EDUCAÇÃO E DISCIPLINA: ESTRATÉGIAS E CONFLITOS

EDUCAÇÃO E DISCIPLINA: ESTRATÉGIAS E CONFLITOS

jairesba@yahoo.com.br

Educação e disciplina – Como unificar dois processos tão bilaterais? Que significado pode ter estas palavras, quando se pensa nelas sob o ponto de vista do discente e não do docente? O que significa falar em disciplina numa sociedade indisciplinada? Educação e disciplina - Que pontos homogêneos e heterogêneos pode existir entre estes dois processos? Na realidade, sempre tive dificuldades em relacionar a educação à indisciplina, porque como educadora, penso como Freire, isto, é penso na educação como um elemento necessário para se adquirir a autonomia e a liberdade. Partindo desta concepção, é que passo a questionar acerca da relação que pode existir entre a educação e a disciplina. Onde está o problema, afinal? No professor? Ou no aluno? Penso que a disciplina na escola deveria ser aplicada como uma ação inovadora, cuja finalidade seria a de conscientizar o aluno para o exercícioda cidadania pela busca da autonomia .

Para Ivan Farias, professor da Universidade Federal da Bahia-UFBA, a indisciplina tem algo a ver com corrupção, violência social e preconceito. A sociedade é indisciplinada, competitiva e violenta, de forma que as escolas e as famílias sofrem com a violência social. A escola, principalmente, convive com os sintomas da violência que as crianças, os adolescentes e os jovens são submetidos.

Uma evidência disso, são os alunos vistos como indisciplinados na escola. E quem são estes alunos, senão os pobres, os filhos e as filhas das classes populares? Ademais, eles também são vistos como indisciplinados pela mídia. Na escola, com frequência deixamos nos contaminar pelo preconceito que nos transmite um olhar negativo, que vê as pessoas do povo como incivilizadas, incultas e sem valores. Fazemos parte de uma sociedade elitista, que supervaloriza o belo, o branco, o rico, como características primordiais do ser humano.

Como educadora que sou, numa sociedade como esta, convivo diariamente com diversos conflitos no dia a dia da sala de aula. Entretanto e entre tantos elementos conflitantes, pensei em ressaltar alguns, que considero mais preocupantes, entre estes; o preconceito racial e as dificuldades de aprendizagem de alguns alunos.

Acredito que a marca do preconceito racial é a ignorância com requintes de arrogância. Não se conhece muito de cor, nem de origem e imaginam que o natural é ser branco. Contudo, não se pode dizer que aqui no Brasil, ser branco entra no critério de média. Agora, imagine, uma criança brasileira de pele mais escura do que a maioria do grupo, numa sala de aula em que a maioria dos alunos não é branca, mas é racista. Essa criança passa a sentir os efeitos do preconceito através da própria atitude dos colegas em relação a eles. O grupo isola totalmente o colega de seu meio social. Esse sentimento de rejeição certamente pode abalar as estruturas psicológicas da criança, porque prejudica sua autoestima e consequentemente sua aprendizagem.

Qual deveria ser então, o papel do professor nesse sentido? Penso que o primeiro passo seria ele mesmo, o professor, aprender a lidar com o diferente e incentivar o respeito às diferenças na turma. Para o professor Ivan Farias(2005), numa situação como esta, seria interessante se trabalhar a cor da pele, o corpo humano, que seria no caso, um critério estrutural funcional.

Por outro lado, trabalhar a questão cultural, a miscigenação também seria uma proposta interessante. Todos nós somos brancos, e somos negros e somos índios. Isto deveria ser algo transparente para o aluno, que está se preparando para o exercício da cidadania e que precisa alcançar sua autonomia livre de qualquer tipo de manipulação mental. O problema está na forma como o ser humano enxerga o outro ser humano, portanto, acredito na relevância de um trabalho pautado para a higiene mental.

O preconceito da maioria da turma por um ou mais alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem é outro conflito persistente e comum, que o professor enfrenta diariamente na escola. Como educadora, tenho testemunhado a dimensão de um problema tão amplo como este. No entanto, percebo a necessidade e sei que é possível traçar caminhos seguros para descobrir em que medidas as dificuldades de um aluno são ou não são decorrentes da atitude do professor em relação a ele.

Desta forma, a primeira coisa que o professor deve fazer é a avaliar seus preconceitos e adotar uma postura diferente. A escola, às vezes estimula a competitividade de tal forma, que quando a turma observa a atitude discriminatória do professor em relação ao aluno com problemas de aprendizagem, passa a ridicularizar o colega com dificuldades.

Em outras palavras o professor pode ser responsável por um dos principais focos de indisciplina na sala de aula. Portanto, um passo fundamental seria o professor analisar a porcentagem da classe que considera ter problemas de aprendizagem e proporcionar oportunidades iguais de crescimento para todos os alunos, mas observando as necessidades individuais e acreditando no potencial de crianças, adolescentes e jovens.

Se olharmos a nossa volta iremos perceber que as diferenças estão em toda parte, ou seja, em tudo e em todos: nos nossos alunos; nas formas de ensinar; na pluralidade cultural; nas condições sócias. Afinal, são tantas as diferenças, que nem sequer em sonho seríamos capazes de dimensioná-las, entretanto, se persistirmos, poderemos tentar, superá-las.

Jaíres José Batista, aluna do curso de Licenciatura em Pedagogia, UFBA/ Irecê, ciclo quatro, em referência ao tema: Educação e Disciplina. Professor Ivan Farias.

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

FARIAS, Ivan. Educação e Disciplina. Irecê. 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. ed.23. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1999.

 

Jayasmim
Enviado por Jayasmim em 22/06/2013
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