O Peso dos Professores e das Disciplinas devem ser todos iguais

O Peso dos Professores e das Disciplinas devem ser todos iguais

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Sou professor há mais de 35 anos e tenho sido muito homenageado por meus alunos ao longo desses anos. Penso que isso me credencia, ou se não credencia, pelo menos me mantem no direito de emitir uma opinião sobre a postura de alguns colegas professores, na hora de avaliar definitivamente os seus respectivos alunos, seus colegas de profissão, suas disciplinas específicas e em última análise a si mesmos. Acredito que falta bom senso e de um pouco mais de humildade em alguns colegas professores, os quais não só agem incoerentemente, como aparentemente se sentem numa posição muito acima aos demais professores das outras disciplinas, pois realmente assumem uma postura de superioridade como se fossem os “reis da cocada preta” e atuam como se avaliar pessoas não fosse algo extremamente complexo.

Aliás, esses professores interagem como se as demais coisas e pessoas que atuam no processo educacional, principalmente os seus alunos e os demais professores, não existissem e assim não seriam importantes nos seus respectivos processos de avaliação. A avaliação é um problema exclusivamente deles e só a eles cabe o direito sagrado de avaliar e decidir sobre a condição do aproveitamento de seus alunos e nem mesmo esses alunos (vítimas ou réus no processo), têm o direito de questionar os seus respectivos veredictos. Esses professores manifestam um absolutismo tal, que chegaria a causar inveja ao próprio Hitler ou mesmo a envergonhar alguns tiranos e ditadores de tão indubitável e seguro. Desculpem-me pelo aparente exagero, mas essas figuras ainda existem e estão presas a valores passados, mas que ainda são muito fortes no ranço de determinadas escolas e de alguns setores escolares.

No passado, mormente quando eu ainda estava cursando o antigo curso primário (Ensino Fundamental), portanto há cerca de 50 anos atrás, por muitas vezes ouvi alguns professores dizerem que “Português e Matemática eram as disciplinas mais importantes dos conteúdos escolares”. Mas é claro que hoje, a maioria de nós educadores, sabemos que isso é uma falácia, que além de antiga, é ilógica e principalmente inverídica. Esse tipo de afirmativa pode ter feito algum sentido no passado distante, mas hoje em dia, apesar de ainda existirem alguns defensores de argumentos desse tipo, cada vez mais isso se desmistifica e assume a condição de mera tolice.

Embora, algumas vezes, a gente ainda ouça aquelas coisas assim: “mas o fulano passou em tudo até mesmo em Matemática e Português, como é que pode ter ficado só em Biologia?” Como se Biologia fosse menos importante do que Matemática e Português. Na verdade, hoje nós professores temos (ou deveríamos ter) consciência de que não existe disciplina mais ou menos importante, pois todas são igualmente importantes e necessárias na formação do indivíduo em qualquer nível de ensino e mais particularmente no Ensino Médio, o qual por definição deve procurar ser o mais eclético e abrangente possível, buscando dar todos os horizontes e dimensões disponíveis para ampliar a visão do educando.

Por outro lado, é claro que a capacidade de recepção, isto é, a resposta dada pelos alunos às diferentes disciplinas é muito diversificada e assim nem sempre é a mesma. Aliás, a diversidade de respostas é de tal dimensão que quase nunca é a mesma. Alguns alunos têm notoriamente maior facilidade de entendimento e habilidade com algumas disciplinas e maior dificuldade e mesmo interesse pessoal com outras. É preciso que fique claro na cabeça de todos os professores que essa é a regra e não a exceção e que esse é um fato natural, independente da vontade e do desejo pessoal do professor e também do amor que ele tenha por sua própria disciplina. Pois então, é nessa mesma diversidade natural de interesses, habilidades, facilidades e saberes que se desenvolve a capacidade cognitiva e o conhecimento efetivo de cada aluno, que produzem a formação final do indivíduo como pessoa educada e como cidadão inserido na sociedade.

Pois bem, esses fatos aqui citados me parecem apresentar um modelo mínimo e sensato de razoabilidade que se espera no processo pedagógico educacional e que resulta na capacitação intelectual final do indivíduo aluno e da sua percepção de discrepâncias e da sua condição de discernimento entre elas, as quais são características fundamentais na identidade e na personalidade da pessoa humana na sociedade. Quaisquer que sejam os professores e quaisquer que sejam suas disciplinas específicas, eles deverão estar cientes desses fatos e por menos que possam concordar, eles devem considerar esses aspectos como premissas fundamentais na avaliação do aluno. A escola hoje é democrática e assim, todas as disciplinas são iguais, todas as pessoas envolvidas na educação e na formação dos alunos devem atuar ativamente no processo de avaliação escolar e todas têm o mesmo nível de poder.

Todos nós, seres humanos, de uma maneira ou de outra, fomos intelectualmente “produzidos” (formados e desenvolvidos) dentro de um padrão geral educacional único, independentemente dos locais por onde tenhamos passado e das demais pessoas com quem tenhamos vivido e aprendido. Ou seja, o processo que nos moldou foi e continua sendo quase sempre o mesmo, embora a metodologia específica aplicada possa ser oriunda de locais e pessoas distintas. Assim, o “produto final”, isto é, o “homem educado”, embora nunca seja o mesmo indivíduo, sempre será bastante parecido, qualquer que seja a pessoa humana em questão. Em suma, o processo que nos organiza e compõe como seres sociais e intelectualmente ativos na sociedade é bastante similar, embora possam haver nuances metodológicas distintas, os objetivos a serem alcançados são os mesmos e assim os resultados finais são praticamente idênticos.

Por outro lado, como Biólogo, posso garantir que não existem biologicamente seres humanos iguais, mesmo sabendo como professor que seguramente o processo de desenvolvimento educacional dos indivíduos dentro da sociedade humana, que os leva a formação sociológica como pessoas é praticamente o mesmo em todos os grupos sociais humanos. Se minha premissa for verdadeira, então, somos diferentes na Biologia (Genética), mas somos, ou deveríamos ser iguais (muito parecidos), na Sociologia, ou pelo menos na nossa vivência social. Desta maneira, se não tivermos uma base comportamental oriunda da Genética muito diferente e certamente não temos, então não podemos desenvolver comportamentos genéricos muito diferentes, apesar das diferentes culturas desenvolvidas e adquiridas pelos grupos sociais humanos.

Desta maneira, somos o resultado comportamental de nossa Genética e de nossas vivências sociais como aprendizes de seres humanos. Por outro lado, por termos sido moldados de maneira semelhante aos nossos mestres, acabamos por sermos “produzidos” como cópias genéricas deles. Quer dizer, do ponto de vista do comportamento social, cada pessoa humana é, além da Genética, a somatória intelectual de outras pessoas produzidas da mesma maneira que ela. Assim, do ponto de visto do comportamento, por mais diferentes que possamos ser, de fato, somos sempre muito semelhantes, porque somos oriundos do mesmo padrão de formação. Historicamente, há, em última análise, um conservadorismo muito grande no processo de socialização do indivíduo humano e eu particularmente suspeito que isso tenha um significativo valor de sobrevivência para nossa espécie.

Mas, ainda assim, alguns de nós têm insistido em querer se manifestar como pessoas diferentes e fora do padrão humano. Aliás, essas pessoas não querem apenas ser diferentes. Esses humanos de comportamento estranho querem ser efetivamente anômalos e entendem que estão acima (ou abaixo) do bem e do mal e pensam que aquilo que se propõem a fazer certamente deve ser a coisa mais importante do mundo. Infelizmente, algumas pessoas têm o dom de achar que o mundo se resume a elas ou ao interesse delas. Assim, as coisas mais importantes para essas pessoas, passam a ter que ser também as coisas mais importantes para todas as outras pessoas do planeta. Aqueles indivíduos e atores sociais que estão mais próximos dessas pessoas são os que mais sofrem com essa psicose acentuada que elas apresentam. Algumas vezes essa psicose se acentua a tal ponto que passa a ser uma doença comportamental grave ou gera uma esquizofrenia profunda e irreversível. A pior situação acontece quando um desses indivíduos por acaso é um professor e aí, coitados dos seus alunos.

Na verdade, todos nós, seres humanos, em certo sentido, temos um pouco dessa anomalia e agimos um pouco assim, até por questões naturais de autodefesa, o que é compreensível e em certo sentido até benéfico para nós. Entretanto, a maioria de nós também deveria lembrar que hoje existem mais de 7 (sete) bilhões de pessoas no planeta, além de cada um de nós e que esse contingente populacional cresce assustadoramente. Essa população planetária imensa, como já foi dito, é constituída por pessoas diferentes, mas que são formadas no mesmo padrão, sendo por isso mesmo são muito conservadoras, mas que têm interesses diversos e obviamente atribuem graus de importância qualitativa e quantitativa variados em relação às coisas, por conta de condições diversas e fatores culturais próprios.

Em suma, nós humanos, prioritariamente nós professores, precisamos entender de uma vez por todas, que naquilo que diz respeito às pessoas como indivíduos e suas respectivas vontades, tudo (absolutamente tudo) é possível, independentemente do que pensa o restante da sociedade e por isso mesmo devemos aceitar essa diversidade como algo inato aos seres humanos, principalmente quando os humanos em questão são os nossos alunos. O respeito às pessoas e às suas diferenças individuais tem que ser prioridade nas atividades e nas entidades sociais humanas, mormente nas escolas, onde se busca formar o “homem educado”.

Enfim, profissionalmente falando, o professor deveria ser um humano que fizesse exceção óbvia a essa idéia de querer ser superior aos demais humanos. O professor, aquele indivíduo que trabalha exatamente com a diversidade humana, não deveria procurar estar acima dessa diversidade e deveria começar desconsiderando qualquer tipo de preconceito. Além disso, ele deveria ser capaz de tentar minimizar e, se possível, desmistificar essa situação comportamental conflitante. Mas, infelizmente, nem sempre é assim. Continuam existindo professores que acham e por isso mesmo querem e alguns até exigem, que seus alunos sejam semelhantes entre si e mais, que os alunos reproduzam exatamente aquilo que esses professores querem. Isto é, esses professores atribuem um grau muito alto de valor às suas respectivas pessoas e por extensão às suas respectivas disciplinas. Quer dizer, além de reforçar o erro, falta modéstia e humildade a esses professores para ensinar aos seus respectivos alunos e assim contribuir com a melhoria da sociedade humana.

Aliás, quero crer que esses professores não devam ensinar, até porque o ensinamento é um processo de compreensão mútua que envolve dois lados que precisam chegar ao mesmo nível de entendimento, ainda que até em tempos diferentes. Na verdade, esses professores que se acham “os donos da bola” e querem continuar sendo assim, não são educadores, embora até possam tentar ser instrutores e até mesmo domadores de outras pessoas. Nas aulas desses professores não há participação, não há democracia, não há troca com seus alunos e assim, não pode haver ensinamento e nem aprendizagem. Desta maneira, só pode haver treinamento e adestramento e embora até possam ser desenvolvidas algumas coisas no que refere à aprendizagem, na verdade, não se desenvolve o intelecto humano que é aquilo que gera a liberdade individual e que se desmembra em criatividade e evolução cognitiva, que são os objetivos maiores e que, na minha maneira pessoal de entender, constituem o cerne da educação da pessoa humana.

Em última análise, esses professores, talvez nem devam ser chamados de professores e muito menos de educadores, porque não fazem educação e não produzem avanço na condição cognitiva dos seus respectivos alunos. As características de ser igual, de ser humilde e de ser participativo são fundamentais aos professores e, a meu ver, sem elas não pode haver o exercício do magistério. Como esses professores não possuem e nem utilizam tais características, eles não se enquadram na condição mínima para serem considerados professores.

Precisamos banir de nossas escolas aqueles professores que ainda pensam de maneira retrógrada e que se intitulam “os gênios do saber, os pais da matéria mais difícil e mais importante”. Nosso pensamento como educadores deve ser proativo e deve projetar a melhoria do conhecimento da humanidade. Esse pensamento básico deve buscar a formação de novos homens, com novos ideais e novas visões. A minha verdade como professor deve ser buscar que o meu aluno venha a ser melhor do que eu possa ter sido, porque só assim haverá progresso educacional e esta é a verdadeira necessidade da sociedade humana. Se não for assim não haverá evolução no processo educacional e não caminharemos na direção da liberdade.

Alguém já disse que o conhecimento é a única e verdadeira forma de liberdade, então se eu limito o conhecimento de qualquer ser humano com quem convivo àquilo que eu sei ou àquilo que já está estabelecido, eu estou cerceando a liberdade das demais pessoas a minha volta. No que diz respeito à educação, não progredir é necessariamente sinônimo de regredir, porque o conhecimento se faz sobre o conhecimento pré-existente e quando o conhecimento estaciona toda a sociedade anda para trás e se priva da possibilidade de liberdade maior.

Colegas professores, por favor, pensem nisso, façam uma reflexão profunda sobre esta questão e me digam se estou certo ou errado. Eu sei que é difícil mudar de comportamento, principalmente quando se está habituado a determinados modelos e condições “didáticas” e “pedagógicas”, mas se você chegar à conclusão de que eu possa estar certo no meu pensamento e que você se enquadra nesse padrão que precisa ser mudado, então faça a sua tentativa de mudança. Penso que se houver pelo menos a possibilidade de investir na tentativa de fazer diferente essa deverá ser efetuada e creio mesmo que só com isso já estará havendo algum progresso, porque o aluno perceberá e isso certamente será bastante benéfico ao processo educacional. Se você achar que eu estou louco e devo ser internado, peço, desde já, que me desculpe por sonhar uma educação melhor, por chamar a atenção para a doença que está aí, por colocar o dedo na ferida e pedir uma colaboração maior dos meus colegas, professores como eu.

Mas, se existe uma coisa que eu tenho certeza é que a escola tem que crescer independentemente de mim e daquilo que eu penso e espero que você também pense assim a esse respeito, porque a educação precisa disso e com certeza a educação é maior que a escola e que todos nós juntos. A Educação desse país está carente de valores e precisa de um choque profundo para voltar aos trilhos. O que estou propondo, obviamente não é solução do problema, o qual é grave e muito enraizado em outras questões, e talvez nem seja uma das únicas alternativas, mas certamente melhorará o processo educacional, minimizará conflitos e assim trará bons resultados à Educação como um todo. A regra futura deve ser objetivar sempre em crescer a Educação, porque só assim estaremos agindo no interesse de uma sociedade humana planetária cada vez melhor, mais igual e mais justa.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (56) é Biólogo, Professor, Escritor e Ambientalista