segundo Goodson (1995).

O termo currículo é usado dentro e fora da sala de aula de várias maneiras e com vários sentidos, conceitos ou definições. Assim sendo, para distinguir o uso desse termo ou palavra no sentido de denotar o conteúdo programático de um assunto ou da área de estudos específicos, no sentido d e se referir ao programa total das disciplinas d e uma escola de qualquer nível ou grau de ensino. De modo que o currículo é “o produto amorfo de gerações de remendões”, segundo Taba (1974).

A história das disciplinas escolares segundo a visão de diversos autores, dentre os quais podemos mencionar Chervel (1990), Herbrard (1990), Hamilton (1992), Goodson (1995 e 1999) e Júlia (2002), levando-se em consideração de que o currículo escolar na visão dos teóricos mencionados é uma construção moderna, tendo em vista a herança do movimento que tem como objetivo civilizar a chamada sociedade ocidental a começar do primado cientifico racional, conforme enfoca Souza (1998), Rocha (2000), e Viñao (1990).

Segundo Macedo (2002), enfocando o pensamento complexo de Edgar Morin, bem como o pensamento multirreferencial de Jacques Ardroino, define currículo como terreno fértil para a constituição de uma teoria educacional mais ampla, tendo em vista que permite a interação coletiva de vários sujeitos, tais como, professores e alunos, nos espaços formal e informal.

Na realidade não temos uma definição única de currículo, cada teórico tem o seu próprio conceito ou definição, de modo que Taba (1974), Macedo (2002), Saviani (2003), Silva (1999) e tantos outros teóricos, apesar de todos terem seus pontos de vista diferentes na maneira de conceituar o referido termo, por unanimidade convergem em identificar o currículo como produto da seleção cultural, onde estão inclui avaliação, organização, distribuição e conteúdos programáticos, compreendendo não apenas um conjunto de conhecimentos acadêmicos ou científicos e saberes organizados estruturalmente através de uma grade ou desenho curricular, acontecendo aí, também a ligação dos saberes e/ou conhecimentos científicos com o processo didático-pedagógico.

A tendência linear e fechada do currículo defendida pelas diretrizes e/ou trajetórias do final do século XVI, através da influência protestante calvinista, via a Holanda e a Escócia, já não tem tanto significado para a elite educacional do século XXI em sala de aula. Na realidade, o currículo deve ter seu planejamento e organização a planejamento aberto, tendo em que um currículo aberto, ético-politicamente afetado pelos acontecimentos, é um currículo que se politiza, na medida que acolhe, reflexivamente, os movimentos contraditórios do real; vive a dialogicidade e a dialeticidade da realidade, inclusive, disponibilizado a acolher o acontecimento e seu caráter desestruturante e estruturante, na organização e implementação dos saberes em articulação, onde o homem em educação continuada seria sempre a principal inquietação, segundo Macedo (2002, p. 61-62).

Dessa forma, Silva (1999), afirma que “teoria é uma representação, uma imagem, um reflexo, um signo de uma realidade que – cronologicamente, ontologicamente – a precede”. Assim sendo, por analogia, podemos afirmar de que a teoria é uma imagem, visão de mundo, segundo a razão fenomenal da de cada individuo, motivo pelo qual o currículo é algo vinculado a teoria multidimensional. Sem sombra de dúvida podemos afirmar de que o currículo é anterior a teoria, pois, serve apenas como instrumento necessário para dar uma explicação particular em cada caso e segundo o foco cronológico e social. E o mesmo teórico mencionado finaliza afirmando que “ao descrever um objeto, a teoria, de certo modo, inventa-o. o objeto que a teoria supostamente descreve é, efetivamente, um produto de sua criação”, tendo em vista a sua visão pós-estruturalista.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 08/03/2013
Código do texto: T4178423
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