A COMPREENSÃO DO MAL

Certa feita, lendo alguma coisa de autoria de John Milton (1608-1674),escritor inglês, autor do célebre livro “O Paraíso Perdido, considerado um dos mais importantes poemas da literatura universal; anotei e resumi um breve excerto seu que diz que o bem e o mal crescem juntos, quase inseparavelmente a ponto do conhecimento do bem estar tão envolvido e entretecido com o conhecimento do mal, e em tantas astuciosas semelhanças, que é tão difícil discernir um do outro porque ambos se parecem como dois gêmeos. E talvez a perdição em que caiu Adão foi a de conhecer o bem e o mal, isto é, de conhecer o bem pelo mal. Portanto, no estado em que hoje se encontra o homem, – diz ele – que sabedoria pode haver para escolher, que continência para se abster, sem o conhecimento do mal?

Assim, aquele que é capaz de apreender e considerar o vício, com todas as suas iscas e seus aparentes prazeres, e mesmo se abster, e mesmo assim discernir, e mesmo assim preferir aquilo que é verdadeiramente melhor, esse verdadeiramente teve a compreensão do mal.

Embora no sentido a que se refere John Milton, eles sejam parecidos, forçoso reconhecer, contudo, que o bem e o mal se transmudam em lições da vida. Uns aprendem pelo amor, que é o bem maior. Outros, no entanto, só aprendem pelo mal, sofrendo pela dor do erro. Para estes últimos, se eles não cometessem erro algum, não teriam meios de aprender.

Mas, entre um e outro, nenhum é maior do que outro porque é através de ambos que todos nós aprendemos.

Na verdade, enquanto ainda neste plano terrestre, todos ainda erramos. Uns mais, outros menos. E nem todos vivemos, nesse mundo conturbado e cheio de correrias e desafios, o tempo todo na plenitude do amor verdadeiro, e, por isso, ainda erramos; e por isso recebemos, através do mal praticado, a oportunidade de corrigir o mal e procurar errar menos, deixando de fazer o mal aos outros e a nós mesmos. Na realidade, o mestre da vida nos ensinou que o mal que fazemos a outrem reflete em nós mesmos em forma de epidemia da alma.

Por certo, ninguém conseguiria, então, viver absolutamente sem erros, num mundo sem o mal porque o mal, na realidade, é apenas a ausência do bem.

Em sendo assim, todo o mal existente no mundo seria apenas a ausência do bem. E, de acordo com antiga tradição, o homem deveria levar uma vida de bem contínuo, positivo, a fim de que pudesse manter-se constantemente harmonizado com o bem que existe por todo o universo.

As tribulações e os males que nos advém quase sempre trazem ínsitas lições que precisamos aprender, daí a importância da sua compreensão.

O pior cego é aquele que não quer ver. Muitos dizem que não tem nenhum problema na vida, mas a alma manifesta no corpo a sua desarmonia em forma de doenças e de todo tipo de perturbações, e a pessoa, mesmo assim, ainda diz que não tem nenhum tipo de problemas. Melhor que visse e reconhecesse que o mal que passa, mesmo que momentâneo, quer lhe dizer algo.

Não aprender lição alguma é viver inutilmente, sem nenhum proveito e sem nenhuma sabedoria.

Assim, somente compreendendo o mal é que um dia passaremos a fazer só o bem.

E, por que fazer o bem?

Porque o bem é a ausência do mal .

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