Ser treinador

Ser Treinador

Quando desenvolvemos uma atividade com jovens, temos que ser adultos significativos para eles. Nós adultos significativos, (treinadores) temos a oportunidade de auxiliá-los perante aquilo em que são mais vulneráveis, que é a competitividade precoce. Isto é, os treinadores, devem desenvolver o treinamento sob a perspectiva de fomentar auto percepções positivas e a auto aceitação nos competidores, de possíveis sucessos ou fracassos, não deixando que ele pense que já está pronto e que já é um campeão e nem que é um fracassado em sua missão. É preciso desenvolver no competidor a busca da perfeição, mas sabendo você que a perfeição em uma competição de alto nível é algo quase inatingível. Desta forma, nós adultos significativos temos que ter em mente que somos os responsáveis diretos pelo desenvolvimento do caráter profissional destes jovens.

Idealizando a figura do treinador neste contexto, não se pode pensar que ele circunda, unicamente, sob a perspectiva metodológica do treino. Ser treinador é muito mais do que isso! Implica ter conhecimentos acerca do desenvolvimento da pessoa, compreender suas emoções e cognições. É saber que os jovens que dirigimos e auxiliamos nos veem como um modelo social a seguir e a respeitar.

Um mau delineamento dos desígnios pedagógicos e didáticos no treino pode causar graves danos ao futuro destes jovens, pois como já foi dito o treinador é figura principal no seu processo de formação. A sua má conduta leva ao decréscimo da confiança e da motivação. Não existe uma formula pronta para realização de um treinamento, não é uma receita de bolo com todos os ingredientes pré-estabelecidos. Quando trabalhamos com pessoas, precisamos nos provir de sensibilidades, para percebermos os mínimos detalhes de nosso treinando como, por exemplo, o comportamento, habilidades, zelo, e principalmente autocrítica além do autocontrole sobre suas ações diante das várias situações a que é submetido. Cada pessoa reage de uma forma diferente frente aos desafios. Mas uma coisa é certa, as pessoas sempre produzirão mais e melhor quando o que fizer lhe trouxer algum prazer ou beneficio.

Geralmente, os treinadores querem fazer bons trabalhos, isto é, desenvolver talentos, aperfeiçoando capacidades intelectuais e técnicas.

Os jovens, por sua vez, de uma forma geral querem ser bem sucedidos na atividade que escolheram para suas vidas. Se regredirmos à nossa adolescência, e colocarmo-nos na posição deles, facilmente nos lembraremos dos nossos sonhos de glória, como por exemplo, fazer o gol no ultimo minuto do segundo tempo de uma partida de decisão do futebol. Lembramo-nos de cada movimento, do remate, da execução que anteriormente realizamos em um treino.

Treinar nada mais é do que repetir varias vezes a mesma operação na busca pela perfeição nesta execução. E para isto será necessário fazer com que o aluno memorize cada passo da prova, cada detalhe deve ser cuidado como se fosse o único ponto de avaliação. Todavia não podemos nos esquecer de que isto se torna desgastante. Treinar a mesma coisa várias vezes pode tornar o processo mecanizado, e isto pode leva-lo ao erro devido a uma alteração de projeto, ou um imprevisto no processo de execução. Se isto ocorre poderá deixa-lo sem ação para conclusão da atividade proposta.

Um bom competidor será sempre aquele que for bem treinado, capaz de visualizar o produto acabado ao ler o projeto. Os processos deverão estar bem claros em sua mente. Precisamos condicionar nossos educandos a ponto de que ele seja capaz de descrever o passo a passo das operações mentalmente. As operações podem ser mecanizadas, os processos não. Pois podemos ter o mesmo processo com operações diferentes. E isto conseguimos através da repetição das operações, mas também por meio de estímulos, pois todo animal e isto inclui os seres humanos gostam e precisam ser estimulados para produzirem e dar respostas as atividades propostas.

Um dos maiores estudiosos do comportamento, Skinner, eminente psicólogo contemporâneo, em 1932, na universidade de Harvard relatou em uma de suas observações, sobre o comportamento realizada com animais inferiores, principalmente o rato branco e o pombo. Skinner criou um dispositivo para este experimento e o nomeou de "caixa de Skinner". O aparelho é adequado para estudo animal, e funciona basicamente assim: um animal é colocado dentro de uma caixa fechada que contém apenas uma alavanca e um fornecedor de alimento. Quando o animal aperta a alavanca sob as condições estabelecidas pelo experimentador, uma bolinha de alimento cai na tigela de comida, recompensando assim o animal. O animal percebe então que se tocar a alavanca recebe alimento, então ele começa a fazer isto de forma repetitiva, pois a recompensa lhe dá prazer. Após o animal ter fornecido essa resposta o experimentador pode colocar o comportamento do animal sob o controle de uma variedade de condições de estímulo. Por exemplo energizar a alavanca o que modificará a resposta do animal, que deixará de tocar a alavanca mesmo estando com fome. Além disso, o comportamento pode ser gradualmente modificado ou modelado até aparecerem novas repostas que ordinariamente não fazem parte do repertório comportamental do animal. O êxito nesses reforços levou Skinner a acreditar que as leis de aprendizagem se aplicam a todos os organismos. O que é comum ao homem, a pombos, e a ratos é um mundo no qual prevalecem certas contingências de reforço. Outro estudioso do comportamento, foi Pavlov. Para ele a situação de condicionamento de um estímulo conhecido é parado com outro estímulo sob condições de reforço. A resposta comportamental é eliciada por um estímulo observável e Skinner chamou-a de comportamento respondente.

Para melhor entendimento do que foi relatado vamos as duas condições.

1- condicionamento respondente - "reflexo" ou "involuntário" Skinner acredita que essa espécie de condicionamento desempenha pequeno papel na maior parte do comportamento do ser humano e se interessa pouco por ele.

Ex: dilatação e contração da pupila dos olhos em contato com a mudança da iluminação, arrepios por causa de ar frio.

2- condicionamento operante - está relacionado com o comportamento operante que podemos considerar como "voluntário". O comportamento operante inclui todas as coisas que fazemos e que tem efeito sobre nosso mundo exterior ou operam nele. Ex: dirigir o carro, dar uma tacada na bola de golfe. Enquanto que o comportamento respondeste é controlado por um estímulo precedente, o comportamento operante é controlado por suas consequências - estímulos que se seguem à resposta, por meio de reforços que podem ser positivos ou negativos.

Reforço positivo é a apresentação de um estimulo agradável após um comportamento desejado aumentando a frequência do comportamento; por exemplo, se o pombo tocar a campainha recebe alimento suplementar.

Caso o aluno faça bem um modulo da prova ou um processo tira uma boa nota. Recebe um elogio.

Reforço negativo nada mais é a remoção (negativo) de um evento desagradável após o comportamento desejado; isso fica explicado nos exemplos: Se o aluno acertar a atividade proposta não terá que repetir novamente o processo, ou se o doente tomar os comprimidos deixará de sentir dores.

É nestes estudos que baseio meu artigo, porém no caso de nossa competição o tempo é nosso inimigo, e precisamos lutar contra ele. Para não ter que aprender apenas pelos estímulos, o que levaria muito tempo, nós treinadores devemos realizar no inicio dos treinamentos demonstração dialogada do que o competidor não sabe e induzi-lo a praticar. O aluno passa grande parte do seu dia fazendo coisas que não gosta fazer, ou que deixou de gostar pelo excesso de repetição e consequentemente não fará bem feito, e para as quais não há reforços, mas mesmo assim ele as realiza porque sabe que para se chegar a um produto precisa passar pelos processos, e muitas vezes faz o que tem a fazer porque o professor quer que ele faça. Muitos professores pensam que detém o poder e autoridade sobre o aluno, porém esta autoridade pode causar aversão do educando as atividades propostas e com o tempo o aluno começa se desinteressar a fugir das atividades, começa chegar atrasado, a faltar, ou ainda aumentar o déficit de atenção (desprezando assim os reforçadores do professor), além de esquecer o que aprendeu. As pessoas aprendem sem ser ensinadas diz Skinner quando estão naturalmente interessadas em algumas atividades. Por esta razão, alguns educadores preconizam o emprego do método de descoberta. Mas diz Skinner, descoberta não é solução para o problema. Não se pode acreditar que os alunos são autodidatas, pois para ser forte uma cultura precisa transmitir-se, dar as outras pessoas seu acúmulo de conhecimento, aptidões e práticas. O treinador deve ser preparado para encorajar o aluno a explorar, a fazer perguntas a trabalhar e estudar independentemente para serem criativos, mas isto não os leva sozinhos ao conhecimento, não se pode dizer que um bom competidor é aquele que aprende por si mesmo. O aluno aprende fazer fazendo, porém não aprendem simplesmente fazendo. Nem aprendem simplesmente por exercício ou prática. É preciso as vezes parar para conversar e refletir sobre uma determinada situação que não está dando o resultado esperado. Muitas vezes temos que repetir uma operação exaustivamente sem se preocupar com o produto final, ou seja trabalhar a parte para conseguir um bom resultado no todo. Nesta fase do treinamento a intervenção do treinador deve acontecer de forma sistemática para auxilia-lo na melhoria desta operação. A partir apenas de suas experiência, um competidor provavelmente nada conseguirá. Simplesmente está em contato com o ambiente não significa que ele o perceberá e encontrará a solução. Em suas vidas cotidianas, eles se comportam e aprendem por causa das consequências de seus atos. Desta forma a primeira tarefa é modelar as respostas, mas a tarefa principal é colocar o comportamento sob numerosas espécies de controle de estímulo. Para tornar o competidor competente em qualquer nível de operações da atividade, deve-se dividir tarefa em passos pequenos. Os reforços devem ser contingentes a cada passo da conclusão satisfatória, pois os resultados ocorrem frequentemente, quando cada passo sucessivo no esquema, for o menor possível. A mais conhecida aplicação educacional do trabalho de Skinner é sem dúvida instrução programada. A instrução programada leva o aluno a estudar sem a intervenção direta do professor. As características deste método são: A matéria a ser aprendida é apresentada em pequenas partes; estas são seguidas de uma atividade cujo acerto ou erro é imediatamente verificado. O estudo é individual, "mas auxiliado pelo professor", sendo assim o aluno progride em sua própria velocidade. Em síntese, a instrução programada leva o aluno ao conhecimento e ao aprendizado. A utilização do reforço positivo apresenta-se como fundamental neste processo de ensino. No ensino aprendizagem a utilização da realimentação positiva por parte dos treinadores resulta no incremento da motivação, autoestima e do desenvolvimento de tarefas cada vez melhores. Neste contexto os treinadores precisam ser proativos criando situações que desenvolvam a tomada de decisão do aluno, para que em uma competição ele consiga sobressair de situações adversas. No treinamento, o treinador deve realizar intervenções para correção de erros, no entanto estas intervenções não devem ser contínuas tendo que alternar entre a instrução técnica corretiva e reforço positivo (contingente a uma boa execução) se a instrução acontece de forma contínua, a mensagem enviada pelo treinador, vai gradualmente, deixando de ter relevância, e o competidor passa a não mais dar atenção nas informações passadas.

Nós treinadores precisamos ter sensibilidade e comportamentos perceptivos para lidarmos com esta diversidade de comportamentos e aptidões de nossos alunos. Cada um deve ser tratado como único, não podemos e não devemos comprara-los, com outros competidores, pois cada um a sua maneira terá o mesmo potencial para se tornar um grande competidor, cabe a nós descobrirmos a melhor forma de lidar com suas dificuldades.

Por Mateus Mariano

Mateus Mariano
Enviado por Mateus Mariano em 06/05/2014
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